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Evolução criativa

Armando Correa de Siqueira Neto

Psicólogo e professor

O constante desequilíbrio advindo do confronto entre a Biologia e o meio ambiente é a mola que impulsiona a continuidade e o aperfeiçoamento das espécies sobre o planeta Terra. A aparente estabilidade que encobre as lentas modificações sofridas desde a existência da primeira célula primitiva é apenas uma ilusão acerca do equilíbrio tão amplamente desejado pelo ser humano, que sempre almejou se sentir seguro ante o caos que verdadeiramente é a vida, das transformações geológicas às mutações genéticas impostas pelo tempo e a sobrevivência biológica. Contudo, mesmo que tal véu tente encobrir a realidade por meio do autoengano, nada detém a essencial marcha da vida, que é capaz de proporcionar novos caminhos a cada obstáculo que surge na vasta caminhada evolutiva.

E é justamente em razão de cada conflito que se impõe a superação criativa e a vital adaptação, cuja informação genética é transmitida à geração seguinte – como no caso dos seres humanos, por exemplo. Não é à toa que se diz popularmente que a necessidade é a mãe da invenção. Quando o avanço é crucial e é preciso deixar para trás algo de que não se precisa mais, portas desconhecidas se abrem a novos acessos.

Assim, um fator determinante nesse cenário de modificações voltadas à sobrevivência é a aprendizagem, que permite a aquisição de novos saberes relacionados às maneiras de lidar com o mundo em constante mudança. Aprender relaciona-se à ampliação das capacidades inteligentes presentes no homem, levando-o a extrair mais recursos de si mesmo. A cada nova aprendizagem, nova desestabilização surge, rompendo com o equilíbrio temporário. Por sorte, pois é por meio de tal inconstância que se obtêm novas e cruciais respostas que pretendem responder às frequentes questões do desenvolvimento. Então, quanto mais se aprende e se mergulha no mar da sabedoria tanto melhores serão as chances de encontrar abundantes recursos em si mesmo a fim de transpor cada barreira que inevitavelmente surgirá ao longo da vida.

Aprender, contudo, requer do aprendiz constantes doses de vontade e espírito persistente na aquisição do saber. Mas é facilmente percebido que, no atual estágio evolutivo em que nos encontramos, somos presas fáceis da cegueira e da acomodação, levando-nos, convenientemente, ao descrédito relacionado ao conhecimento – fugimos dos livros, da reflexão e da criação – e à conformação com o próprio estado notadamente atrasado. Queixamo-nos consideravelmente de tal marasmo e retardo, mas bem pouco empreendemos em nós mesmos as mudanças criativas que certamente podem auxiliar na virada da mesa das nossas próprias inquietudes. Tememos as mudanças sem entender que nelas residem as auroras do avanço e da sobrevivência. Desejamos o sossego em demasia sem nos darmos conta de que a sua serventia é temporária, e não permanente. Despercebidamente, lutamos contra nós mesmos. Vê-se nisso o desgastante embate que o ser humano trava consigo mesmo no escuro proporcionado pela falta de conhecimento?

Evoluir criativamente, portanto, diz respeito (e muito!) ao envolvimento que se tem com o saber e à prática do pensamento reflexivo, cujos resultados, via de regra, são ideias inteligentes que procuram substituir velhos recursos por novos, à medida que as transformações fazem-se imperiosas para o nosso aperfeiçoamento e a vital continuidade.

Publicado em 31 de julho de 2012

Publicado em 31 de julho de 2012

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