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Esqueci a senha!

Tatiana Serra

Noutro dia, como de costume, fui pagar algumas contas pela internet e esse simples ato me fez pensar em algo contraditório: o que nos é oferecido para facilitar nosso cotidiano também pode causar certo aborrecimento e, às vezes, maior desgaste do que ficar na fila do banco. Para isso acontecer, basta que você esqueça uma daquelas tantas senhas exigidas para que tenha maior segurança ao utilizar os serviços via web.

É provável que isso já tenha lhe ocorrido; do contrário, você faz parte daquele invejável grupo capaz de criar e decorar diferentes códigos, mesclando letras e números que nunca, jamais se repetem... Sendo assim, bem-vindo ao grupo dos “exímios memorizadores de senha”.

Mas se você é daqueles que, mesmo anotando todas as senhas em algum lugar secreto, é capaz de esquecer onde elas estão; ou melhor, se você prefere ser prevenido, criando uma senha para abrir o arquivo onde estão guardados seus mais importantes códigos, xiiiiii... O problema é quando você esquece essa tal senha e lá se foram as outras também. Desse modo, bem-vindo ao grupo dos “exímios esquecedores de senha”.

No texto Você trouxe a senha?, o colunista da revista Veja Sérgio Rodrigues diz que a modalidade específica de mensagem cifrada foi mencionada pela primeira vez pelo grego Heródoto, o chamado “pai da História”.

Desde então, incontáveis batalhas (literais) foram ganhas e perdidas pelos criadores e decifradores de códigos, militares e membros de serviços secretos, com destaque para seu papel fascinante na Segunda Guerra Mundial.

Hoje a guerra é diferente: com o desenvolvimento do comércio eletrônico, a criptografia transformou-se em ferramenta de uso civil e corriqueiro, o que torna o cidadão mediano do século XXI um exímio memorizador – e, infelizmente, também um esquecedor – de senhas.

Sendo mais memorizadores ou mais esquecedores de senha, o que mais temos em comum é o fato de sermos todos usuários intermináveis de senhas e usuários de senhas intermináveis. Talvez possamos nos definir como criadores e decifradores de códigos. Embora seja irônico quando pensamos que, com o avanço tecnológico, a mutação dos meios de comunicação e o crescimento das redes sociais, aumentam também a distância entre os indivíduos e a dificuldade em decifrar os próprios códigos e os dos outros.

Talvez seja como disse Sérgio Rodrigues no texto citado: vai ver que apenas fazemos vista grossa para o fato de que o princípio da linguagem não é informar, comunicar, e sim uma ambivalência, “um jogo de sedução em que, como na sedução sexual, o que se esconde provoca até mais do que aquilo que está escancarado”.

Tentando trabalhar o equilíbrio entre uma certa exposição e muita introspecção, vou levando meu dia a dia, ora desejando ser um memorizador e ter uma senha para guardar a minha intimidade, ora desejando esquecer esses códigos e ser, com todo prazer, um exímio “esquecedor de senha”. E você?

Publicado em 31 de janeiro de 2012

Publicado em 01 de fevereiro de 2012

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