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Permanecer com a turma ou com o conteúdo?
Alexandre Rodrigues Alves
Que saudades da professorinha
Que me ensinou o bê-a-bá
Onde andará Mariazinha,
Meu primeiro amor, onde andará?Meus tempos de criança, Ataulpho Alves
Quarta-feira passada estava chegando ao portão da escola quando um ex-aluno me chamou:
- Oi, professor, tudo bem?
- Oi, Carlos Gregório, tudo bem, e você?
- Tudo bem, agora estou trabalhando com refrigeração (apontou para sua camisa social, com o nome da empresa bordado no bolso), e nessa época de calor tem muito trabalho.
Mostrou o menino que estava a seu lado e disse:
- Esse é, Artur, o meu mais novo.
- E aí, como vai a vida?
- Vai bem, acho até que vou montar minha própria firma – de refrigeração, que é o que eu sei fazer.
- Ótimo! Prepare-se para mais trabalho ainda! Sucesso, então!
Entrei na escola pensando que só lembrava o nome dele porque o Gregório era um aluno assíduo e, mais que isso, porque eu acompanhei essa turma desde a 8ª série do Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio.
Interessante o processo de combinação entre professor, série e turma nas escolas. Trabalho num colégio em que há uma mistura das duas situações: há professores que pedem para dar aula numa determinada série, porque conhecem bem o conteúdo a ser trabalhado (ainda mais forte no caso do Estado do Rio de Janeiro, que implantou o Currículo Mínimo); outros que gostam de acompanhar a turma por séries a fio, especialmente em turmas de alfabetização.
O colégio onde estudei também privilegiava a manutenção dos professores em determinadas séries, o que não impediu que D. Sandra acompanhasse a turma desde a 5ª série até o 1º ano do Ensino Médio, em Matemática, ou que o Moraes nos acompanhasse em Francês por todo o então segundo segmento do 1º grau. Mas era como fato consumado: o Loureiro era o professor de Física de todas as turmas do 2º ano, para desespero de alguns e alegria de uns poucos.
Claro que não há regra definida ou receita de bolo – inclusive porque essa decisão pode ser provocada por fatores externos, como aumento ou redução do número de turmas, acréscimo de séries, chegada ou saída de professores...
É fácil perceber que, se um professor privilegia trabalhar determinado conteúdo, ele está desprezando, de certa forma, o valor de conhecer os alunos (ou vai despender algum tempo até vir a conhecê-los minimamente, se tiver interesse nisso). Sendo um bom professor, ele irá buscar maneiras de preparar suas aulas para atender às características daquele grupo de estudantes – o que exige um grande esforço, ainda que reduzido pelo conhecimento e pelas experiências vividas ao trabalhar os conteúdos específicos daquela série.
Ao mesmo tempo, focando-se nos conteúdos esse docente pode se limitar a dominar aqueles conceitos e perder o domínio do “conjunto da obra”, não se aprofundando em outros aspectos da sua disciplina de trabalho que não sejam estudados na série em que irá trabalhar, levando a uma “preguiça”, desmotivação ou cansaço pela repetição dos temas abordados ano após ano.
Do mesmo modo, o professor que prefere acompanhar a turma por várias séries terá que planejar seu trabalho com novos conteúdos a cada ano. Não que isso seja impossível ou irrealizável, mas demanda um esforço maior do que se já conhecesse aqueles conteúdos – e não só os conteúdos, mas formas de trabalhá-los, com experiências positivas e negativas, diferentes maneiras de abordar o assunto, atividades recomendadas para desenvolvê-lo, ações voltadas para a interdisciplinaridade – coisas que vêm com o tempo e a sequência de turmas estudando aquele assunto.
Já disse aqui que não há receita de bolo; mas para evitar o constante descobrir de características dos alunos e a pesquisa incessante de novas formas de trabalhar conteúdos, talvez fosse o caso de haver um meio termo: o professor poderia acompanhar a turma (ou as turmas) por dois ou três anos e depois trocaria; do mesmo modo, o professor ficaria dois ou três anos na mesma série e depois mudaria.
Publicado em 20 de março de 2012
Publicado em 01 de fevereiro de 2012
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