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A ansiedade dos feriados
Alexandre Amorim
Depois de muitos anos, resolvi tirar 30 dias de férias. Quase esqueci onde trabalhava, e foi difícil pegar de novo o traquejo das minhas funções. Voltei três dias depois do ano novo e ainda me sentia meio zonzo – talvez pelo espumante, talvez pelas novidades que eu sempre acredito que o ano vai me trazer. É estranho acordar um dia, depois de passar semanas de bermuda, tomando cervejinha e andando pela orla à tardinha, e ter que vestir camisa social e – horror dos horrores – calça comprida no calor de rachar do Rio de Janeiro.
Mas esta nossa raça humana se acostuma a tudo. Voltei à minha rotina sem reclamar – muito, pelo menos. Nesse reencontro com colegas de trabalho, as conversas usuais de trabalho: como foram as férias, a meteorologia, falar da chuva, falar do calor, encher o tempo com diálogos fáceis e meio sem graça. Até que alguém pegou o calendário de 2012. “Faltam 45 dias para o carnaval”, ele falou, em voz alta. Toda a seção se voltou para aquele profeta que trazia boas novas.
Era como se fosse no dia seguinte. Começaram os planos de viagem, as discussões sobre a escola do coração, as lembranças do samba-enredo preferido, os mais astutos saindo de fininho para conversar com o chefe e pedir para sair mais cedo na sexta antes da festança da carne. Dias depois, os jornais publicavam a lista de mais de 400 blocos de rua. Na hora do almoço, tive que ir a Copacabana e reparei, nas lojas de souvenirs para turistas, que todas elas já estão enfeitadas com serpentina e confete. Por um momento, supus que seriam ainda decorações do ano novo, mas as máscaras de Momo e arlequins me provavam que não.
A ressaca do ano novo nem bem acabou e já me empurram a ansiedade do Carnaval. Calma lá! Deixa eu descansar um pouco e fazer os relatórios que o chefe pediu!
Mas esses preparativos para um feriado tão longe me lembrou de um diálogo com meu filho, de 4 anos, na manhã do dia 25 de dezembro. Ele acordou cedo e foi se certificar de que os brinquedos ganhos na noite anterior ainda estavam ali. Feliz da vida, veio tomando seu chocolate e, sem tirar o canudo da boca, me perguntou:
– Pai, depois do Natal vem o quê?
– O ano novo, filho.
– E depois?
– Carnaval.
E assim foi nossa conversa matutina, passando pelos feriados e aniversários da família, até chegar de novo ao Natal.
– Tem Natal duas vezes?, ele me perguntou, com uma esperança feliz.
– Não, filhote. Aí, já é no outro ano. Começa tudo de novo.
– Ah.
Ele saiu da mesa, deixou uma rabanada pela metade e foi até seu quarto. Voltou com a guitarra com sons pré-gravados e barulhos estranhos pendurada no pescoço.
– Eu ganho presente sempre?
– Não, filho. Só no Natal, no seu aniversário e no dia das crianças.
– E na Páscoa?
– Ganha chocolate.
– Se eu for legal e não fizer bagunça, né?
– É.
– E nos outros dias, eu não ganho nada?
– Não, filhote.
– Então, pra que tem feriado?
Essa visão autocentrada do mundo acaba se desfazendo conforme a gente entende que o mundo é composto de tamanha variedade e de tanta gente que o melhor é aprender a conviver. Mas ficou na minha cabeça uma leve impressão de que os feriados servem, para os adultos, como um pequeno presente. Um mimo que nos dão. Esperamos pelo feriado como uma criança espera pelo seu presente: nos achamos merecedores, sem nem saber muito bem a razão.
Talvez porque a gente seja legal e não faça muita bagunça.
Publicado em 24/01/2011
Publicado em 24 de janeiro de 2012
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