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A educação proibida

Marcio Acselrad

Professor da Universidade de Fortaleza; coordenador do Cineclube Unifor e do Labgraça – Laboratório de Estudos do Humor e do Riso

A educação está em alta. Recebe muitos investimentos. Ainda assim, há todo tipo de escolas e universidades: para pobres, para ricos, públicas e privadas. Todas buscam incluir o maior número possível de pessoas. Mas para quê? Qual a sua real finalidade? O que se busca com todo esse investimento? E ele obtém sucesso? O fracasso escolar é sintoma individual ou aponta para uma falência do próprio sistema?

As escolas e universidades correm o risco de se tornar espaços de tédio e monotonia, com um adulto falando para crianças e adolescentes que não se importam com o que está sendo dito, que são ensinados a fazer silêncio e decorar palavras. O conhecimento está parcializado, pois o olhar é parcial. Para que serve o conhecimento? Para responder a uma prova? Nem todo conhecimento pode ser medido, calculado, observado, reduzido a uma nota. Padronização, estandardização, gabarito. Mas um número na nota corresponde a um ano na vida?

Na escola há ganhadores e perdedores. Reconhecem-se os melhores e os piores. Não há educação para a paz, mas para a competência e a competição, a individualidade, a discriminação, o condicionamento, o consumismo. É mais confortável para todos, principalmente para os professores, fazer o que já sabem fazer, ao invés de mudar e tentar começar de novo. E trabalham com a mesma falta de interesse com que os alunos estudam.

A escola de hoje, pública, gratuita e obrigatória para todos, é prussiana, remete ao século XVIII. Nem sempre foi assim. Lugar de adestramento e não de criação. Lugar de manutenção do status quo. Busca de um povo dócil e que pudesse ser preparado para as guerras dos Estados nacionais em formação. Não espaço de formação de cidadãos, mas de súditos dos déspotas esclarecidos, como Frederico e Catarina.

Separar os alunos em graus é como produzir industrialmente o conhecimento. Fragmentação de conhecimento, fragmentação do alunado. Nessa cadeia, cada um fica responsável por uma pequena parte dela. Mecanização, administração, sistematização. Até a campainha é desumana, determina a hora da jornada e a hora do recreio. Como nas prisões e fábricas. Todos devem querer fazer o mesmo, igualmente bem, na mesma hora. Quem não aprende fica para trás.

A escola se transformou no mapa de Borges, tão grande que se tornou igual ao território que queria abranger, a Educação. Mas nem toda educação passa pelos bancos escolares. Muito ao contrário. Comecemos de novo. Do zero. O mestre. O maestro. O que rege o grupo. Que potencializa a criatividade de indivíduos e grupos. O que guia, o grande sonhador, o imaginativo. Dr. Parnassus. Nas crianças (os lobinhos) vemos o jogo espontâneo. Nos adolescentes, a rebeldia. Por que insistimos em matar sua espontaneidade e castigar sua rebeldia quando são elas as características que manifestam suas necessidades internas, buscando desenvolver-se? A criança tem um maestro interior que a impulsiona a conhecer. As crianças usam todos os critérios do investigador científico. Não há criança que não seja sistemática em sua investigação. Se as deixarmos, amanhã serão artistas, amanhã serão cientistas. Há que deixá-los.

Decorar é repetir, transformar-se num repetidor. Ácido desoxirribonucleico. Criação de estresse. O conhecimento só vale se for consentido, se for escolhido. A informação ou o saber podem ser armazenados no cérebro, num computador ou num livro, mas a compreensão é ferramenta em constante expansão. Implica criar e estabelecer relações entre critérios e, assim, resolver problemas e construir conhecimentos.

É maravilhoso ver o momento do descobrimento. A criança nunca mais esquece o momento em que entendeu o porquê. Hoje o conhecimento está disponível e atualizável para todos. Ao nos escolarizarmos, perdemos os critérios exteriores, da natureza, trocando-os pelos critérios dos livros. O problema é que, como muitos deles são verdadeiros, para que discuti-los? Mas aí desvirtuamos o processo educativo que é de descobrimento – e não de aprendizagem das verdades. Há que apresentar as coisas e duvidar delas.

Recomendo o filme A educação proibida, disponível no endereço:
http://www.youtube.com/watch?v=-1Y9OqSJKCc&feature=player_embedded

Publicado em 30 de outubro de 2012.

Publicado em 30 de outubro de 2012

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