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Mulheres e meio ambiente: a essência feminina em defesa do planeta

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

Pesquisador do Gepea da UFPB/CE; especialista em Educação (IESP) e licenciado em Biologia

Glória Cristina Cornélio do Nascimento

Mestranda do Prodema-UFPB; Licenciada em Biologia (UVA)

As mulheres vêm conquistando espaços antes ocupados pelo gênero masculino, tanto na vida social, como nas questões trabalhistas e econômicas, quanto na formação da família, que há muito se estrutura em bases machistas e patriarcais (SALLEH, 1992). Há um século, as mulheres eram direcionadas e educadas para serem mães, esposas e donas de casa, o que, se colocássemos em uma parábola para valores dos gêneros – masculino e feminino –, o homem seria concebido por muitas culturas como a semente e a mulher o vaso (GARCIA, 2012; VERNANT, 2000), o que menospreza o ser feminino do seu valor como ser humano e como progenitora. Porém, em uma visão humanista holostêmica (CÓRDULA, 2012), poderíamos afirmar que a mulher é o vaso, o solo e possui a semente; o homem é o fluido para iniciar a germinação da semente, proteger a vida e sua mantedora, a mulher, antes, durante e depois da concepção.

Na cultura grega, há uma nítida inferiorização da mulher na sociedade, porém, em muitas obras ocorre esse fenômeno, mas também encontramos os gêneros como duas essências, duas energias distintas e poderosas. Para eles, o arquétipo feminino representativo é a Terra ou Gaia, que surgiu a partir de Kháos (Caos), que é o seu oposto. Gaia é nítida, firme e estável (VERNANT, 2000).

A emancipação das mulheres há décadas ganhou força, com os primeiros movimentos feministas; como evento social, de comportamento e de gênero, alcançou também as questões ambientais. O ecofeminismo é, portanto, de forma simplificada, a incorporação da ecologia no movimento social feminista, que tem como intuito fazer mais pela sociedade, para mudar paradigmas e paradoxos na contemporaneidade, em prol de um meio ambiente sustentável (PEREIRA, 2006; GARCIA, 2012).

Este é o perfil do ambiente humano, com a sociedade como sustentáculo de um modo de vida, premiado pela ciência e tecnologia para aumentar nossa qualidade de vida, o que, por outro lado, causa, em larga escala e em longo tempo, grande crises ambientais (CÓRDULA; NASCIMENTO, 2012).

O ecofeminismo veio como expressão e sugere a existência de uma estreita relação entre a emancipação das mulheres e a luta pela preservação da natureza (DIAS, 2012). As ideias do ecofeminismo vieram como modo de juntar as formas que estavam fragmentadas por um sistema cartesiano mecanicista dito ao longo dos séculos, e não como forma de expressar só um manifesto feminino, pois não se submete apenas para as mulheres, mas sim para todos os seres humanos que buscam maior entendimento com as questões naturais (SALLEH, 1992; GARCIA, 2012). Com isso, esse termo foi crescendo com passar dos anos e abordando novas perspectivas em relação à mulher e ao meio ambiente.

O ecofeminismo representa uma mudança de paradigma na condição da vida de dominação, seja das mulheres, ou seja, da natureza, uma vez que possuem como objeto a criação de uma comunidade interligada e sem o patriarcado ou outras formas de hierarquia (DIAS, 2012, p. 4).

O ecofeminismo não se preocupa apenas com as mulheres, mas também com os menos favorecidos e as questões vinculadas a etnias e gêneros, os seres viventes deste planeta e a todos que de algum modo vivem sobre formas de opressão e dominação por essa matriz com lógica dualista (DIAS, 2012). De algum modo poderemos ver essa nova ideia como forma de superar a crise ecológica em que vivemos, não só pelo aspecto natural, mas também social. Levar as civilizações atuais a pensar de maneira igualitária e tentar reconciliar com o natural e com todas as formas de vida existentes (SALLEH, 1992) é uma das necessidades de todos na atualidade, neste cenário tão deletério em que nos encontramos hoje, como forma de tentar reduzir a degradação social, a marginalização e a banalização em que a mulher está inserida (GARCIA, 2012).

Notadamente, o papel da mulher ao longo da história da humanidade é indubitavelmente vital, inquestionável; mesmo passado por uma dominação patriarcal machista, a essência feminina é o arcabouço da sociedade, mudando conceitos, concepções, culturas e dando ao ser humano o toque humano que tanto buscamos em nosso processo evolutivo, para trazer luz aos paradigmas enfrentados na contemporaneidade, principalmente quanto ao paradigma da problemática ambiental para a revitalização de uma sociedade sustentável, com vista a um futuro equilibrado e em consonância com o meio ambiente planetário.

Referências

CÓRDULA, Eduardo Beltrão Lucena. Ser humano holostêmico. Cabedelo: EBLC, 2012.

CÓRDULA, Eduardo Beltrão Lucena; NASCIMENTO, Glória Cristina Cornélio. A era do ser ambiental. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, n° 21, jun./2012. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/meioambiente/0034.html. Acesso em 05 jun. 2012.

DIAS, T. L. P. Os princípios do ecofeminismo. Disponível em: http://www.nipeda.direito.ufba.br/artigos/pdf/osprincpiosdoecofeminismo.pdf. Acesso em: 16 abr. 2012.

GARCIA, L. G. Ecofeminismo – a teoria das conexões. Material didático da disciplina Sociedade e Natureza/2012, Mestrado - Prodema/UFPB.

PEREIA, K. R. S. A misoginia nos Lais de Marie de France. In: NASCIMENTO, Jairo Carvalho do; BLUME, L. H. S. III Encontro de História: poder, cultura e diversidade. Caetité: UNEB, 2006, Anais... Disponível em: http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_III/katia_rosane.pdf. Acesso em: 16 abr. 2012.

SALLEH, A. Ecossocialismo-Ecofeminismo. Nueva Sociedad, n° 122, Nov-Dic 1992, p. 230-233. Disponível em: http://nuso.org/upload/articulos/2190_1.pdf. Acesso em: 16 abr. 2012.

VERNANT, J. P. O universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

Publicado em 18 de dezembro de 2012

Publicado em 18 de dezembro de 2012

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