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O brincar sob a perspectiva do aluno: como o aluno aprende, e como o brincar e a criatividade participam deste processo.
Coordenação: Solange Barros
Edição: Letícia Luiza Durce Argon, Luciane de Araujo Teixeira Martins, Márcia Regina Figueira de Azevedo Bonan, Marli Fernandes Oliveira, Monique Cássia de Assis, Poliana Martinazzo, Rudyard Gonçalves Coutinho, Telma Monceara Acosta Bernardo, Verônica Guilhermina Marques Cabral, Zélia Joaquina da Silva Inhapim
Autores: Lecinia da Silva do Nascimento , Leticia Lopes da Silva , Letícia Luiza Durce Argon, Leticia Marques Bessa da Silva, Luciana de Souza, Luciane de Araujo Teixeira Martins , Luciane de Freitas Branco de Godois, Luciane Matos de Moraes, Luciene Geralda Brandão Mól , Lucineide Lima de Paulo , Ludmila Gomes Santos , Magna Jesus da Silveira Vieira, Maisa Cunha da Silva, Manon Miguel Bernardes, Márcia Cristina da Silva Dias, Márcia Maria Nascimento de Lima, Márcia Regina Fernandes , Márcia Regina Figueira de Azevedo Bonan, Marcele Cypriano Cordeiro, Marcelle Martins Costa do Nascimento, Maria Aparecida da Silva de Almeida , Maria Aparecida Fernandes de Paulo, Maria Elisângela da Costa Silva, Maria de Fátima Oliveira Mathias , Maria Valdijane da Silva Alves, Marianna de Andrade Barino, Marileide Pereira de Queiroz , Marina Stephano Barbosa, Marlene Silva de Menezes, Marli Fernandes Oliveira, Marly Corrêa de Melo, Michele da Silva Bastos Rodrigues, Micheli de Farias Oliveira , Mirlene Gonçalves Pereira da Silva, Monica Ilyria Von Abel, Mônica Lemos Muller Terra da Silveira, Monica Regina de Souza Lins, Monique Cássia de Assis, Natalia Coutinho Fernandes , Paloma Marques Barbosa Avila Mendes, Patrícia Augusta da Silva, Patricia de Campos, Poliana Corrêa Matos, Poliana Martinazzo , Quéteri Paiva , Rafaela Cristina Silva de Melo, Raphael Ribeiro Novaes, Raquel Fernandes Bravo, Raquel Lino Lage de Freitas , Rita de Cássia Ribeiro Augusto Ferreira, Ronaria Rafael Angelo Castelhane , Rosana Aparecida da Silva, Rosangela Dias Teixeira, Rosangela M. S. Medeiros, Rosecley Alves Santana, Rúbia de Gusmão Cunto, Rudyard Gonçalves Coutinho, Sandra Maria Macedo Ribeiro de Souza , Simone Matos Bezerra de Lemos, Sheila N. de Souza Braz, Sonalia da Silva Alexandre, Sonia Ferreira Alves Farias, Sonia Lopes Figueiredo , Sonia Melo Amancio dos Santos, Sônia Regina Braga Alves, Suiane Rimes, Taciane Almeida dos Santos, Tamires Souza e Silva , Tânia Maria Botelho Rocha, Thainá Louzada dos Santos, Tássia Sofia da Silva Marcos, Thiago Bernardo de Souza, Telma Monceara Acosta Bernardo, Urciane Rocha de Farias Caetano , Vanessa de Lima Damasceno , Vanessa Januncio Mesqita , Valdicea Vieira Ecard de Oliveira, Valéria Hamar Torres Gusmão , Valéria Santana da Silva Rodrigues, Vandir da Costa , Verônica Guilhermina M. Cabral, Viviane Alves Ricardo, Viviane Cardoso da Costa, Viviane da Cunha, Viviane dos Santos Oliveira, Viviane Teixeira Magalhães, Zélia Joaquina da Silva Inhapim
Brincar com as crianças não é perder tempo, é ganhá-lo. Se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em sala sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.Carlos Drummond de Andrade
Uma das características humanas é o prazer em brincar e de se utilizar do lúdico para trazer harmonia ao meio na qual está inserido. Huizinga (apud Venâncio e Freire, 2005) traz o conceito do homo ludens defendendo que a humanidade possui a tendência ao lúdico e ao jogo.
O brincar é uma forma de expressão, de comunicação que os seres humanos possuem desde o nascimento. É uma atividade humana social com contexto cultural, em que o homem utiliza a imaginação e a fantasia para interagir com a realidade que o cerca para a produção de novas possibilidades.
A brincadeira é fundamental para o desenvolvimento infantil; quando brincam, as crianças exploram, perguntam e reproduzem as formas culturais nas quais estão inseridas, desenvolvendo-se psicológica e socialmente. As brincadeiras fazem parte do patrimônio lúdico-cultural, traduzindo valores, costumes, formas de pensamento e, consequentemente, favorecem a aprendizagem. O brincar enriquece a criança na compreensão do mundo que a cerca. A criança está o tempo todo a brincar: quando acorda, ao escovar os dentes, ao comer etc.
Em especial, durante a infância, a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos. Assim, os jogos e as brincadeiras fornecem à criança a possibilidade de ser um sujeito ativo, construtor do seu próprio conhecimento, alcançando progressivos graus de autonomia frente às estimulações do seu ambiente.
Infelizmente quando chega à escola, a criança precisa adaptar-se a uma nova realidade, cheia de regras sobre o que pode ou não fazer. As crianças que antes de iniciar sua vida escolar possuem liberdade de brincar sofrem até adaptar seus corpos à nova estrutura de espaço e tempo.
A criança que brinca desenvolve a autoestima, a linguagem falada e a corporal, além do pensamento, do protagonismo, da socialização e da interação, transformando-a em um cidadão capaz. Isso quer dizer que o brincar na sala de aula deve ser visto como um instrumento facilitador, enriquecedor para a aprendizagem. E que as atividades lúdicas devem funcionar como estratégia para a construção do conhecimento, favorecendo a criatividade, a espontaneidade e as potencialidades do trabalho individual e coletivo.
Na perspectiva do aluno, esse momento é um espaço de conquista, de prazer, de lazer e de reconhecimento da sua capacidade de participação. A brincadeira passa a ser uma manifestação da emancipação em relação às restrições situacionais. O aluno percebe que a ação regida por regras começa a ser determinada por ideias, troca, participação e pelo diálogo. Nesse processo de interação, eles participam de forma ativa num movimento dinâmico de ação-relação.
Pelo brincar criam-se várias possibilidades, tornando-se um elemento indispensável para uma aprendizagem significativa. O brincar possibilita o conhecimento sobre o mundo; por meio da brincadeira a criança age, reage, cria, recria, pensa, repensa, imita, experimenta, favorecendo o desenvolvimento da autoconfiança, da organização do pensamento, da concentração, da atenção, do raciocínio lógico-dedutivo e o senso de cooperação, ajudando na socialização e interação dos alunos.
Neste trabalho, abordaremos a questão do brincar sob a perspectiva do aluno. Para tanto, veremos como se dá o seu processo de aprendizagem e como o brincar contribui de modo significativo no processo de ensino-aprendizagem, favorecendo a construção do conhecimento e da criatividade, auxiliando no desenvolvimento global da criança.
A escola como espaço de brincar
A brincadeira é uma necessidade do ser humano em qualquer idade, porém na infância deve ser vista não apenas como diversão, mas também como a possibilidade de desenvolver as potencialidades da criança. Por meio do brincar espontâneo, a criança está experimentando o mundo, os movimentos e as reações, adquirindo elementos para desenvolver atividades mais elaboradas no futuro.
O conhecimento é construído pelas relações interpessoais e trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a formação da criança; o aluno aprende a partir de seu relacionamento com o outro. Em sala de aula possuímos uma série de alunos com realidades e vivências diferentes, e por isso esse espaço se torna um local tão importante de troca de experiências e aprendizagem, devendo ser valorizado.
A aprendizagem da criança deve ser estimulada e acontecer de forma rica, criativa e agradável, pela interação, e preservando o prazer da descoberta e da alegria contida nas atividades, que por sua vez favorecem a elevação do autoconceito.
Zanluchi (2005, p. 89) afirma que,
quando brinca, a criança prepara-se para a vida, pois é através de sua atividade lúdica que ela vai tendo contato com o mundo físico e social, bem como vai compreendendo como são e como funcionam as coisas.
Enquanto brinca, a criança está consciente de que está representando um objeto, situação ou fato, mas, ao mesmo tempo, está inconsciente de que está representando algo que lhe escapa por estar fora do campo de sua consciência no momento. A brincadeira simbólica, como as demais manifestações simbólicas, dá à criança condições de aprender a lidar com suas emoções e afetos. Assim, quando a criança brinca parece mais madura, pois entra, mesmo que de forma simbólica, no mundo adulto, abrindo um leque de situações nas quais as crianças vão se deparar, ajudando-a a vencer os obstáculos da vida.
A sala de aula não deve ser um silêncio, com todos sentados; as crianças devem interagir com os seus pares, numa participação ativa; brincando se aprende com prazer. De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil,
o principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos (BRASIL, 1998, p. 27, v. 01).
As brincadeiras, nas suas diversas formas, auxiliam no processo de ensino-aprendizagem, tanto no desenvolvimento da fala quanto no desenvolvimento psicomotor e cognitivo, como: a imaginação; a interpretação; a tomada de decisão; a criatividade; o levantamento de hipóteses; a obtenção e organização de dados; e a aplicação dos fatos e dos princípios a novas situações. É possível ainda afirmar que o jogo favorece o desenvolvimento da lógica, estimula a aceitação de hierarquias e o trabalho em equipe. De acordo com Antunes (2004), “é através das brincadeiras que se estimula a memória, exalta sensações emocionais, desenvolve a linguagem, a atenção, a criatividade e a socialização”.
Ao jogar, a criança interage com o objeto em uso, de forma criativa e dinâmica, dando asas à sua imaginação e trazendo para o jogo muitas vezes a realidade que vivencia. As crianças transformam, inventam e reinventam todos os objetos ao seu redor, assumem papeis simbólicos e podem ser qualquer pessoa que quiserem. Podemos ver, por meio das brincadeiras, a criança imaginando e aplicando todos os recursos necessários para que isso se transforme no objeto desejado. Viana (2002) pontua que
lidar e relacionar-se com a criança, nos dias de hoje, alcança uma dimensão que vai além da guarda, proteção e assistência; aponta para um objetivo muito mais amplo, que é educar, respeitando sua individualidade e formas de aprender (VIANA, 2002, p. 96).
Winnicott (in put FORTUNA, 2005) afirma que o brincar é uma terapia com possibilidade autocurativa. É pelo lúdico que muitas vezes os alunos conseguem vencer suas dificuldades e aprendem com muito mais espontaneidade. Fortuna (2005, p. 3) relata que a maior dificuldade é a relação professor/brincar:
convencê-los da importância para a aprendizagem, no entanto, não é simples. Muitos educadores buscam sua identidade na oposição entre brincar e estudar: os educadores de crianças pequenas, recusando-se a admitir sua responsabilidade pedagógica, promovem o brincar; educadores das demais séries de ensino promovem o estudar.
A interação que a brincadeira promove entre as crianças possibilita a aquisição de valores como cooperação; respeito; responsabilidade e amizade, além de aceitação das diferenças e da diversidade, dando novo significado e prazer à sua prática, já que a real aprendizagem é facilitada quando se estimula o aluno a participar das discussões e reflexões que venham a aparecer.
Em seu livro Jogo: entre o riso e o choro, Freire (2005) diz que o desenvolvimento da autonomia decorre, entre outras coisas, da possibilidade de decidir, entre várias opções em cada situação, por aquela que for julgada pelo sujeito como a mais adequada. Uma das formas mais fáceis e didáticas de favorecer essas trocas de conhecimento é pelas brincadeiras.
A contribuição do psicanalista Winnicott (apud BOGOMOLETZ) aponta que o brincar espontâneo é fundamental para a criatividade. A criança que aprende porque decorou o conteúdo irá facilmente esquecer o que memorizou. A criança que aprende de forma mais interativa e espontânea irá fazer conexões com outras experiências já vivenciadas, podendo consolidar o que aprendeu para toda a vida. Quando uma brincadeira é proposta para a criança, esta deverá agir sobre aquela situação apresentada, podendo ser em grupo ou individual.
Não há passividade no brincar, todos são convidados a pensar, dialogar, se mexer, rir, interagir ou se concentrar. E esse movimento de agir e reagir é enriquecedor para o desenvolvimento global do indivíduo. Dessa forma, ela alcança as formas superiores mentais, ao mesmo tempo que se torna participante efetiva do seu meio sociocultural, permitindo entrar em um universo que torna possíveis outras formas de aprendizagem; elas passam por exercícios, que são atividades inventadas (reações), deslocadas em relação às coisas do mundo de atividades reais (ações), ao mesmo tempo que brincam.
Para que a construção do conhecimento ocorra de modo significativo e contextualizado, é importante que as atividades estejam de acordo com o nível de desenvolvimento do aluno, respeitando suas fases de transição, favorecendo a construção do conhecimento.
O brincar não é naturalmente progressista; contém tanto a possibilidade da tradição quanto da inovação. É possível brincar de qualquer coisa, inclusive e especialmente com aquilo que faz parte do cotidiano. Por essa razão, é importante considerar ainda a mediação e o contexto em que a atividade lúdica acontece.
Kishimoto (2010) também realiza uma análise sobre o jogo infantil; enfatiza, entre outros aspectos, que o jogo educativo é um recurso indispensável para se utilizar na Educação Infantil. No entanto, ressalta que o professor deve levar em consideração que o jogo educativo apresenta duas características próprias: a função lúdica e a função educativa. Sendo assim, constitui-se em uma mistura de jogo e de ensino. Compreendemos que, durante a realização das brincadeiras e dos jogos, a interação e a mediação são primordiais. A brincadeira fornece organização para a iniciação de relações emocionais e, assim, propicia o desenvolvimento de contatos sociais.
Com base nos dizeres de Kishimoto (2010), quando utilizados de maneira inadequada, sem que haja objetivo em questão, os jogos educativos acabam por perder seu valor lúdico ou educativo, minimizando sua função didática. Ela defende ainda que, visando facilitar o processo de ensino-aprendizagem, o professor brinque e participe das brincadeiras, “demonstrando não só o prazer de fazê-lo, mas estimulando as crianças para tais ações”. Neste sentido, o jogo beneficia o aprendizado por meio do acerto e erro, instiga a exploração pelos objetos e auxilia na resolução de situações-problema, além de ser um importante recurso que possibilita a compreensão das relações sociais. A mesma autora cita:
O jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral (KISHIMOTO, 2008, p. 95).
Freinet (1998) denomina “práticas lúdicas fundamentais” como o não exercício específico de alguma atividade. Ele acredita que qualquer atividade pode ser corrompida nas suas essências, dependendo do uso que se faz delas. Portanto, na atividade lúdica o que importa não é apenas o produto da atividade, ou seja, o que dela resulta, mas a própria ação, o momento vivido.
Acreditamos que o brincar ajuda a criança no seu desenvolvimento físico, afetivo, emocional, intelectual e social, pois pelas atividades lúdicas a criança forma conceitos, relaciona ideias, estabelece relações lógicas, desenvolve a expressão oral e corporal, reforça habilidades sociais, reduz a agressividade, integra-se na sociedade e constrói seu próprio conhecimento. Uma coisa é certa: negar a cultura infantil é, no mínimo, mais uma das cegueiras do sistema escolar (FREIRE, 1997).
O brinquedo no desenvolvimento da aprendizagem
Vygotsky (1984) afirma que a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança é enorme. Ele defende que
é no brincar que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não por incentivos fornecidos por objetos externos (VYGOTSKY, 1984, p. 110).
Vygotsky (2007) diz que “brincar é satisfazer necessidades, com a realização de desejos que não poderiam ser imediatamente satisfeitos. O brinquedo seria um mundo ilusório, em que o desejo pode ser realizado” (apud NAVARRO, 2009, p. 2.125).
Nesse contexto, é muito interessante observar diferentes crianças brincando; podemos perceber que a forma como organizam brinquedos e brincadeiras e o uso que fazem delas revelam seu contexto de vida e mostram seu cotidiano de forma implícita. Precisamos ler as entrelinhas, pois estas expressam sua visão de mundo, sua subjetividade. A infância é também a idade do possível (KISHIMOTO, 2010). Pode-se projetar sobre ela a esperança de mudança, de transformação e renovação moral.
A infância expressa no brinquedo o mundo real, com seus valores, modos de pensar, de agir e o imaginário, que no caso da criança varia conforme a idade. A idade pré-escolar de três anos está carregada de animismo (percepção, dar vida a alguma coisa); as de 5 a 6 anos integram predominantemente elementos da realidade.
Para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições; cabe ao professor a consciência de que nas brincadeiras as crianças criam, recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimento. Sob o ponto de vista do psicanalista Winnicott, o indivíduo age a partir do esquema de estímulo, essa atividade é que faz a diferença entre agir e reagir.
Por meio da brincadeira, o aluno aprende e, consequentemente, desempenha papel ativo na construção de seu conhecimento, desenvolvendo raciocínio, autonomia, senso crítico além de interagir com seus colegas e o meio.
É fundamental que a brincadeira faça parte da cultura escolar, permitindo um aprofundamento na compreensão de um conceito, na contextualização de resolução de problemas em sua estruturação, na observação e construção de regras, na organização de um trabalho em grupo, no planejamento, execução e avaliação das ações, na estruturação das ideias.
As crianças devem brincar não apenas na escola, mas também na família. É importante que os pais ou responsáveis dediquem um tempo diário para brincar com as suas crianças. Pela brincadeira, os filhos aprendem a superar medos e situações difíceis ao lado de uma pessoa amada; isso deixa a criança mais segura.
Brincando se aprende
Winnicott (1975), afirma que
é no brincar, e somente no brincar que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral, e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (WINNICOTT, 1975, p. 80).
A escola, ao valorizar as atividades lúdicas, ajuda a criança a formar um bom conceito de mundo, em que a afetividade é acolhida, a sociabilidade vivenciada, a criatividade estimulada e os direitos da criança respeitados. Mas, não basta só brincar por brincar.
Rabioglio (1995) defende a brincadeira como um recurso do processo de ensino-aprendizagem e menciona que “não basta brincar, é preciso haver um projeto pedagógico que considere a introdução da brincadeira na classe até sua realização, análise e avaliação”. A tarefa de ensinar nos coloca à frente de uma grande responsabilidade: a de formar cidadãos para o mundo. Se pretendermos um mundo melhor, em que os seres humanos sejam mais afetivos, éticos e responsáveis, devemos praticar uma educação que forme alunos capazes de agir, refletir e reagir sobre o real social e afetivo em que está contextualizado. A escola é que deve se adaptar ao aluno e respeitar suas características e sua cultura; isso gera grande desafio ao corpo escolar.
Faz-se necessário um processo educacional que possibilite a ruptura de antigas estruturas, dando liberdade ao aluno de brincar e criar, enfatizando a educação como prática humana e social que leva à produção de saberes técnicos, sim, mas totalmente integrados ao desenvolvimento intelectual, social e afetivo da criança, envolvida por inteiro, corpo e mente. Experimentando e percebendo a importância de suas percepções e conclusões quanto ao mundo que a cerca, a criança constrói seus conhecimentos a partir das experiências vividas, proporcionando-lhe a possibilidade de experimentar coisas novas.
A criança é um ser especial que está em pleno desenvolvimento e que necessita de um olhar cuidadoso do educador. Os pequenos já trazem consigo uma bagagem natural de espontaneidade e criatividade que deve ser incentivada pelo educador.
É notória a crise pela qual a educação vem passando nos dias atuais: professores descontentes, alunos desmotivados, pais preocupados. No entanto, acredita-se que para uma possível melhora deste quadro se faz necessário, além da formação contínua dos professores, a introdução da ludicidade como subsídio no processo de construção do conhecimento cognitivo, físico, social e psicomotor, desenvolvendo nos educandos o prazer ao construir o próprio aprendizado de forma mais atraente e estimuladora.
Defender o brincar na escola não significa negligenciar a responsabilidade sobre o ensino, a aprendizagem e o desenvolvimento. As crianças são predispostas às atividades lúdicas, e não há por que contrariá-las. Os jogos e as brincadeiras deveriam fazer parte da realidade cotidiana na vida de crianças, pois permitem o contato com o outro e com tudo que está ao seu redor, acrescentando um ingrediente especial na vida de todos, tanto como um caminho para a busca de conhecimento como para torná-la mais prazerosa.
A educação tem por objetivo principal formar cidadãos críticos e criativos, aptos para inventar e ser capazes de construir cada vez mais novos conhecimentos. O processo de ensino-aprendizagem está constantemente aprimorando seus métodos de ensino para a melhoria da educação. O lúdico é um desses métodos que está sendo trabalhado na prática pedagógica, contribuindo para o aprendizado do aluno, possibilitando ao educador o preparo de aulas dinâmicas, fazendo com que o aluno interaja mais em sala de aula e se torne um sujeito ativo no aprendizado, pois cresce a vontade de aprender, seu interesse no conteúdo aumenta e, dessa maneira, ele realmente aprende o que foi proposto a ser ensinado, estimulando-o a ser pensador, questionador – e não um repetidor de informações.
Mensagem final
Dai-me, Senhor, o dom de ensinar, dai-me essa graça que vem do amor.
Mas, antes do ensinar, Senhor, dai-me o dom de aprender.
Aprender a ensinar, aprender o amor de ensinar.
Que o meu ensinar seja simples, humano e alegre, como o amor.
De aprender sempre. Que eu persevere mais no aprender do que no ensinar.
Que minha sabedoria ilumine e não apenas brilhe.
Que o meu saber não domine ninguém, mas leve à verdade.
Que meus conhecimentos não produzam orgulho,
Mas cresçam e se abasteçam da humildade.
Que minhas palavras não firam nem sejam dissimuladas,
Mas animem as faces de quem procura a luz.
Que a minha voz nunca assuste,
Mas seja a pregação da esperança.
Que eu aprenda que quem não me entende
Precisa ainda mais de mim,
E que nunca lhe destine a presunção de ser melhor.
Dai-me, Senhor, também a sabedoria do desaprender,
Para que eu possa trazer o novo, a esperança,
E não ser um perpetuador das desilusões.
Dai-me, Senhor, a sabedoria do aprender.
Deixai-me ensinar para distribuir a sabedoria do amor.
Antonio Pedro Schlindwein
REFERÊNCIAS
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Leia também: O brincar em sala de aula a partir da perspectiva do professor.
Publicado em 18 de dezembro de 2012
Publicado em 18 de dezembro de 2012
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