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Sociedade show

Ivone Boechat

A humanidade é pressionada por estridentes sons, êxtase, luzes, euforia, avisos, banners, promoções, fotos, pichações, ilustrações, slides, tatuagens, comerciais, filmes, roupas personalizadas capazes até de convencer que é moda, que é chique, que é moral. O processo de coerção, antes lento, sem imagens, nas cavernas, escancarou-se aos olhos do mundo, ao vivo, em tempo real, sem autoria, anônimo. É aí que se grita pela falta do educador que oriente, modere, selecione, critique. É preciso ensinar a ouvir e a ver! Esse clamor se torna emergência, porque os analfabetismos se atropelam na estrada do avanço tecnológico e da informação. Que se implante a educação audiovisual.

Nos Estados Unidos surgiu, nos últimos anos, a media literacy (ou "alfabetização para a mídia“, "educação pela e para a comunicação"). Aliás, não é novidade, Adão tinha essa orientação divina lá no paraíso...

A educação está desafiada a acelerar seu ritmo na olimpíada pedagógica, chegar primeiro e, competentemente, preparar as emoções da sociedade, ajudando-a a tomar posse das conquistas, a decifrar mistérios e prosseguir.

A humanidade exige a presença de “alfabetizadores” capazes de ajudá-la a ler e a interpretar não somente o código de redes, senhas, sites, Twitter, MSN, e-mails, Facebook, blogs, Orkut, mas sobretudo que ajude o cidadão a tornar-se alfabetizado social, ou seja, um letrado cultural para interpretar a cultura das épocas e, principalmente, produzir ciência, ser feliz, transcender.

A educação deve contribuir para que o homem desta era da metainformação e da interface selecione sites, se interesse pela diversidade cultural, saiba apreciar um som e identificá-lo, compartilhe ritmos, tenha olhos e ouvidos educados para perceber os excessos.

Há muito tempo, principalmente no século XIX, quando já se discutia a “sociedade da sensação”, profetizou-se a supervalorização das aparências e transparências do universo eletrônico que se expandia no mundo imaginário.

Fernando Hernández, professor da Faculdade de Belas Artes de Barcelona, na Espanha diz que “Estamos imersos numa avalanche de imagens e é preciso aprender a lê-las e interpretá-las para compreender e dar sentido ao mundo em que vivemos”.

Andrew Oitke, professor da Universidade de Harvard e autor do livro Obesidade mental, denunciou que “profissionais da informação vendem gordura trans em excesso” e concluiu: “com uma ‘alimentação intelectual’ tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é possível supor que esses jovens jamais conseguirão viver uma vida saudável e regular”.

Afirma Oitke: “O jornalista alimenta-se, hoje, quase que exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos e de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar para apenas seduzir, agredir e manipular”.

Esse jornalismo da sociedade do espetáculo não se importa com os estragos emocionais que provocam na família. “O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy”.

Oitke é otimista e garante: “Não se trata de uma decadência, de uma ‘idade das trevas’ ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa, sobretudo de uma dieta mental”.

No espetáculo show da religião seria diferente? Todos sabem que luzes, shows e o estrondoso som eletrônico invadiram o território sagrado dos templos e, sem pedir licença à capacidade emocional auditiva e visual, sacudiram as estruturas do espaço reservado à oração, à meditação e à comunhão.

Rosane Borges, professora do Departamento de Comunicação da Universidade de Londrina (PR), diz que “essa tendência de espetacularização de tudo é prejudicial, porque não está em consonância com a contemplação, com a reflexão”.

Publicado em 8 de janeiro de 2013

Publicado em 08 de janeiro de 2013

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