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Alunos-leitores, alunos-escritores: o relato de uma experiência

Palmyra Baroni Nunes

Mestre em Linguística Aplicada; professora de Inglês

Aprender a ler e a escrever, para uma criança, não quer dizer apenas aprender a codificar ou decodificar o código linguístico. A leitura e a escrita vão além, e sua aquisição não se conclui em apenas um ano. Acreditamos que tais atividades fazem parte de um processo que nos acompanha a vida inteira, e quanto mais prazerosas e significativas forem as experiências iniciais dos alunos com a leitura e a escrita melhores leitores e escritores eles se tornarão.

Pensando no processo contínuo da leitura e da escrita e de sua aquisição estar ligada também ao envolvimento do aluno em atividades que tenham significado para ele é que decidimos realizar um trabalho com a intenção de tornar os alunos agentes do processo de aprendizagem e que suas ideias e criatividade fossem valorizadas. O projeto foi realizado com alunos de uma escola pública do segundo ano do Ensino Fundamental, com o título “Alunos-leitores, alunos-escritores”. As experiências anteriores à leitura de palavras e textos foram aproveitadas, pois, de acordo com Paulo Freire, antes da leitura das letras há a leitura de mundo; portanto, a experiência de cada aluno, o relacionamento de cada um com o mundo da leitura e da escrita foi levado em consideração, fato que contribuiu sobremaneira para o aprimoramento dessas práticas.

Para transformar os alunos em alunos-leitores e alunos-escritores, tornei-me professora-autora de pequenas histórias, com o objetivo de que, pelo meu exemplo, eles acreditassem que poderiam ler e escrever suas próprias histórias. A família teve papel fundamental nesse trabalho, pois eram os pais, irmãos, avós, tios que, em casa, ouviam as histórias criadas e contadas pelos alunos na escola e faziam comentários por escrito a respeito delas, pois acreditamos que professores e pais, adultos mais próximos e que participam diretamente do processo de desenvolvimento intelectual e social da criança, devem estar de mãos dadas, formando uma parceria que, de acordo com a nossa experiência nesse trabalho, colheu os primeiros frutos de muitos que viriam a seguir.

Com o projeto, esperávamos que os alunos tivessem maior consciência do processo de leitura e escrita, sentindo-se capazes de ler histórias e de produzir as suas próprias. Além disso, pretendíamos que o foco da aprendizagem fosse o próprio aluno que cria histórias e compartilha suas ideias com outros da turma e com sua família. O trabalho também propiciou maior interação entre leitores e texto e o desenvolvimento de estratégias, promovendo mais consciência e preocupação na construção do sentido dos textos, já que seriam lidos e compartilhados por uma audiência maior, e não apenas o professor.

A valorização do processo de leitura oral esteve presente no trabalho, pois esse tipo de leitura tem por objetivo tornar os alunos contadores de suas histórias, e não meros decodificadores do código linguístico, além de tirar o foco do professor, o que sempre acontece durante a hora do conto nas escolas.

Ao ouvir as histórias dos outros e contar as suas próprias, os alunos se sentiam mais motivados a produzir, pois sabiam que outros estavam interessados em ouvir o que escreveram e não só em corrigir os possíveis erros que cometiam ao ler e escrever. Daí a importância de essas produções chegarem até a família do aluno e de serem comentadas por seus familiares, para que a criança soubesse que não escrevia ou lia só para o professor, mas para se comunicar, expressar suas ideias e compartilhá-las com outras pessoas.

A intervenção do professor durante o processo se deu de forma que os alunos compreendessem que existe um código linguístico padrão, que deve ser respeitado e aprendido; entretanto, a interlíngua do aluno e suas hipóteses com relação à escrita das palavras foram valorizadas, pois não há aprendizagem sem erro e o erro – seja durante a leitura oral ou durante a escrita – pode fornecer ao professor informações imprescindíveis que deverão nortear o seu trabalho, fazendo-o refletir sobre qual o melhor caminho a seguir, o quanto os alunos sabem e quais as dificuldades mais comuns e mais específicas da turma.

Para isso, os desvios ortográficos eram marcados pelo professor e ao aluno era dada a oportunidade de corrigi-los, pela releitura de suas próprias histórias.

Por se tratar de uma turma heterogênea, com alunos em diferentes fases de desenvolvimento de leitura e escrita, houve grande preocupação em promover a interação entre os alunos e seus diferentes saberes. Aqueles que estavam começando a ler e a escrever também eram incentivados a escrever e ler suas histórias, da mesma forma que os outros que já estavam mais adiantados nesse processo. Também tínhamos por objetivo que os alunos escrevessem e lessem histórias por livre e espontânea vontade, tarefas essas que não deveriam ser desenvolvidas somente na escola.

O aumento da consciência dos alunos com relação à leitura e à escrita revelou-se pelas perguntas feitas por eles sobre a escrita correta das palavras, principalmente quando o som era comum a mais de uma letra. Com a leitura oral das histórias, além do desenvolvimento da fluência e precisão, os alunos iam preenchendo as lacunas deixadas com relação à escrita correta das palavras e da formação de ideias coerentes.

Cada aluno possuía um portfólio com todos os textos produzidos desde o início do projeto, para que pudessem perceber seu próprio desenvolvimento e crescimento durante o ano, além de ser o local onde outras pessoas (familiares, por exemplo), faziam anotações de sua impressão sobre os textos.

Para concluir: dentre os objetivos citados, o principal era formar alunos que buscassem recursos para desenvolver suas ideias da melhor forma possível, pela interação com outros alunos, com seus textos, com seus familiares ou com o professor, mostrando aos alunos que escrever de forma coerente e coesa é importante não só para a escola como também para a vida.

Publicado em 19 de março de 2013

Publicado em 19 de março de 2013

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