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O fim da educação: indisciplina, política e judicialização

Lúcio Alves de Barros

Doutor em Ciências Humanas e professor da Faculdade de Educação da UEMG

Professoras e professores estavam discutindo em reunião o problema da (in)disciplina em sala de aula. A coisa me pareceu tão séria que por alguns minutos passaram-me pela cabeça diversas imagens de acontecimentos – muitos deles inaceitáveis – que, aparentemente, vêm se naturalizando entre nós. Algumas delas merecem atenção.

A primeira diz respeito a como manter a disciplina em sala de aula. Esse problema, antigo e ostensivo tanto nas escolas como nas universidades, não tem passado despercebido em pesquisas na área da educação. No entanto, o problema tem tomado novos perfis a ponto de o estudante recalcitrante ser tratado como vítima. Há tempos tornou-se normal o uso do celular, do smartphone, do tablet em sala de aula. Enquanto o docente ensina, o aluno sem nenhuma vergonha manda mensagens, curte o Facebook, tira fotos e grava suas aulas. Para isso, ele não se contenta em ficar calado; chega ao cúmulo de avisar ao colega que acabou de “curtir” sua mensagem ou que respondeu à altura. Quando ele se abre em atenção à aula, o bravo estudante ainda deseja atenção. Obviamente é praticamente impossível atendê-lo. E, como não foi atendido como quer, lá vai ele para mais uma curtida ou fala inadequada e descontextualizada do que aconteceu em tempo real na sala de aula.

De forma alguma sou contra a entrada e o desenvolvimento das novas tecnologias de informação, que inegavelmente ajudam na didática, na rapidez nas informações, na construção do conhecimento e nas pesquisas. Mas professores e estudantes – e aqui está o segundo ponto que merece atenção – devem saber os limites ou no mínimo tratar de criar alguns. Comportamentos inaceitáveis em sala de aula são fontes de desrespeito ao corpo docente. Em geral, os discentes estão “pouco ligando” para isso. Eles desconhecem, como os diretores e a supervisão, os regulamentos internos, chegando ao cúmulo de tentar plantar a dúvida e levar o professor às vias de fato quando de um acontecimento sério ou de menos valia na sala de aula. Para isso, basta que o pavio seja aceso e a plateia, inclusive de docentes, goze diante do voyeurismo social sempre sádico e presente nestas ocasiões.

A questão toma novos contornos quando o discente, do alto de sua sabedoria, ainda cai na onda da judicialização da educação. Esse terceiro ponto se assenta em palavras ou frases como “você tem é que estudar”, “não adianta ficar no celular e fazer a prova”, “depois o coitado sou eu, né!”, “quero ver o que vão falar os seus pais” e “cansei de vocês”, dentre outras, que se constituem verdadeiras bombas para que o discente ou o aluno, antes desatento, resolva levar o docente para a mesa do juiz. Até lá, o poder discricionário do professor em sala de aula já foi esquecido, os nervos já estão sendo colocados em prova, sua capacidade e sua carreira colocadas em xeque, a ameaça ou a denúncia parece crescer de tamanho e ostensividade, sem falar nas versões dos fatos, que, plantadas e encharcadas vão render frutos não comestíveis.

A judicialização da educação é absurda; ela retira do professor, da coordenação e da instituição escolar toda a sua legitimidade. Por consequência, ela humilha os professores, que, encarcerados em seus poucos recursos, geralmente são esquecidos pelo sindicato e por seus pares. Mais uma vez é possível apontar para o fim da educação. O fim da política nas instituições escolares. Assistimos inertes ao começo do desmonte das entidades garantidoras do controle social e de formação de identidades. Finalmente, vemos de perto a “pá de cal” nas relações daqueles que, por natureza, deveriam estar unidos em causas nobres como a construção do conhecimento, uma sociedade mais humana e, nem que seja por sonho, com liberdade e igualdade.

Publicado em 21 de maio de 2013

Publicado em 21 de maio de 2013

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