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A ludicidade no despertar da afetividade humana na escola pública

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

Mestrando (Prodema/UFPB); diretor de Educação Ambiental da SEMA/Cabedelo-PB

Introdução

O ser humano está perdendo, em sua evolução social, a capacidade de amar incondicionalmente; mesmo estando apto à afetividade, manifestações e demonstrações de atenção, preocupação, carinho, tolerância, respeito, cuidado, zelo, companheirismo e cooperação estão se tornando raras (CÓRDULA, 2012).

Com a emanação da afetividade, temos o aspecto não mais do materialismo que foi infiltrado no âmago do ser humano, mas sim da essência de cada um, única, singular e vital à coletividade. E este será o grande desafio para as próximas décadas: “transcender a primitividade, germinar a afetividade e emaná-la ao seu próximo e a tudo à sua volta” (CÓRDULA, 2012, p. 14).

Numa relação salutar, as crianças deveriam externalizar amabilidade, autoestima, confiança, honestidade, bondade, benevolência, caridade, simplicidade, paciência, generosidade, tornando-se justas, e a ter respeito. Esses deveriam ser os ensinamentos repassados por todas as pessoas de seu convívio, seja familiar ou na comunidade (NOLTE; HARRIS, 2009). Porém, quando educadas negativamente, por estar a todo momento sendo ridicularizadas, hostilizadas, criticadas, aterrorizadas, tornam-se crianças com baixa autoestima, com medo, sem confiança em si mesmas, agressivas, injustas, invejosas. E todo esse modelo de “educar” – na verdade, deseducar – vem à tona no ambiente escolar, constatado no convívio da relação docente-discente, de que o professor depende para desempenhar seu papel na formação do cidadão (CÓRDULA, 2011).

Desenvolvimento

Ao formular um conceito referente às atividades lúdicas, alguns teóricos acreditam que o brincar não se define com palavras, por se tratar de atividades que têm origem na emoção (SANTOS, 2011).

Este trabalho tem o objetivo de planejar atividades lúdicas para o pleno desenvolvimento da temática da afetividade na qualidade de vida nas relações interpessoais. Ele foi desenvolvido na Escola Pública Municipal de Ensino Fundamental Major Adolfo Pereira Maia, localizada na cidade de Cabedelo, Paraíba, com alunos do 8° e 9° anos do turno da manhã em um curso desenvolvido para estimular a cidadania em sua plenitude e com vistas ao desenvolvimento humano.

Nesse contexto, a pesquisa é de caráter qualitativo e tem na pesquisa-ação seu procedimento predominante (GIL, 1989), com metodologia lúdica para desenvolvimento das atividades propostas (SANTOS, 2011).

Procedimento

  • Objetivo da dinâmica: levar o alunado ao autoconhecimento e à exploração afetiva de si mesmo e de forma coletiva;
  • Conceitos: cooperação, sentimentos, autoconhecimento, relações interpessoais, respeito, tolerância etc.;
  • Material: foram utilizados folhas de papel sulfite A4, lápis para desenhar e colorir (de madeira, giz de cera, hidrocor, grafite) e cartolinas;
  • Musicografia: a escolha das músicas vai de acordo com o tema da atividade e do público participante (idade, série, gosto musical etc.), para que elas façam fluir o processo, emocionando, encantando e/ou incitando os alunos a participar ativamente.

Primeiramente, os educandos devem formar um círculo, para que todos se vejam e interajam em unidade. Inicia-se uma palestra focando os conceitos tratados na atividade e, por meio de palavras-chave durante o discurso, os alunos vão demonstrando a expressão corporal dos seguintes termos: amor próprio, amor ao próximo, amizade, carinho, respeito, felicidade, altruísmo, raiva etc. Devem fazer perguntas: o que acharam de expressar pelo corpo tais sentimentos, com essa forma de interagir com os colegas? Quais foram fáceis e quais foram difíceis? O que é raiva e o que ela gera? Posteriormente, abordar bons modos, ética, valorizar o respeito e a tolerância que geram harmonia no grupo e na sociedade. Finalizar a dinâmica com um abraço coletivo. Os alunos devem, em um retângulo de papel pré-cortado, elaborar uma frase sobre um dos conceitos tratados durante a dinâmica, utilizando os lápis para colorir e colar na cartolina (Figura 1). Quando todos terminarem, fixar a cartolina na sala de aula para socialização das frases e lembrança da atividade realizada.

A partir daí, vários trabalhos e atividades podem ser desenvolvidos, como por exemplo: produção textual, pictórica, panfletos, cartazes, esquetes teatrais etc.

Figura 1
Figura 1 – Mural de fotos dos alunos do 9° ano da EMEF Major Adolfo Pereira Maia, do Município de Cabedelo-PB, durante o desenvolvimento da dinâmica em curso de cidadania no mês de agosto de 2012.

Avaliação do processo

Todas as atividades desenvolvidas com os alunos foram avaliadas levando em consideração principalmente os dados qualitativos quanto a participação efetiva, complexidade do tema da dinâmica, dos conceitos apreendidos e manifestos no dia a dia escolar dos envolvidos no processo.

Conclusão

A violência como reflexo social está presente nas escolas públicas, externalizada pelos educandos em suas relações interpessoais, fruto de uma falta de educação para a afetividade e manutenção dela para o pleno convívio social e harmonioso. É na escola, portanto, que, atuando por meio da ludicidade, conseguimos desenvolver nas crianças o despertar para as inter-relações e gênese da afetividade, pois tiveram a oportunidade de se reencontrar com seu “eu” e, assim, desenvolver emoções e respeito ao próximo.

Tendo como ótica a formação do aluno, não podemos esquecer que a afetividade faz parte da nossa essência; assim, resgatá-la, estimulá-la e desenvolvê-la é uma necessidade iminente para a plena formação do ser humano e redução do paradigma da violência em sociedade.

Referências

CHALITA, Gabriel. Educação: solução está no afeto. 19ª ed. São Paulo: Gente, 2004,

CÓRDULA, Eduardo Beltrão de Lucena. As crianças e a violência na escola: espelhos da sociedade. Revista Eletrônica de Educação. São Carlos, UFSCar, v. 5, no. 2, p. 256-266, nov. 2011. Disponível em: http://www.reveduc.ufscar.br.

______. Homo sapiens affectus: em busca do futuro da humanidade. Cabedelo: EBLC, 2012.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 1989.

NOLT, Dorothy L.; HARRIS, Rachel. As crianças aprendem o que vivenciam. Trad. Maria Luiza Newlands da Silveira. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.

SANTOS, Santa Marli Pires. O brincar na escola: metodologia lúdico-vivencial, coletânea de jogos, brinquedos e dinâmicas. Petrópolis: Vozes, 2011.

Publicado em 18 de junho de 2013

Publicado em 18 de junho de 2013

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