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Multa no Porcão!

Mariana Cruz

De uns tempos para cá, com a onda do ecologicamente correto cada vez mais em alta, pessoas com um mínimo grau de civilidade já tem consciência de que não podem jogar lixo nas ruas. Por “lixo” costuma-se considerar copos plásticos, embalagens, pacotes de biscoitos. Pena que muitos não vejam as pequenezas como parte desse conjunto: orgulham-se de não jogar garrafas plásticas na rua, mas não se importam jogar papel de bala. O fato é que, independente do tamanho, além da poluição visual, um papel de bala demora não sei quantos anos para se desintegrar, além de se juntar a outras miudezas e virar aquela massa de resíduos que entope os bueiros. Um inofensivo chiclete também tem um efeito devastador: demora cinco anos para se decompor.

Aqueles que se orgulham de recolher as cacas de seu bichinho de estimação devem, é claro, propagar sua ação, mas devem também saber que nada mais fazem do que sua obrigação. A postura de “bater no peito” porque não joga lixo na rua não é algo de que uma pessoa deva se orgulhar; é apenas o que deve ser feito. Se não há lixeira próxima, é obrigação guardar o lixo consigo, na bolsa, no bolso; caso não esteja com nenhum dos dois, há que se carregar na mão.

Sempre me considerei no rol das ecologicamente corretas. Lembro-me, porém, de dois episódios que me mostraram que estava enganada. Um deles foi há pelos menos dez anos: depois de beber uma água de coco e não achar uma lixeira apropriada para colocar a fruta, pus em um canteiro. Até aí tudo bem, mas a amiga bióloga que me acompanhava não tardou em chamar minha atenção sobre o canudo, e deu-me uma aula sobre os danos que o plástico causa ao meio ambiente. As outras vezes, como foram pelo mesmo motivo, considero uma só reclamação: a bronca foi sobre jogar guimba no chão. Um amigo não fumante convicto sempre reclamava desse meu péssimo hábito. Não me considero fumante, mas quando bebo cerveja fumo (somente nessa ocasiões; quero deixar claro que normalmente até me incomoda o cheiro de cigarro, e, dependendo da marca ou do nível de intimidade que tenho com o fumante, até abano a fumaça para longe).

Voltando ao meu lado fumante eventual: sempre relacionei as broncas desse amigo ao verdadeiro horror que ele tinha do cigarro. Sempre argumentava que isso se deve ao desaparecimento repentino do todos os cinzeiros dos bares da cidade (quem frequenta tais locais, pelo menos aqui no Rio de Janeiro, deve ter notado que de uns tempos para cá os cinzeiros foram dizimados). Aliás, meu prosaico hábito de emporcalhar o chão tinha o consentimento dos garçons dos estabelecimentos que, invariavelmente, acobertavam meu ato sujo (literalmente) com um “pode deixar na calçada que a gente varre depois”.

Dia desses fui a Fernando de Noronha, o paraíso ecológico. Lá, além da experiência indescritível de nadar com tubarões vegetarianos, arraias, tartarugas e enguias, outra coisa fixou-se na minha mente: a necessidade de cuidar do chão que pisamos como se fosse da nossa própria casa. Assim que desembarquei no aeroporto, colocaram-me em um ônibus e fomos direto para a sede da agência (fiz a viagem por uma agência contratada por esse sites de compras pela internet, então não sabia muito o que esperar).

Lá os guias deram um monte de instruções sobre como deveríamos proceder na ilha: economizar água, não jogar lixo nem guimbas no chão – eles recomendavam mesmo a compra de um cinzeiro portátil, vendido nas lojinhas. Nem dei muita atenção para essa parte. Foi quando, com o passar dos dias, comecei a reparar como o tal cinzeirinho era útil. A amiga que foi comigo, essa sim fumante praticante, havia adquirido tal objeto e andava com ele pra lá e pra cá. Percebi que de fato na ilha quase não havia guimbas no chão e os locais onde encontramos algum lixo ficavam sempre perto de onde havia turistas.

Assim, a aula de ecologia que tivemos ao chegar lá – e que eu inicialmente tinha achado enfadonha e desnecessária (afinal me considerava ecologicamente corretíssima) – fora de extrema importância. Nada de banhos longos, nada de guimba no chão.

A despeito dessa política de redução do fumo que merece aplausos, não se pode ignorar os fumantes; assim, as pessoas passarem a lançar mão desses cinzeirinhos portáteis seria de grande valia para nossas ruas já tão maltratadas. Depois de uma viagem dessas, vi que jogar guimba no chão é tão grave quanto jogar uma garrafa de plástico.

Assim como a proibição de dirigir bebendo que só passou a ser eficaz quando a Lei Seca começou a vigorar e a multar os motoristas altinhos, nos grandes centros, palestras sobre não jogar lixo nem guimbas nas ruas talvez não fossem tão eficazes quanto em Noronha, pois o buraco é mais embaixo.

Poderia ser dada uma advertência para quem joga lixo na rua, mas, se isso não adiantasse, multa no porcão!

Publicado em 09 de julho de 2013.

Publicado em 09 de julho de 2013

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