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Duas poesias da Âncora
Alexandre Alves
Cristina Peres é uma escritora e professora portuguesa. Conheci-a primeiro como professora, depois ela deu-me a descobrir sua face artística, de contos e poesias marcantes e bem construídos.
Seu livro Da âncora ao leme reúne poesias que falam do passado (a âncora) e do futuro (o leme) para construir um presente sem margens, pois que é pleno de dúvidas e não de certezas. A poesia de Cristina se desmonta e remonta, permitindo que vejamos coisas novas sobre as antigas.
Na primeira parte – de onde tiramos os dois poemas publicados aqui – estão suas âncoras pessoais e literárias: seu pai; Fernando Pessoa e seus heterônimos, Fernando Namora, Eça de Queiroz, Vergilio Ferreira e Almeida Garret.
Soneto para meu pai
Perdi-te era noite, tinha sete anos
Tua menina continua aqui...
E o poema diz-te de tantos enganos
Em que a menina precisou de ti.
Estou a lembrar a voz e o perfume
Menina, recordo na casa ali...
Quisera meu pai, teu ombro, teu lume
Para menina não ver o que vi.
Queria teus olhos d'azul crescente
Lindo teu sorrir, água da nascente
Nessa receita de ser tão feliz...
Ficou por fazer-te só esta rima
E ser contigo tua obra-prima
Verso que te ofereço e que nunca fiz...
Meu vaso partido e singular
Era uma vez um poeta
Que não vivia nele mas noutros
Que eram fragmentos
Ilusões e pensamentos...
Poeta da melancolia
Que se dizia ninguém
E tinha um mestre por mãe
Que ainda era mais ninguém,
Pessoa, filho de Caeiro.
Meu poeta preferido
Âncora para ser lido
E perceber que a alma humana
Se pode um dia entornar,
Cair como um vaso e transformar-
-se em cacos. Podemos colar
Mas já não é o mesmo vaso:
Vaso plural e singular...
Publicado em 09/07/2013
Publicado em 16 de julho de 2013
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