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Novas palavras, velhas revoltas

Pablo Capistrano

Escritor, professor de filosofia do IFRN

Em 1873, quando uma das primeiras grandes crises do capitalismo estourou na Europa, o mundo ainda era disperso, os rincões do globo ainda pareciam funcionar em tempos diferentes, como se na Terra pudessem conviver, em fronteiras geográficas, as velhas eras da humanidade em paralelo com a moderna sociedade da técnica industrial.

Naquela época, como em 1929, a palavra de combate à hegemonia do sistema capitalista era “socialismo”. Um termo que ainda tinha seu significado envolto em certa força mágica, quase religiosa, que movia e apimentava a revolta das populações que padeciam pelas augúrios de viver na base do sistema econômico.

Neste tempo, em que o enriquecimento não é mais uma exclusividade dos velhos “proprietários dos meios de produção” como pensavam os marxistas dos séculos passados, nesta época em que dinheiro gera dinheiro sem ter que passar pelo estágio intermediário de transformar em mercadoria um produto que construa riqueza social real, nesta época em que os Estados nacionais se pegam reféns de um sistema que se descolou da sociedade que o criou, a esquerda ainda procura uma palavra de poder que possa servir como catalisador da revolta popular.

Alguns falam em desglobalização, mas o que isso realmente significa? Um dos grandes problemas embutidos nesse conceito é que ele quebra um dos pressupostos fundamentais da tradição socialista do século XIX.

Como apelar para uma universalização transnacional de classe, que oporia dialeticamente patrões e empregados em uma guerra política global e, ao mesmo tempo, atuar para o fortalecimento dos Estados nacionais na tentativa de fazer retroceder o processo de globalização do chamado “capitalismo com dominância financeira” (novo apelido para o velho sistema de mercado)?

Se uma reação à crise sistemática dos mercados financeiros passa pelo fortalecimento do protecionismo e pela nacionalização do sistema bancário, como fazer com que o trabalhador norte-americano não enxergue o trabalhador chinês como um inimigo que lhe rouba os empregos, mas sim como um camarada de classe, companheiro de uma mesma luta contra a nova “burguesia financeira global”?

Por outro lado, os que tentam recuperar os frangalhos dos mercados para minorar a crise e manter a “desordem natural do sistema” sob controle podem operar transformações nacionais para enfrentar problemas globais?

A tediosa solução – a ver o que se tenta praticar na Europa do euro – parece ser a velha estratégia de dar a conta da sacanagem metafísica do mercado para o povo pagar, mantendo a fé em que os porta-vozes da nova revolta global contra o novo capitalismo não encontrem nem em Marx nem em Bakunin (ou em Nietzsche) alguma nova palavra de poder que possa catalisar politicamente o ódio das massas retido em direção a uma mudança real no modelo econômico global.

Amigo velho, as crises são assim mesmo; a gente pode até imaginar como elas começam, mas temos uma dificuldade infeliz de prever como elas terminam e para onde elas nos levam.

Publicado em 16 de julho de 2013

Publicado em 16 de julho de 2013

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