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CIÊNCIA, ENSINO E PESQUISA NA GRADUAÇÃO

Roberto Carlos Simões Galvão

Professor da Rede Pública Estadual em Joinville (SC), Licenciado em Sociologia e História, Bacharel em Direito, Pós-Graduado em Filosofia (UEL) e Mestre em Educação (UEM).

No ensino superior brasileiro, em especial nos cursos de graduação, a disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica quase sempre é vista por alunos e mesmo por alguns professores como de menor importância no contexto da grade de disciplinas especializadas de cada curso. Trata-se, porém, de um engano. O ensino/aprendizado de metodologia científica, quando levado a sério, tende a beneficiar o aluno ao longo de sua formação acadêmica.

É fato que um melhor aproveitamento do aprendizado e da experiência acadêmica no seu conjunto se dá em razão dos conhecimentos obtidos na disciplina de Metodologia. A referida disciplina propedêutica vai muito além do necessário preparo para a elaboração do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), como pensam alguns.

As técnicas de estudo e leitura, os modos de análise, pensamento e escrita compatíveis com o rigor científico, as técnicas de produção de conhecimento válido, as normas de elaboração de resenhas, resumos e monografias, a redação científica, os projetos de pesquisa e suas etapas, as fontes de pesquisa, os métodos de abordagem e procedimento, as tipologias da pesquisa, entre outros tópicos, tudo isso há de enriquecer a jornada do estudante em seu percurso universitário.

A formação acadêmica como é sabido não se limita ao cotidiano da sala de aula. Assistir às aulas, fazer os trabalhos e sair-se bem nas avaliações está longe de ser o suficiente. Ao longo dos cursos de graduação o acadêmico deve preocupar-se com o contínuo enriquecimento de sua formação, participando de eventos científicos, fazendo estágios, lendo obras de interesse, participando de grupos de pesquisa e publicando artigos em revistas especializadas com o apoio dos professores orientadores.

Há quem sustente a ideia de que algumas práticas comuns no ambiente universitário, como a pesquisa e a publicação, não condizem com o período da graduação. Não é verdade. Antes mesmo do ingresso nas universidades é possível encontrar estudantes que se destacam com louvor na área da ciência e da pesquisa, como comprova o Prêmio Jovem Cientista do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), atribuído também a alunos do nível médio de todo o país.

Os melhores educadores são unânimes em afirmar que não se deve transformar a pesquisa científica numa atividade reservada a uma elite. Qualquer estudante pode e deve participar de experiências científicas. A consolidação qualitativa do aprendizado exige uma ampla e necessária formação científica antes, durante e após a fase da graduação.

Em todo o país, nas escolas públicas de ensino médio, é comum ver alunos estudando Física, Química e Biologia sem que tenham qualquer contato com experimentos científicos, o que ocorre em razão da ausência de laboratórios e equipamentos. Para que tal realidade não se perpetue, é imprescindível que o aluno seja incentivado a enveredar-se pelos caminhos da pesquisa e do conhecimento científico já nos primeiros anos da graduação.

Outro hábito fundamental a ser desenvolvido pelo estudante de graduação é o hábito da leitura. Através da leitura o aluno aprofunda os conhecimentos adquiridos em sala de aula e familiariza-se com o vocabulário técnico das obras especializadas. Ler com assiduidade eleva ainda a capacidade de redigir com presteza e objetividade.

Vale dizer que o maior desafio para o aluno ao se deparar com a necessidade de elaborar um trabalho científico não está no domínio de normas técnicas como as da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), mas no domínio da redação. Uma grande maioria simplesmente não sabe escrever, fato que denuncia a ausência do hábito de leitura. Ademais, no Brasil, muita gente ingressa no ensino superior sem o pleno domínio da língua portuguesa.

O grave problema do plágio nos TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso) em faculdades de todo o país, retrata exatamente a dificuldade do aluno com a redação. Copiar um texto sem referenciar a autoria original, fazendo-se passar pelo autor, é um ato antiético, antipedagógico e, sobretudo, é um ato ilícito previsto em lei. Na elaboração de trabalhos acadêmicos e monografias o estudante pode e deve fundamentar seus dizeres com citações de autores nacionais e estrangeiros, porém sempre fazendo as devidas referências.

Para além do pleno domínio da língua portuguesa e da redação científica, sugere-se ainda, para o aluno de graduação, o domínio de uma língua estrangeira. Saber ler em inglês ou francês, por exemplo, facilita o acesso às fontes de pesquisa. Com efeito, muito do que se encontra publicado em revistas especializadas e mesmo na rede mundial de computadores, na área da ciência e do conhecimento, permanece em língua estrangeira.

O aluno bem articulado com as orientações metodológicas de acesso ao conhecimento acabará naturalmente se sobressaindo. É o que se vê em algumas dentre as melhores universidades públicas brasileiras, onde jovens graduandos se destacam na condição de pesquisadores-bolsistas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Nos programas de iniciação científica mantidos pelos órgãos de fomento à pesquisa, são desenvolvidos trabalhos orientados nas mais diversas áreas do conhecimento. Desde os primeiros anos da graduação o estímulo à pesquisa rende ao estudante uma gama infinita de conhecimentos.

A estreita articulação entre ciência, pesquisa e ensino de graduação tem sido uma das orientações propostas pelos especialistas em educação superior no país. É necessário, portanto, construir um sistema universitário que proporcione tanto a formação científica sólida, quanto a ampla divulgação das recentes conquistas da ciência e da tecnologia para todos os interessados. Isto somente se dará no contexto de uma instituição de ensino comprometida com a prática da pesquisa científica e seus métodos específicos de atuação.

No ensino superior privado, onde se encontra a maioria dos estudantes de graduação do país, lamentavelmente tem prevalecido uma mera preocupação com a formação do profissional voltado para os interesses de mercado. Ignora-se, frequentemente, que na atual sociedade do conhecimento – onde o vínculo com a universidade deverá permanecer por toda a vida – o aluno, desde a graduação, precisa aprender a buscar novos conhecimentos para além do aprendizado em sala de aula. Nas palavras de Alberto Senapeschi (2003) “a velocidade do progresso científico e tecnológico e da transformação dos processos de produção torna o conhecimento rapidamente superado, reclamando atualização contínua e impondo novas exigências para a formação do cidadão”.

O vínculo entre ensino e pesquisa, precisamente em razão do acima exposto, está fundamentado na ideia de que a busca sistemática, metódica e apaixonada pelo saber não termina com o fim dos cursos de graduação. Durante toda a experiência de vida acadêmica e, sobretudo, durante o exercício da prática profissional se fará necessária uma contínua atualização quanto às inovações do conhecimento.

Na medida em que a universidade se propõe a formar cientistas e pesquisadores desde os primeiros anos da graduação, esta contribuindo no sentido de consolidar uma educação superior de qualidade, pautada na autonomia do indivíduo/cidadão e conectada com as exigências profissionais da pós-modernidade.

SUGESTÕES DE LEITURA:

DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. Petrópolis: Vozes, 2002.

FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

MATTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da informática. São Paulo: Saraiva, 2002.

SENAPESCHI, Alberto. Ciência, tecnologia e cidadania. In: Educação para a cidadania. MARTINS, J.P.; CATELLANO, E. São Carlos: Edufscar, 2003.

Publicado em 23 de julho de 2013

Publicado em 23 de julho de 2013

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