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A história da exclusão sociocultural brasileira

Prof. Dr. Eduardo Marques da Silva

Ilustração

Os séculos XVII, XVIII e XIX deixaram, em suas épocas, características que permitem observar a nossa história social. Nossa sociocultura tem terríveis lembranças nessas questões, principalmente no social local e sociocultural de suas histórias. Já se assistiu, com a abolição da escravatura, a um despejo gigantesco de braços no mercado de trabalho, que até agora ficou em grande parte sem observação adequada, entregue às possibilidades individuais de seus personagens, guardando suas épocas socioeconômicas e políticas.

A maior questão de todas foi a aceitação de seus rebentos numa inclusão social. Muitos dos libertos acabaram caindo na mais absoluta exclusão sociocultural, guardando-se os exageros. Mas o maior problema para a pós-escravidão foi a mimese (Maffesolli, 1996), fruto de uma catequese imperialista tanto na antiga colonização quanto no moderno colonialismo imperialista pós-industrial. Fruto hoje da globalização, principalmente pela nossa classe média ou de quem estava na transitoriedade social.

A fase contemporânea tem o início em uma pequena fase conhecida como “era da modernidade”: capitalismo liberal, livre iniciativa, livre concorrência, lei da oferta e da procura; “imperialismo” – Estado gerente, Estado regulacionista. Foi uma fase de grande confusão e conflito político-ideológico.

Visão cartesiana: a soma das partes é igual a tudo (ainda em 1870). Ocorre que agora ainda se quer mão de obra de acordo com o velho modelo de capitalismo industrial (cartesiano), mas já se delineiam os sinais do futuro cérebro de obra da visão holística em que as partes são iguais ao todo.

Com o olhar científico moderno, afirmamos que o limite do homem foi sempre verificar a composição, entender a maneira como se apresentam as partes, compreender suas articulações, entender o sentido de seus movimentos, sempre decompondo componentes, conceituando-os, desmontando-os, para montá-los novamente com o claro objetivo de dominar suas formas.

Não é mais mistério que a concepção sociológica da relação entre o todo e as partes – que alimentou diversas teorias científicas e das quais passou a uma metodologia nas ciências sociais – mostra que é no todo que se encontram características que não se explicam pelas relações entre seus elementos componentes, nem são redutíveis a eles. Não há mais dúvidas sobre isso. O ‘organicismo’ é uma visão do ‘holismo’, principalmente porque explica os organismos como sistemas complexos, em que as partes perdem sentido, natureza, função e até existência quando removidas do todo.

Repele toda interpretação que seja individualista; sustenta a necessidade de conjuntos ou todos dotados de natureza, funções e finalidades próprias, que influenciam e arrastam os indivíduos-membros.

A corporificação dos grupos de pessoas componentes das “sociedades paralelas” (nas palavras de Schmith), ou corpos sociais e socioculturais autônomos, como vemos hoje nas favelas, deve ser observada na perspectiva de sua natureza monística ou mesmo monovalente.

Vale afirmar que não se pode entender o punk, o dark, o drogado, o nazista, o homossexualismo e outros fora dos seus respectivos grupos ou corpos. O que lhes confere autenticidade, justificativa, significação e sentido de vida é a sua corporificação grupal, pois lhe dá consistência social. Esta é sempre marcada por alguma energia que os interliga, perpassando seus sentidos e comportamentos intra e intergrupos.

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Publicado em 30 de julho de 2013

Publicado em 30 de julho de 2013

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