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Dinâmicas para trabalhar as questões de gênero e sexualidade na escola

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

Mestrando no Prodema/UFPB; pesquisador do Gepec-Gepea/UFPB; Professor da Prefeitura de Cabedelo

Introdução

Um dos grandes problemas de gênero é ainda evidenciado pela misoginia, que é a aversão às mulheres, que até pouco tempo ocorria intensamente, por exemplo, na China. Mas, como percebemos nos casos de violência, esse modelo de tratamento sobre o gênero feminino ainda está presente no âmago dos homens e da sociedade. O que mudará esse paradigma é a elevação cultural, social e educacional da população, por meio de investimentos maciços nessas três esferas, além da aplicação de leis e medidas punitivas mais severas, já que a sensação de impunidade parece ser um fator incitador aos agressores (PEREIRA, 2006).

Os movimentos de igualdade se iniciaram com a Revolução Francesa, em 1789, e as lutas pela emancipação da mulher iniciadas no século passado vieram para quebrar os tabus e o machismo patriarcal presente no âmago da formação das sociedades. Dentre as inúmeras conquistas desde então, o voto, o trabalho e as relações de poder vêm favorecendo cada vez mais o gênero feminino, e a sociedade está finalmente reconfigurando sua característica e tornando-se a cada dia mais igualitária aos gêneros (NASCIMENTO; CÓRDULA, 2012).

Cabem ainda mudanças profundas na formação da família, base da sociedade, com início nas escolas em seus processos educativos para formar novas gerações sensíveis às questões de gênero e, com isso, promover mudanças sociais na população, para extinguir ao longo do tempo os preconceitos. Além deste, temos também marcadamente o preconceito quanto à orientação sexual individual, principalmente quanto aos seus reflexos na população, que é evidente pela homofobia (BRASIL, 2012).

Descrição do local e público-alvo

O presente trabalho foi desenvolvido no segundo semestre de 2012 com 19 alunos do 8° ano, turma C, do turno da tarde da Escola Pública Municipal Major Adolfo Pereira Maia, de Cabedelo, na Paraíba. Os alunos possuem entre 13 e 14 anos; a turma é composta por 7 meninos e 12 meninas, todos moradores do entorno da escola ou de bairros circunvizinhos.

Metodologia e material

O método empregado foi a pesquisa qualitativa participante (ABÍLIO; SATO, 2012; MARCONI; LAKATOS, 1982), com realização de três oficinas temáticas de vivência pedagógica, com o intuito de estimular o alunado à sensibilização e à consciência quanto à temática em questão, com atividades lúdico-pedagógicas reflexivas, com oficinas pedagógicas.

O material utilizado foi fornecido pela própria escola, sendo em sua maioria material de papelaria (papel madeira, papel A4, lápis hidrocor, giz de cera, balões de aniversário) e aparelho de som para passar apresentação de músicas temáticas previamente escolhidas e distintas para os três momentos (MPB e new age), para estímulo dos alunos e propiciando momentos de reflexão e percepção dentro das oficinas.

Todos os dados foram cuidadosamente trabalhados, e os procedimentos respeitaram os padrões da Pedagogia e da Ética para pesquisas com seres humanos, conforme a Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), tendo plena autorização da direção da escola.

Resultados

Oficina 1: Sensibilizar o alunado quanto à problemática dos tabus e preconceitos nas relações de gênero na sociedade.

Todos os alunos participaram e se engajaram no desenvolvimento da atividade proposta. Foi conduzida uma dinâmica de interação social utilizando balões com mensagens em seu interior, que foram jogados para o alto, misturados e cada aluno escolheu um novo balão que foi estourado e lida a mensagem em seu interior (CÓRDULA, 2011). Após a leitura houve debate e compartilhamento da percepção individual e coletiva dos participantes (socioperceptiva) (Foto 1).


Foto 1: Oficina 1 com dinâmica com balões e sensibilização socioperceptiva.

Oficina 2: Trabalhar a igualdade de gênero nas relações sociais e trabalhistas com o alunado.

Foi trabalhada a questão de gêneros e diversidade sexual por meio da leitura e interpretação de textos, com momento de debate didático sobre a temática e mediação pedagógica do professor-facilitador (Foto 2).

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Foto 2: Alunos após leitura, interpretação e debate didático, mostrando seus comentários pessoais produzidos.

Oficina 3: Estimular a formação do pensamento cidadão, com reflexos a respeito a identidade humana e quebra de preconceitos étnico-raciais, de idade e de gênero.

Foi realizada a construção textual com a produção em grupo de painéis sobre a temática de igualdade de gêneros na sociedade atual e apresentação compartilhada dos trabalhos produzidos (Foto 3).

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Foto 3: Oficina de produção textual com painel temático.

Considerações finais

Nosso dever, como educadores, é primeiramente quebrar nossos mitos, tabus e preconceitos, reformulando nossos conhecimentos e nossa percepção sobre todas as questões que envolvem os gêneros e a orientação sexual, para em um segundo momento atuarmos de forma a sensibilizar nosso alunado, modificando suas atitudes e pensamentos, com reflexos ao longo do tempo, na formação de uma cultura de igualdade que será externalizada por seus comportamentos dentro e fora da escola. Adotando práticas educativas com metodologias e técnicas inovadoras, poderemos trabalhar a temática e transformar a vida dessas crianças e adolescentes para que em um futuro muito próximo possam mudar a sociedade não só para um patamar de qualidade, mas sim, de igualdade humana.

Portanto, devemos reconstruir a identidade do cidadão, com vista a mudanças desse paradigma social negativo que ainda permeia a sociedade brasileira. Tal trabalho é dever da família, da comunidade, da sociedade e das entidades governamentais e não governamentais, tendo como centro a escola, para constituir uma rede de sensibilização e conscientização para tomadas de mudanças reais e concretas no comportamento e no pensamentos das pessoas, do indivíduo à coletividade.

REFERÊNCIAS

ABÍLIO, Francisco J. Pegado; SATO, Michele. Métodos qualitativos e técnicas de coleta de dados em pesquisas com Educação Ambiental. In: ABÍLIO, F. J. P.; SATO, M. Educação Ambiental: do currículo da Educação Básica às experiências educativas no Semiárido Paraibano. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2012, p. 19-76.

BRASIL. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília: CNS/MS, 1996. Disponível em: http://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm. Acesso em: 21 fev. 2009.

______. Conceito de gênero. Curso de gênero e diversidade sexual, Texto 1, 2012. Disponível em: http://moodleplus.virtual.ufpb.br/file.php/100/Texto_1_Conceito_de_genero.pdf. Acesso em 10 nov. 2012.

CÓRDULA, Eduardo Beltrão de Lucena. Dinâmica da ecossocialização compartilhada. Revista Educação Ambiental em Ação, Novo Hamburgo, ano IX, n° 35, mar-mai/2011. Disponível em: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=978&class=02. Acesso em: 13 mar. 2011.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1982.
NASCIMENTO, Glória Cristina Cornélio do; CÓRDULA, Eduardo Beltrão de Lucena. A hermenêutica ambiental e Educação: tecendo saberes e pensamentos. In: CANANÉA, F. A. Educação Dialogada. João Pessoa: Imprell, 2012, p. 63-80.

PEREIA, K. R. S. A misoginia nos Lais de Marie de France. In: NASCIMENTO, J. C. do; BLUME, L. H. S. III Encontro de História: poder, cultura e diversidade. Caetité: UNEB, 2006, Anais... Disponível em: http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_III/katia_rosane.pdf. Acesso em: 16 abr. 2012.

AGRADECIMENTOS

À Escola Pública Municipal Major Adolfo Pereira Maia, do município de Cabedelo, e a todos que a compõem.

Publicado em 27 de agosto de 2013

Publicado em 27 de agosto de 2013

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