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Reflexões sobre a ação docente frente ao aluno indisciplinado nas séries iniciais do Ensino Fundamental

Viviane Boechat de Oliveira Lourenço

Licenciada em Pedagogia (FABEL)


Introdução

Grandes são os desafios de uma aula construtiva e prazerosa. Hoje, muitos educadores se queixam da indisciplina dos alunos. As causas variam: falta de limite do educador e problemas de consequências familiares, sociais, entre outros.

Quando a indisciplina se torna um ponto excessivo na sala de aula, é hora de o educador refletir e analisar os fatos. É momento de repensar as regras propostas sobre o grupo. Se essas regras estariam ineficazes no momento estabelecido ou se seriam consequências familiares.

A escola é um espaço de educação mediador entre a família e a sociedade; desse modo, suas medidas comportamentais e disciplina precisam ser mais rígidas que as medidas familiares e menos rígidas que as da sociedade.

Na sala de aula ou em qualquer ambiente onde haja aprendizagem, a autoridade não pode ser confundida com autoritarismo. Estabelecer limites para os alunos não significa mostrar “quem manda”, mas prepará-los para a vida. É possível ter autoridade sem castigar ninguém. Trata-se, então, de ensinar os alunos a serem responsáveis pelo respeito e pelas regras em comum. Para Tiba (2006, p. 113) “criar uma criança é fácil; basta satisfazer-lhe as vontades. Educar é mais trabalhoso. Trata-se de prepará-la para viver saudavelmente em sociedade”.

Como não se questionar sobre o papel do professor? O que se espera dele? O professor precisa fazer o papel de mediador entre os alunos para que eles aprendam a conviver entre seus semelhantes. Além disso, surge a necessidade de ensinar também as normas de conduta básicas, que deveriam vir da família. Parolin (2011, p. 22) diz: “Sem dúvida, educar não é tarefa fácil, especialmente nos dias atuais, quando a inversão de valores e a falta de referência redesenham as relações humanas, deslocando os papéis e responsabilidades”. É preciso então conhecer um pouco da realidade de cada aluno, pois muitos permanecem sozinhos durante todo o dia, enquanto os pais trabalham. A ausência de um responsável para dar-lhes as devidas orientações possibilita que essas crianças sejam influenciadas pela televisão, pela internet e por amigos, é aí que entra o educador, com seu desafio de educar e, em muitos casos, fazer o papel que fora designado à família.

Quando o educador encontra a causa da indisciplina, que varia de educando para educando, é preciso ajudá-lo e não puni-lo, pois a punição, na maioria dos casos, gera indisciplinas maiores que as anteriores. Educar exige segurança, clareza de objetivos, coerência, dedicação, tempo e persistência. Não é tarefa fácil para o educador disciplinar uma criança. Portanto, se ele quer ter uma aula prazerosa, é preciso criar laços de carinho e respeito com o aluno.

Esta pesquisa tem como foco algumas reflexões sobre a ação docente frente ao aluno indisciplinado nas séries iniciais do Ensino Fundamental.

A indisciplina escolar é um grande desafio a ser enfrentado pelos educadores, uma vez que comportamentos indisciplinados são vistos como obstáculos para uma aula construtiva e agradável.

O artigo apresentado pretende pesquisar, investigar e levantar questões relacionadas ao que pode causar a indisciplina na sala de aula, assim como apresentar possíveis soluções e sugestões relacionadas à disciplina/indisciplina na sala de aula. O tema em questão vem crescendo e é fruto de uma sociedade na qual valores humanos têm sido abandonados.

Dessa forma, pretende-se delimitar algumas causas da indisciplina escolar, tais como problemas sociais, conflitos familiares, transtornos comportamentais, relação professor-aluno, práticas pedagógicas e educacionais.

Problema

A formulação do problema desta pesquisa foi motivada pelo meu interesse em descobrir as principais causas da indisciplina nas crianças que frequentam as séries iniciais do Ensino Fundamental. Nessa perspectiva, há os seguintes questionamentos a serem discutidos: “Que fatores contribuem para o aluno ser indisciplinado?”; “Qual o melhor recurso para abordar a indisciplina na sala de aula?”; “Como um educador pode prevenir uma possível ‘desordem’ na sala de aula?”; “Quais as consequências de uma aula agitada?”; “Qual o papel da família frente a essa problemática?”, entre outros que surgiram ao longo da pesquisa.

Objetivos

Este trabalho tem como objetivo refletir e rediscutir a ação docente frente aos problemas de indisciplina escolar causados nas séries iniciais do Ensino Fundamental, analisar os diferentes conceitos de disciplina, identificar alguns fatores que interferem na disciplina escolar, propor meios que viabilizem a noção de regras e limites e investigar estratégias que proporcionem ao aluno a construção do processo ensino-aprendizagem a partir da relação escola-aluno e professor-aluno.

Metodologia

Neste artigo foi realizada uma análise documental a fim de refletir o comportamento dos alunos nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Apresenta-se uma pesquisa de cunho bibliográfico de obras científicas, como livros, periódicos e artigos publicados em versão impressa e digital, que abordem o tema e que embasem teoricamente o artigo.

Conceito

A indisciplina tem sido alvo de inúmeras discussões entre os educadores brasileiros em todos os níveis de ensino, desde a Educação Básica até o Ensino Superior, conforme afirma Aquino (1996). A forma com que terão de enfrentar os alunos desafia novos e antigos professores. Aquino (1996, p. 20) afirma: “Muitos têm medo de enfrentar a sala de aula, não apenas por temerem não ter êxito na tarefa de ensinar, mas sobretudo por não saberem se receberão tratamento digno por parte de seus alunos”.

Professores relatam que a questão disciplinar é, atualmente, uma das dificuldades fundamentais no trabalho escolar. Para eles, o ensino teria como um de seus obstáculos principais a conduta desorganizada dos alunos, traduzida em termos como: bagunça, tumulto, falta de limite, mau comportamento e desrespeito às figuras de autoridade, entre outras atitudes de afronta e provocação.

Para Parrat-Dayan (2011, p. 18), o conceito de indisciplina é definido em relação ao de disciplina: o conceito de disciplina se relaciona à existência de regras e o de indisciplina à desobediência a essas regras.

Até o século XIX, escola implicava disciplina e castigo, ou seja, o ensino exigia disciplina e a disciplina exigia castigo (Parrat-Dayan, 2011). Quem era disciplinado era submisso e obediente; quem era indisciplinado era rebelde e desobediente. Hoje, ser disciplinado não significa estar sentado todo o tempo sem produzir nenhuma fala ou comportamento diferente. Entende-se que todos são diferentes entre si e possuem uma identidade única que os faz ser diferentes. De acordo com estudos de Parrat-Dayan (2011, p. 97), “pensa-se hoje na autodisciplina – entendida como uma ordem interna –, e não mais na disciplina centrada na ordem exterior, como fazia a escola tradicional”.

O tema indisciplina é muito complexo, pois existem múltiplas causas, uma vez que articula várias dimensões. Além disso, assume formas diferentes em nossa sociedade atual, formas que não existiam em sociedades de tempos passados. Por muito tempo os pais levavam seus filhos à escola, as mães cuidavam das tarefas de casa dos seus filhos, ajudando-os nos deveres, e eles eram submissos aos pais e aos professores. Hoje, percebe-se a falta de acompanhamento familiar dentro da escola. Os pais precisam trabalhar e não apenas o homem, pois a mulher, que tanto buscou sua independência, hoje também trabalha para ajudar no sustento da família; sem contar os casos de crianças que são criadas apenas pela mãe ou pelo pai, avó, tio ou até mesmo pelos irmãos mais velhos. O que antes se entendia por família mudou muito na atualidade, o que compromete a educação dessas crianças que frequentam ou não a escola.

Os temas indisciplina, limites na educação e seu impacto sobre o processo de aprender têm sido tratados constantemente, tanto em congressos, seminários, grupos de estudos nas escolas quanto na mídia de modo geral. Todos os meses, em jornais e revistas de grande circulação, esse tema aparece acompanhado de algum episódio que lhe serve como disparador. A revista Nova Escola, por exemplo, fez em outubro de 2009 uma extensa matéria sobre o assunto. Uma reportagem de Beatriz Vichessi revelava a pesquisa realizada pela revista em 2007, quando foram entrevistados 500 professores, e 69% destes apontaram a indisciplina entre os principais problemas na sala de aula. “Doce ilusão! O comportamento inadequado do aluno não pode ser visto como uma causa da dificuldade para lecionar”, revela a escritora.

Diante desta problemática, surge a pergunta: o que pode causar a indisciplina na sala de aula? As causas são muitas. Para cada educador existe uma visão diferente de disciplina. Para alguns, um caderno descuidado já é uma manifestação de indisciplina; para outros, apenas o silêncio total na sala de aula é sinal de disciplina. Existem educadores que relatam entre os problemas de indisciplina a falta de pontualidade, os bocejos, o telefone celular que toca durante a aula e certas atitudes dos alunos ao tratar o professor como se fosse mais um colega. Além disso, as condições de ensino-aprendizagem, a relação professor/aluno, a falta de motivação, tanto por parte do aluno quanto por parte do professor, a ausência de regras, a falta de autoridade do professor, tudo isso pode ser causa da indisciplina na sala de aula.

Parrat-Dayan (2011, p. 9) acredita que “as causas da indisciplina estão mais nos contextos que a produzem do que no próprio indivíduo”. Ela ainda destaca que fatores como a dificuldade do aluno em ser reconhecido, a expressão dos maus-tratos que o aluno recebe ou dos problemas familiares como a crise econômica, as dívidas ou o desemprego podem ser as causas da indisciplina. Mas o grande problema persiste pelo medo que os adultos têm de estabelecer limites e regras. De acordo com Aquino (1996, p. 22), “a indisciplina em sala de aula não se deve essencialmente a ‘falhas’ psicopedagógicas, pois está em jogo o lugar que a escola ocupa hoje na sociedade, o lugar que a criança e o jovem ocupam, o lugar que a moral ocupa”.

Tiba (2006, p. 145) traz a resposta que muitos pais e professores procuram diante a ação de indisciplina: “Se os professores e pais tivessem conhecimento do que se passa com seus alunos e filhos, provavelmente muitos conflitos deixariam de existir”. Trabalhar a partir de um conflito é um instrumento pouco usado por pais e professores atualmente, já que o cansaço e a comodidade tomam conta muitas vezes, porém traz um efeito importantíssimo nos dias de hoje para que se possa evitar indisciplinas maiores.

Como educador, é preciso conhecer o aluno em todos os aspectos. Com quem ele vive, quem são os membros que compõem sua família, onde ele convive, o que faz nas horas em que não está na escola e até a profissão de seus pais. Ou seja, se o educador deseja ter uma aula prazerosa sem muitos conflitos, é preciso dialogar com seus alunos sempre!

Tiba (2006, p. 8) diz: “Criar é fácil, difícil é educar (...). Educar dá muito trabalho”. As permissões nascem do cansaço, da preguiça, do comodismo e da perda de referência dos pais em educar. E essa permissão às vezes está implícita no olhar ou até mesmo no tom de voz, apesar de a frase ser proibitiva. “Há que aprender a desistir um pouco da exigência louca de querer reencontrar no aluno real a criança ideal” (Aquino, 1996, p. 36). Não existe ninguém perfeito, assim como não existe aluno nem professor perfeito. Todos estão sujeitos às falhas, inclusive a própria escola, pois se a instituição não possui regimento de normas de convivência e conduta entre outras ‘regras’, o professor pouco pode fazer, pois se encontra sozinho em um mundo de permissões e não permissões. Os alunos apresentam comportamentos diferentes para cada professor e/ou pessoa da escola, por isso esta deve ter claro as atitudes permitidas e as regras de convivência.

É preciso entender também que um aluno questionador não um aluno indisciplinado. Ser disciplinado não é obedecer cegamente; é colocar para si próprio regras de conduta em função de valores que se quer alcançar.

Leia também Indisciplina escolar: conceito e característica.

Principais causas da indisciplina

Quando perguntamos aos educadores as causas da indisciplina escolar, obtemos como resposta uma série de fatores biológicos, familiares e sociais que envolvem esse ato.

Aquino (1996, p. 96) diz: “Ninguém nasce rebelde ou disciplinado, já que essas características não são inatas nem todo adolescente será necessariamente indisciplinado”, já que é impossível postular um comportamento padrão e universal para cada estágio da vida humana. Assim, o comportamento indisciplinado não surge de fatores isolados, como por exemplo, unicamente da educação familiar, da influência da TV, da falta de autoridade do professor ou da violência da sociedade atual, mas da multiplicidade de influências que recaem sobre a criança e o adolescente ao longo de seu desenvolvimento.

Em qualquer lugar existem alunos que não querem estudar e estão dispostos a fazer de tudo para arruinar a aula. Por isso, antes de qualquer coisa o professor precisa ser amigo de seus alunos. Para Tiba (2006, p. 128), “O ambiente também interfere na disciplina”. Portanto, um professor agitado e estressado terá alunos agitados e estressados. Esta é, então, mais uma das causas geradoras da indisciplina.

Para Tiba (2006, p. 113), “uma criança fala por meio de suas atividades mais do que por meio das palavras que pronuncia”; assim, uma criança com dificuldades em obedecer a regras revela outra necessidade. Isso não significa que a criança disciplinada não necessita de atenção, mas a criança que demonstra “problemas de comportamento” requer uma atenção especial, pois através de suas atitudes está revelando alguma necessidade do momento. Cabe ao educador, com um bom diálogo, olhar sensível e um pouco de conhecimento sobre o aluno, descobrir essa necessidade, que pode ter diversas causas.

Uma conduta atenta e amorosa do educador se faz necessária a todo instante para que o aluno percebido como “indisciplinado” não se torne agressivo. A agressividade, tanto em crianças como em adolescentes ou adultos, revela que algo não está bem.

Nem sempre a indisciplina pode ser associada à falta de limites dos pais ou dos professores. É preciso que o educador observe cuidadosamente os diferentes tipos de manifestações, que podem ser, na realidade, distúrbios que uma pessoa apresenta ao longo de sua jornada escolar e fora da escola. Os casos mais comuns são de Transtorno ou Distúrbio de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH ou DDAH), diretamente ligado aos distúrbios neurológicos.

Crianças (ou adultos) portadores de um desses distúrbios são inteligentes, mas agitados, apressados, impulsivos, inquietos, e geralmente com muita iniciativa, mas não conseguem acabar o que começaram.

Não é muito difícil perceber um aluno hiperativo, pois nem ele mesmo consegue conter sua agitação e sofre com isso, mas ele está sempre disposto a ajudar. É importante que o professor, ao analisar esse tipo de comportamento, registre em que situação ele é apresentado pelo aluno, com que frequência, que efeito traz para o aluno e para os outros alunos da escola, que estratégias de intervenção já foram experimentadas e qual a repercussão dessa mediação. “Esses registros têm o objetivo de contribuir para a identificação das necessidades educacionais do aluno, de modo que a escola busque respostas adequadas para seu processo de aprendizagem” (Aranha, 2002, p. 18).

Além das causas de origem orgânica, pode-se também citar como causa da indisciplina a perda de referências e do sentido de regras para o convívio. Parrat-Dayan (2011, p. 56) responde à pergunta sobre qual seria a principal causa da indisciplina nas escolas: “A falta de referências numa sociedade individualista, a perda do sentido da regra e a perda do sentido da obrigação são fatores que podem explicar a indisciplina”. O que precisa ser compreendido neste objeto de estudo é que a indisciplina não surge apenas por problemas familiares ou sociais, nem pelo fato de encontrar alguns professores despreparados, nem escolas ou profissionais descontextualizados ou até alunos com distúrbios neurológicos, mas por uma série de fatores. Por isso o professor precisa a todo momento reformular seu olhar sobre o aluno, na tentativa de traçar meios para os quais haja melhor desenvolvimento dele, entendendo que cada um possui características únicas e singulares.

Além disso, as causas de indisciplina dos alunos associadas aos problemas familiares variam entre a influência dos meios de comunicação, o divórcio, a droga no convívio familiar, o desemprego, a pobreza, a moradia inadequada, a ausência de valores, a desistência por parte de alguns pais em educar os filhos, a permissividade sem limites, a violência doméstica ou infantil, ou até a agressividade de alguns pais com professores. Todos esses fatores podem estar na raiz do problema.

Algumas ações preventivas

Como minimizar os problemas relacionados à indisciplina? Muitos educadores acham que com gritos, brigas e ameaças constantes terão alunos com o comportamento que desejam. Mas na prática é muito ao contrário. Professores estressados formarão alunos estressados também; professores calmos farão com que até os alunos agressivos se tornem mais calmos, como ele.

As crianças não vão deixar de bater em seus colegas e de fazer bagunça na sala de aula simplesmente porque a professora mandou ou porque ameaçou mandá-los para a diretoria! Quem trabalha com educação sabe que isso só funciona com a criança que tem medo do adulto, e que esse tipo de postura por parte do professor em nada ajuda ao aluno; ao contrário, ajuda a resolver o problema dele, professor, apenas naquele momento.

Contudo, uma boa disciplina em sala de aula não é função única e exclusiva do professor. A escola é um grupo de que todos os envolvidos fazem parte. Antes de um bom professor em sala de aula, é necessário haver uma equipe gestora eficaz, com objetivos claros, que saiba trabalhar em conjunto com a unidade escolar e a comunidade. É preciso que a escola trabalhe em unidade. Uma equipe unida fará uma escola consolidada e com resultados positivos. O pedagogo é a peça fundamental que vai estabelecer a conexão entre a escola e a comunidade, entre o professor e a direção. Para Tiba (2006, p. 22), “Professores e orientadores têm dificuldade de estabelecer limites na sala de aula e não sabem até que ponto devem intervir em comportamentos inadequados que ocorrem nos pátios escolares”.

Um orientador escolar, seja ele pedagógico ou educacional, precisa estabelecer laços de responsabilidade e cuidado no âmbito educacional. É ele quem vai estar ao lado do professor dando-lhe sugestão e motivação para uma aula significativa. Ele precisa estar atento às regras de convívio da escola para fazer essa ligação entre o professor e seus alunos. Do mesmo modo, precisa conhecer e analisar as regras trabalhadas em sala de aula por cada professor para que possa tratar com o aluno indisciplinado. O orientador precisa compreender quais são os “permitidos” e os “não permitidos” por cada professor e promover uma reflexão coletiva, como as assembleias com alunos, coordenadores, inspetores, equipe gestora, professores e pais, com o intuito de fechar um ‘acordo’ coletivo sobre regras e estratégias que a escola, como uma unidade, deve assumir diante da indisciplina.

Uma ação adequada do orientador será imprescindível para o aluno e poderá repercutir no seu desenvolvimento não só em sala de aula, mas também no seu caráter como indivíduo na sociedade. Um trabalho preventivo de boas condutas pode ser uma excelente opção para turmas que apresentem dificuldade de comportamento.

Muitos professores usam “as regras” ou “os combinados” para esclarecer ao aluno que ele está fora daquilo que se espera ou que está com atitudes indisciplinadas. Essas regras ou combinados são contratos feitos anteriormente. Para Parrat-Dayan (2011, p. 14), “Se não houver regra, nem sanção, nem qualquer corretivo, os alunos se sentem poderosos e ao mesmo tempo perdidos, sem limites”. É necessário, em primeiro lugar, que as regras sejam estabelecidas pelo grupo, entendendo que o professor é parte integrante e não externa a ele e tem autoridade inerente que lhe é atribuída por seu papel. Mas, em segundo lugar, é necessário que esse mesmo professor não extrapole suas funções de membro coordenador e mediador do grupo e não tente ser o “dono” da sala e das regras, aquele que tudo determina, que tudo cobra, que diz quem está certo e quem está errado, que aplica sanções e dá recompensas. Dentro da sala de aula, o professor não deve ser único que toma as decisões; ao contrário, deve consultar e debater com os alunos.

Toda regra vem acompanhada de uma sanção, em caso de transgressão. A sanção pode ser entendida como uma medida para normalizar e submeter (é como uma punição por ter quebrado uma regra, assim como acontece com as leis de trânsito), para que se respeite a regra. Os alunos que percebem regras claras, ações valorizantes e sanções sem ambiguidades têm menos problemas de indisciplina; por isso é preciso criar as regras junto com eles e sanções adequadas para cada transgressão. Por exemplo: se o aluno não fez o dever porque estava brincando, vai precisar fazê-lo na hora que seria de brincar; ver seus amigos brincando e ele fazendo a tarefa só não vai ser bom; assim, da próxima vez pensará duas vezes ao invés de brincar na hora de fazer a tarefa proposta. Contudo, a escola e a família precisam estar cientes de todas as regras, participando em diversos momentos para que o acordo coletivo possa ser não só relembrado, mas sim que cada regra seja refletida pelos alunos, professores, orientadores e pais. Caso contrário, a família poderia acusar a professora de privar o filho de brincar – o que é um direito – e acusar a escola de conivente.

Se o professor passa para esse aluno uma cópia como punição por ter quebrado a regra, essa punição não tem sentido para ele e de nada vai adiantar a punição. Ela precisa ter sentido, ou seja, por causa da brincadeira ‘fora de hora’, ficará sem brincar ‘na hora de brincar’. Como, por exemplo, fazer o aluno devolver o objeto que pegou do colega ou limpar algo que sujou. Não faz sentido colocá-lo para fora de sala simplesmente porque descumpriu uma regra. Colocá-lo para fora de sala não vai dar sentido ao estabelecido no combinado e ainda pode perder a autoridade do professor. É preciso resolver com diálogos constantes. “Os professores concordam cada vez mais em dizer que a solução não está em castigar, expulsar os alunos ou enviá-los à sala do diretor. O civismo e a convivência não são valores que podem ser conseguidos num dia só” (Parrat-Dayan 2011, p. 59).

Outro exemplo é o fato de uma criança ficar sem recreio por haver brigado com um colega; então não haverá nem reflexão sobre o fato nem a possibilidade de reconciliação entre eles. A criança terá simplesmente perdido seu direito a brincar. Se, ao contrário, propicia-se um diálogo reflexivo sobre o que aconteceu, pode-se favorecer um pedido de desculpas, a reconciliação entre as crianças e a compreensão do problema de forma mais coerente. Para Parrat-Dayan (2011, p. 85), “os programas mais eficientes são os que se fundam no encorajamento ao aluno e não na repressão”.

Não basta que a criança cumpra as regras; o importante é favorecer a formação de futuros adultos que possam julgar de forma autônoma, independentemente do fato de serem castigados ou recompensados. As regras devem ser percebidas não apenas como obrigações, mas também como direitos. Tiba (2006, p. 84) afirma que “castigo não educa uma criança. O que educa são as consequências de seus atos”. O princípio da consequência serve para que a criança identifique o erro e o corrija, e assim aprenda a não errar mais.

Se a criança quebrar uma regra do combinado, ele perderá o privilégio “x”. É preciso cumprir o prometido. Combinado é combinado! A proibição tem que estar clara e bem decidida internamente. É um não para o qual não há argumentos. É necessário que haja relação entre as regras e as sanções. A lógica que liga as regras e as sanções permite a constante reavaliação de sua validade, segundo Parrat-Dayan (2011, p. 14). Dessa forma, as regras são construídas, reconstruídas e vivenciadas ao longo do processo de internalização, reflexão e prática; sendo assim, não é mais necessário ser relembradas, pois fazem parte do cotidiano e das condutas assumidas como normais. Torna-se parâmetro de convivência. Porém outras regras podem ser necessárias diante da dinâmica da convivência.

Frente a uma situação de prêmio não merecido, o primeiro pensamento que surge na mente do aluno é que não vale a pena se empenhar para ter bom desempenho. Tiba (2006, p. 162) alerta que “não se premia uma promessa, mas sim uma realização”. Quem ganha sem merecer acaba acreditando que o mundo deve premiá-lo por nada fazer. Se o líder da equipe não tomar uma atitude, o restante da equipe não vai se esforçar.

O papel da família

A família, entendida como primeiro contexto de socialização, exerce evidentemente grande influência sobre a criança e o adolescente. A atitude dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e, consequentemente, influenciam o comportamento da criança na escola.

Moreno e Cubero (1995, apud Aquino, 1996, p. 97) identificam na literatura especializada três estilos de práticas educacionais paternas predominantes na maior parte das famílias e suas influências sobre o comportamento da criança. São elas: “pais autoritários”, “pais permissivos” e “pais democráticos”. Segundo esses autores, pais autoritários são aqueles que, além de serem pouco comunicativos e afetuosos, são bastante rígidos, controladores e restritivos quanto ao nível de exigência de seus filhos. Pais permissivos são aqueles que valorizam o diálogo e o afeto, as opiniões das crianças são frequentemente solicitadas e quase sempre aceitas; são pais que têm enorme dificuldade em exercer algum tipo de controle sobre a criança. Por último, pais democráticos são aqueles que parecem conseguir maior equilíbrio entre a necessidade de controlar e dirigir as ações infantis, de exigir seu amadurecimento e independência, o respeito às necessidades, capacidades e sentimentos de seus filhos. São pais que apresentam níveis altos de comunicação e afetividade e que normalmente estimulam as crianças para que expressem suas opiniões sobre determinados aspectos que as afetam.

As consequências de cada um desses estilos no comportamento da criança são bastante significativas: as que recebem educação familiar autoritária tendem a manifestar, entre outros aspectos, obediência e organização, mas também maior timidez, apreensão, baixa autonomia e autoestima.

Os filhos de pais permissivos, apesar de mais alegres e dispostos que aqueles que recebem educação autoritária, devido às poucas exigências e controle de seus pais, tendem a apresentar comportamento impulsivo e imaturo, assim como dificuldade em assumir responsabilidades. Já os que recebem educação democrática, além de apresentar significativo autocontrole, autoestima e capacidade de iniciativa, autonomia e facilidade nos relacionamentos, tendem a demonstrar que os valores morais difundidos em sua família foram interiorizados: parecem ser capazes de assumir determinadas posturas por seus valores intrínsecos e não pelo temor às sanções externas. Aquino (1996, p. 98) afirma que “é impossível negar, portanto, a importância e o impacto que a educação familiar tem (do ponto de vista cognitivo, afetivo e moral) sobre o indivíduo”.

Tiba (2006, p. 72) lembra que “nenhuma família pode ser regida por crianças”. As relações entre pais e filhos, antes marcadas pela autoridade, hoje têm se modificado bastante. Há uma tendência para que essa relação com a criança seja marcada pela negociação. Não é fácil para os pais reconhecerem até que ponto estão ajudando ou atrapalhando seu filho.

Como é possível educar um filho sem cair nessa armadilha? Sem ter que prometer presentes e dinheiro para que ele faça aquilo que, acredita-se, seria o melhor para ele? Parolin (2011, p. 22) responde a essa pergunta: “Pais são pais, não são ‘amigos’ dos seus filhos. Isso não exclui a necessidade de respeito, amizade e afeto. Representa apenas que os papéis precisam ser revalorizados, redefinidos e reassumidos”.

Tiba (2010, p. 77) expõe algumas estratégias como: “Depois que os pais ensinarem uma regra ao filho, devem perguntar se ele a entendeu e pedir que ele lhes explique com as palavras dele”. A maneira de transformar uma informação em conhecimento é pedir ao filho que a repita com suas próprias palavras. Ele também acredita que “os pais não devem explicar toda hora a mesma regra”.

Além disso, o que realmente ensina ética a um filho é assumir as consequências dos seus atos. Simplesmente pô-lo de “castigo” não educa e não desenvolve a ética. Fingir que não percebeu, poupar, ou deixar de lado também não ajuda na educação dos filhos. Muitos pais, na busca de querer agradar aos filhos, comportam-se inadequadamente, aceitando dos filhos o que não aceitariam de ninguém. Assim, os pais perdem a autoridade educativa sobre os filhos, gerando indisciplina e prejudicando sua formação.

A impunidade deseduca; por mais amor que haja, é preciso mostrar as consequências de seus atos. “A escola nunca deveria tomar o lugar dos pais na educação, pois os filhos são para sempre filhos, e os alunos ficam apenas algum tempo vinculados às instituições de ensino que frequentam” (Tiba, 2006, p. 116).

Tratando a agressividade

A indisciplina abordada neste artigo não trata com especificidade a violência, porém não se pode falar de indisciplina sem pensar na agressividade, já que esta é consequência de um conflito que não foi resolvido. Embora não seja uma tarefa fácil, cabe ao professor tratar de cada caso. Para Tiba (2006, p. 17) “quando o professor não toma nenhuma atitude, os estudantes podem interpretar o fato como aprovação, e a situação tende a se agravar”.

Educadores devem lembrar que no grupo de alunos existem fortes rivais que podem influenciar de forma negativa toda a estrutura emocional de um aluno. Hoje, qualquer coisa que fuja do padrão imposto pelo grupo pode gerar o conflito denominado bullying.

Essa palavra émuito utilizada nos dias de hoje no ambiente escolar. “De origem inglesa e sem tradução ainda no Brasil, é utilizada para qualificar comportamentos violentos no âmbito escolar, tanto de meninos quanto de meninas” (Silva, 2010, p. 21).

Segundo Fante (2005, p. 45), foi Dan Olweus, psicólogo e pesquisador norueguês, quem desenvolveu os primeiros critérios para detectar o problema de forma específica, podendo diferenciar as interpretações como os atos de gozações ou relações de brincadeiras entre iguais, próprias do processo de amadurecimento do indivíduo. Porém, feitas de maneira repetitiva, podem tornar-se um incômodo para quem as recebe. As interpretações de brincadeiras ou gozações precisam esclarecer se tal situação é uma forma de ameaça, opressão, humilhação ou maus-tratos, caracterizando, assim atitudes de bullying, o que é uma agressão.

O pedagogo atento percebe claramente quando um aluno é o agressor e quem é o agredido. Intervenções específicas e gerais evitam esse tipo de situação. Além disso, em sala de aula, o professor precisa estar atento a todo momento, mantendo a calma em diversas situações e buscando resolver os conflitos da melhor forma. É muito importante deixar que o aluno fale por si. Ainda que o professor saiba quem está certo e errado em um conflito na sala de aula, ele precisa ouvir todos os lados e entender as partes. O que errou precisa ser punido de forma a analisar seus erros.

Silva (2010, p. 82) diz que “não existe sucesso ou qualquer outra realização material ou profissional que apague o sofrimento vivenciado por uma criança ou um adolescente afetado pela violência do bullying”. Cabe ao educador não deixar que isso ocorra em sala de aula. Ele precisa evitar ao máximo que um aluno seja vítima do bullying. A família e a escola têm o papel fundamental de prevenir o bullying. Ambas devem agir com atitudes pontuadas pelo amor, diálogo, justiça e solidariedade.

Percebe-se tanto nos adultos quanto em crianças e adolescentes que o nível de tolerância diminuiu; a sensibilidade acentuada e a não aceitação das frustrações aumentaram muito. Existe hoje uma tendência muito grande de as pessoas responderem com explosividade. Só porque uma criança passou no corredor e esbarrou na outra, esta já vê como um empurrão e, muitas vezes, quer bater. Fato complicado, porém corriqueiro em sala de aula. Por isso, é preciso que o educador, com a ajuda do orientador e do gestor, analise cada fato com amor, sensibilidade, conhecimento e, principalmente, com diálogo. Tiba (2006, p. 159) diz que “castigos, surras, punições simplesmente não educam. É preciso que os praticantes do bullying arquem com as consequências dos seus atos, isto é, desfaçam com as suas próprias mãos e esforço pessoal o mal que causam”.

As crianças aprendem a comportar-se em sociedade ao conviver com outras pessoas, principalmente com os próprios pais. A maioria dos comportamentos infantis é aprendida por meio da imitação, da experimentação e da invenção. Nesse caso, se os pais permitem que seus filhos façam tudo o que desejam, não estão ensinando noções de limites individuais e relacionais, nem ensinando o que podem e o que não podem fazer, por mais simples que isso seja. É preciso desde cedo ensinar o certo e o errado. É no ambiente familiar em que os princípios de amor e respeito são considerados que a criança deve criar relacionamentos significativos e duradouros, sendo capaz de desenvolver atitudes e valores humanos, sabendo respeitar e aceitar as diferenças de cada indivíduo; assim a criança aprenderá a lidar com seus próprios sentimentos e emoções, suprindo suas necessidades de amor e valorização, valores que ajudarão no desenvolvimento de habilidades, de autodefesa e autoafirmação.

Tiba (2006, p. 162) deixa claro que: “apagar um fogo é muito mais fácil que combater um incêndio”. É muito mais fácil cortar uma birra no começo, antes que ela se torne um conflito mais grave, com ofensas e agressões.

A violência começa cada vez mais cedo: ofender, ignorar, zoar, excluir, humilhar, ferir, perseguir, descriminar são verbos comuns nas brincadeiras de escola e muitas vezes vistos como próprios da idade, mas na verdade essas ações escondem uma violência silenciosa. Por tantas vezes, as escolas e os pais entendem que um apelido não ofende, um empurrão é brincadeira e pegar no pé do colega é engraçado. Tem até educador que chama o aluno pelo apelido pejorativo e contribui para disseminar a violência.

O pedagogo, como suporte para o professor e para a escola, está em meio a um problema para o qual ele precisa se apoiar nos conhecimentos da Psicologia, Pedagogia, entre outras áreas do conhecimento, assim como em sua prática diária e de tantos autores que estudam as relações pessoais, para tentar amenizar a questão. É imprescindível que os alunos sejam respeitados, buscando a garantia de seus direitos. As crianças precisam aprender que a violência não faz e não pode fazer parte de seu cotidiano; ela não é obrigada a conviver com esse tipo de manifestação. Cabe à escola, também, pensar na importância da articulação dos professores e pais que algumas vezes nem percebem que seus filhos são alvos de algum tipo de bullying, conscientizando-os da maneira correta de intervir, com clareza, concisão e como sempre alertando de quão graves são esses tipos de agressões e de como podem ser evitadas.

A indisciplina a partir das perspectivas teóricas de Durkheim, Piaget e Vygotsky

Silvia Parrat-Dayan, em seu livro Como enfrentar a indisciplina (2011), relata os olhares de Durkheim e Piaget em relação à disciplina dos alunos na sala de aula. Durkheim, sociólogo que escreveu sobre Educação Moral, acredita na educação tradicionalista e entra em contradição com as recentes aquisições da Psicologia e com as da Pedagogia nova. Para ele, “o espírito de disciplina é o ponto de partida de toda vida moral” (1978, apud Parrat-Dayan 2011, p. 33). Na sua perspectiva, é preciso existir não apenas uma disciplina forte, mas também penalidades escolares que sancionem a indisciplina. Para ele, os rituais são importantes na vida da criança.

Segundo Durkheim, as regras são necessárias e constituem um instrumento insubstituível da educação moral; o professor deve impô-las. Assim, tudo dependerá do professor. Para Durkheim (1978, p. 33), “na vida nem tudo é brincadeira, e por esse motivo é necessário que a criança se prepare para o esforço”. Ele acredita que o castigo deveria apagar ou reparar a falta cometida no desrespeito à regra. Mas o castigo, diz ele, apaga a falta na medida em que o sofrimento que se aplica à criança demonstra para ela que o professor levou essa falta a sério. Assim, a essência do castigo é uma linguagem que expressa o sentimento de que aquele ato foi reprovado pelo professor.

Piaget (1994, apud Parrat-Dayan 2011, p. 37), ao contrário de Durkheim, acredita que não é o professor quem tem que impor as regras às crianças; ele é um colaborador dessas regras. Para Piaget, a sociedade à qual queremos adaptar as crianças tende cada vez mais a substituir a regra da coação, dita por Durkheim, pela regra da colaboração. O desenvolvimento da colaboração e a cooperação diminuem o egocentrismo entre as crianças. Piaget afirma isto em seu livro O juízo moral da criança: “A moral da cooperação surge espontaneamente entre as crianças; no desenvolvimento, a moral da cooperação apresenta-se mais avançada que a moral da obrigação ou da coação” (1994, p. 37).

Enquanto Durkheim acredita e defende as regras por meio de coação (porém posiciona-se contra o castigo corporal), Piaget (1994, apud Parrat-Dayan, 2011) se mostra totalmente contrário. Para ele, “a coação não é a única maneira de adquirir a consciência da obrigação moral” (p. 37).

Para Piaget, existem dois tipos de regra e de autoridade: a regra devida ao respeito unilateral e a regra devida ao respeito mútuo, sendo uma totalmente oposta à outra. A regra da coação (defendida por Durkheim) está diretamente ligada ao respeito unilateral e é considerada sagrada. É exterior à consciência da criança e não é obedecida de maneira efetiva. Já a regra devida ao respeito mútuo e à cooperação nasce no interior da consciência da criança e é praticada positivamente na medida em que se relaciona com a vontade autônoma da criança. Esta, a moral da reciprocidade, é fundada no respeito mútuo; nela as perspectivas individuais e grupais são balanceadas. “Toda moral consiste num sistema de regras, e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras” (Piaget, 1994, p. 23).

Tanto Piaget quanto Durkheim (1994) consideram o sentimento do bem e a consciência do dever como aspectos essenciais para compreender a ação moral, mas divergem na explicação de como se chega à obrigação da consciência em agir de acordo com o sentimento do bem. Para Piaget, quando Durkheim fortalece o papel da autoridade como única fonte para a constituição moral acaba por submeter o bem ao dever.

Do ponto de vista vygotskyano, acredita-se que um aluno indisciplinado não é entendido como aquele que questiona, pergunta, se inquieta e se movimenta na sala, mas sim como aquele que não tem limites, que não respeita a opinião e os sentimentos alheios, que apresenta dificuldade em entender o ponto de vista do outro e de se autogovernar.

Sendo assim, “as inquietações, as movimentações em sala de aula, as interações entre as crianças não se confundem com atos indisciplinados, já que são indicadoras de envolvimento por parte dos alunos” (Vygotsky, 1984, apud Aquino, 1996, p. 87). No processo de construção de conhecimento, os alunos devem ter participação ativa. Segundo ele, o comportamento da indisciplina terá muito a ver com o dia a dia do indivíduo, seu cotidiano, suas experiências vividas; ele será construído durante sua vida num processo interativo, não por meros reflexos de origem biológica.

“Embora o fenômeno da indisciplina seja um velho conhecido de todos, sua relevância teórica não é tão nítida. As poucas obras dedicadas explicitamente à problemática vêm confirmar esse dado” (Aquino, 1996, p. 40).

Considerações

O referencial teórico que constituiu o embasamento para as questões de indisciplina também permitiu compreender a complexidade do assunto. Não são muitas as obras que tratam desse tema, visto que grande parte dos autores aborda o assunto ‘disciplina/indisciplina’ dentro da Sociologia e na sociedade como um todo, não dando ênfase à sala de aula ou aos corredores das escolas. Até mesmo Vygotsky não conseguiu realizar plenamente seu programa de pesquisa devido à complexidade da tarefa e à sua morte prematura (morreu aos 37 anos, vítima de tuberculose), conforme afirma Aquino (1996, p. 92). Todavia, seus estudos são de grande importância para uma série de pesquisas que estudam a compreensão do ser humano.

Ao longo da pesquisa foram percebidas as principais causas da indisciplina. Contudo, os principais fatores estão englobados e distribuídos nos problemas da comunidade onde a criança está inserida; da família, com o que considera costumes e valores a serem repassados para a criança; e a existência ou falta de regras dentro dessa família. Por fim, a escola, com aulas monótonas, professores autoritários e o sistema escolar onde ela está situada.

É preciso ressaltar ainda os casos de distúrbios ou transtornos de conduta.

Nesta pesquisa foi possível refletir sobre a ação docente frente aos problemas de indisciplina escolar nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Nem o professor, nem o pedagogo podem ser considerados os únicos responsáveis pelos problemas de indisciplina enfrentados na escola, já que não se trata de um problema específico, mas um conjunto de fatores que levam a tais transtornos. De qualquer forma, é preciso também que professores e orientadores revejam a suas práticas e percebam o quanto podem interferir de modo positivo em situações disciplinares de seus alunos.

Por meio da busca das principais causas da indisciplina, foi possível notar algumas ações preventivas nos estudos de Tiba e Parrat-Dayan. Nota-se que é imprescindível fomentar um bom relacionamento interpessoal nas relações professor/aluno e aluno/aluno; e, por essa relação, é preciso desenvolver boa gestão na sala de aula e na escola como um todo; a definição de regras claras e explícitas, o cumprimento das mesmas e as aplicações das sanções adequadamente também foram outras ações preventivas encontradas ao longo da pesquisa. Da mesma forma, o apoio familiar e a relação entre essa família e a escola incluem-se nas ações preventivas.

A família é o primeiro contexto de socialização e exerce grande poder de influência sobre as crianças.

Também foi possível perceber que altos índices de indisciplina podem gerar agressividade e bullying. Por isso, o professor precisa estar atento a qualquer mudança de conduta que um aluno pode apresentar.

Este artigo considera de fundamental importância os estudos analisados por Durkheim, Piaget e Vygotsky. Embora Durkheim posicione-se contrário à pedagogia nova e acredite na educação tradicionalista, seus estudos sobre a Educação Moral têm total relevância quando faz esta afirmação: “na vida, nem tudo é brincadeira, e por esse motivo é necessário que a criança se prepare para o esforço” (2011, apud Parrat-Dayan, p. 33).

Em relação às pesquisas abordadas por Piaget, vale ressaltar que o professor não tem que impor as regras, mas ser um colaborador na construção delas. Do ponto de vista vygotskyano, considera a abordagem sociointeracionista e ressalta que o comportamento do aluno tem a ver com suas experiências.

Enfim, o que se deseja é disciplina, sim! Não uma disciplina pautada em ‘robôs’, como acontecia com a escola tradicional, em que os alunos eram submissos às ordens dadas por seus professores; mas uma disciplina pautada na coletividade para o bem de todos. Para que professores e orientadores tenham aulas mais prazerosas e significativas é preciso que a família, o sistema escolar, a comunidade e os próprios professores repensem sua prática como pais, educadores e formadores de opinião.

Referências

AQUINO, Júlio Groppa. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.

ARANHA, Maria Salete Fábio. Projeto Escola Viva - garantindo o acesso e a permanência de todos os alunos na escola. Alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2002, Série 2.

FANTE, Cléo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. São Paulo: Verus, 2005.

PAROLIN, Isabel (org.). Por que você não me obedece? Porto Alegre: Mediação, 2011.

PARRAT – DAYAN, Silvia. Como enfrentar a indisciplina na escola. São Paulo: Contexto, 2011.

SILVA, Ana Beatriz B. Mentes perigogas nas escolas: bullying. Rio de Janeiro: Fontanar, 2010.

TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. 85ª ed. São Paulo: Integrare, 2006.

______. Educar para formar vencedores. São Paulo: Integrare, 2010.

VICHESSI, Beatriz. Indisciplina, como se livrar dessa amarra e ensinar melhor. Revista Nova Escola, São Paulo, ano XXIV, nº 226, p. 78-89, out. 2009.

Publicado em 3 de setembro de 2013.

Publicado em 03 de setembro de 2013

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