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Como você vê?
Ivone Boechat
Clarisse Lispector diz: “Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar”.
A forma como a pessoa vê varia de acordo com a situação emocional, espiritual, social. Isso significa que se pode aprender a ver. A gente inicia a vida vendo com os olhos dos outros: dos pais, dos educadores, da igreja, da mídia. O ambiente em que se vive, a educação, a maturidade, a informação, o exemplo vão capacitando o ser humano para mobilizar a inteligência do olhar.
Dizem que “os olhos são as janelas da alma”. Os olhos são as janelas por onde se codificam as experiências da vida... A pessoa será ou não feliz dependendo da interpretação que ela dá aos fatos. “Se teus os olhos forem bons...”
Conta-se que um jornalista saiu à procura de algo fantástico para registrar no jornal de maior circulação do seu país. Nem chegou a andar muito e viu as escavações grandiosas de uma obra. Chegou perto de um operário e perguntou-lhe:
– O que é isto que vocês estão construindo?
E o homem, mal humorado, suando muito, disse:
– Não vê que estou preparando um túnel para passar tubulações de esgoto?
O jornalista andou um pouquinho mais e viu outro operário trabalhando na mesma obra, assoviando. Aproximou-se dele e viu que ele trabalhava de bom humor e perguntou-lhe:
– O que é isto?
E o homem disse animadamente:
– Estamos preparando a estrutura onde vai se erguer um gigantesco e maravilhoso shopping.
Fernando Pessoa diz: “o mundo não é como você vê, o mundo é como você é”. Em versos, ele define a importância do olhar:
Onde você vê um obstáculo,
alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.
Porque eu sou do tamanho do que vejo.
E não do tamanho da minha altura.
A forma como uma pessoa olha o outro revela não somente o seu grau de espiritualidade; revela a escolaridade e os efeitos do vírus da inveja que se alojou no seu interior. A maior cegueira do ser humano é causada pela contaminação por inveja, que é capaz de distorcer imagens, pessoas, fatos, circunstâncias.
Depois de um dia muito cansativo, Jesus “chegou a Betsaida, onde lhe trouxeram um cego, rogando-lhe que o tocasse. E, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia; cuspindo-lhe nos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa. E, levantando ele os olhos, disse: ‘Vejo os homens, pois os vejo como árvores que andam’”. (Marcos 8:22-24).
Para aquele cego de Betsaida ser curado, Jesus cuspiu-lhe nos olhos; mas, por analfabetismo visual, ele via as pessoas “como árvores que andam”. Com certeza as primeiras lições foram dadas: o Mestre ensinou aquele homem a olhar, mas sobretudo o capacitou a ver.
Publicado em 10/09/2013
Publicado em 10 de setembro de 2013
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