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O primeiro ano do resto da vida deles

Mariana Cruz

E chega tão rápido o dia do fim da licença-maternidade – aquele período em que mãe e filho são apenas um – que a pergunta não para de martelar: como se separar de um bebê tão pequenininho? Mas é hora de ele saber que existe vida longe do colo materno. Normalmente, o primeiro lugar que tem a função de fazer tal cisão é a escola. Muitas famílias conseguem adiar essa separação por um ou dois anos, mas o dia inevitável chega. Os pais, então, achando que nenhum lugar irá substituir o aconchego do lar – e não vai mesmo –, lançam-se à procura da creche perfeita. Muitos locais visitados são legais, mas uma tem muita umidade; a outra tem muitas crianças por turma; a mãe não gostou da professora; o pai achou cara demais; é contramão. Todas têm um “porém”. Até que os pais se tocam de que o papel da escolinha não é ser extensão do lar, e sim uma porta para o mundo externo: um lugar onde o filho irá se relacionar com seus pares, aprender a comer sozinho, pedir para ir ao banheiro e, futuramente, ler, escrever e tornar-se uma pessoinha com seus desejos, gostos, habilidades e dificuldades.

Caso os pais, depois de um périplo entre as creches, consigam encontrar um lugar de seu agrado perto de casa, já estão no lucro. A proximidade do lar, sobretudo nas grandes e engarrafadas cidades, está se tornando quase um pré-requisito para essa faixa etária. Vira e mexe o bebê fica doente e é preciso ir buscá-lo antes da hora. Além disso, nada como poder voltar a pé com o pimpolho para casa e eleger um dia da semana para se esbaldar na sorveteria da esquina. Em geral as escolinhas de bairros têm muitas vantagens: os amiguinhos moram perto, os eventos extraescolares são fáceis de marcar, não se perdem horas diárias no trânsito, a criança conhece todos os funcionários pelo nome e vice-versa.

Até que, com a mesma rapidez com que passou o período de licença-maternidade, passam também os primeiros anos da criança. E um novo rito de passagem se impõe. A escolinha acabou, é hora de procurar uma “escola de verdade”. Aí começam as dúvidas: como se dará a mudança? Como será a adaptação? O deslocamento? Será que ele vai conseguir acordar antes das seis todos os dias? Como a criança fará para ser aceita pelo grupo, saber se defender, mostrar seu ponto de vista? E se sofrer bullying?

É preciso estar atento ao fato de que nem toda criança tem o perfil adequado a uma escola grande, puxada, com muitos alunos por turma, muitos conteúdos, da mesma forma que há os que não se adaptam às escolas alternativas, cuja pedagogia prioriza a liberdade e individualidade do aluno. Muitos precisam – e gostam – de regras, limites bem estabelecidos. Outros precisam dar vazão à criatividade, às ideias originais. As pessoas são diferentes. Muitos pais matriculam o filho na tal escola porque um deles estudou lá quando criança. Essa tradição não garante nada. Quem garante que o filho também será feliz ou bem-sucedido naquela instituição só porque o pai (ou a mãe) foi? Os pais são diferentes dos filhos. Há que se olhar para o filho e tentar captar o tipo de escola em que ele poderá desenvolver suas habilidades de forma mais plena. Claro que não dá para prever como será a vida estudantil daquela criança, mas pode-se perceber a tendência dela. Alguns se adaptam e se sentem estimulados em ambientes desafiadores, competitivos; outros não. Muitos pais, por insistirem que os filhos tenham que estudar em determinado colégio, fazem de tudo para que ele passe toda a sua vida lá, mesmo vendo que o guri não gosta de lá, não acompanha as aulas. Como solução, enchem a criança de professores particulares, afinal: “o ensino é excelente”; “os outros irmãos estudam lá”; “meu filho tem que superar as dificuldades”. Mas será que em outra instituição na qual ele se sinta mais confortável ele não ficaria mais estimulado a estudar e, quiçá, nem precisaria de uma junta de professores particulares que todo ano fazem-no escapar por um triz da repetência?

Por outro lado, há casos em que a criança, apesar de não ter resultados muito bons, gosta de estudar em determinado colégio, pois seus irmãos, primos, grupo de amigos estão lá. Esse também pode ser um bom motivo para mantê-lo mesmo que à custa de muitas aulas de reforço.

As dúvidas são muitas, mas nada como uma observação apurada, muito diálogo, escuta e atenção para fazer com que essa importante parte da vida dos nossos filhos seja uma época feliz – mesmo acordando antes das seis da manhã.

Publicado em 17/09/2013

Publicado em 17 de setembro de 2013

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