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Professores comentam o Dia do Professor

Alexandre Rodrigues Alves

Nestes tempos virtuais, em que a gente corre mais do que queria (e não teve chance de tomar um chope para comemorar a data), enviei um e-mail para alguns amigos professores parabenizando-os e pedindo que comentassem como se sentem sendo professores, de que gostam na profissão, o que desagrada etc. e tal. Acho que é sempre positivo compartilhar opiniões, tanto quanto as da Mariana Cruz e do Pablo Capistrano, publicadas na revista Educação Pública no próprio Dia do Professor. Em todos eles, independente do aspecto abordado (políticas educacionais, sala de aula, experiências) há um misto de satisfação e desesperança, alegria e desilusão, saudade e expectativa, realização e frustração.

Márcia Elisa Rendeiro, professora de História numa escola municipal na periferia da cidade do Rio de Janeiro, relembra uma professora sua, Ângela. “Dela ganhei uma antologia poética de Fernando Pessoa, livro pequeno para uma menina pequena, lá pelos meus 13 anos. Por conta dela descobri o quanto os livros eram importantes e o quanto eu estaria vinculada a eles no futuro, que pelas minhas contas nunca chegou”. Ela diz que seus colegas de hoje são pessoas com quem aprende todos os dias e celebra “a saúde, a disposição para arar”.

Outra Ângela, esta Emery Trindade, lamenta que sua estabilidade como professora de Inglês na rede estadual se dê “à custa de um salário muito baixo, que não condiz com a formação acadêmica”. Para ela, o mais importante “é ser valorizada, ser reconhecida não só pelos alunos, mas também pela sociedade”. Quando pergunto pelo melhor da profissão, ela não tem dúvidas: é o “conhecimento aprendido no dia a dia com os colegas de profissão e com os alunos, ainda que estes deem pouco valor ao professor”.

Zulmira Speridião, da Fundação Getúlio Vargas e da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro, segue na mesma linha: “O aluno é o que mais valorizo. Aprendi, ainda na graduação, a importância de valorizar o conhecimento do aluno, sua capacidade de redigir, sua maneira de se expressar. Quando tive a oportunidade de aplicar isso, obtive resultados excelentes. É impressionante como o ensino tradicional foca nos erros dos alunos, fazendo com que eles tenham autoestima muito baixa. Eles chegam à sala de aula acreditando que não sabem nada. Quando comecei a elogiar e a valorizar o conhecimento prévio deles, tive resultados incríveis. Eu me lembro de uma aluna super tímida que sentava no fundo da sala; ela passou a sentar na frente, escrever muito mais e fez até prova para o Mestrado em Literatura ao final do curso”. Por isso, Zulmira define, ser professor é inigualável, é a profissão que me deu a maior gratificação amorosa. Porém, as adversidades pelas quais passei me fizeram procurar alternativas”.

Leonardo Castro, que deixou a rede estadual para ser professor da UniRio, relembra seu começo na carreira, depois de abandonar o curso de Economia por uma experiência na Educação Infantil: “As crianças e colegas me arrebataram! A luta pela transformação da sociedade já estava incorporada ao meu fazer e às metas da minha vida. Com o passar dos anos, algumas certezas se desfizeram, outras se consolidaram, mas o princípio do afeto como elemento revolucionário da vida ganhou consistência. A atuação no sistema público coroou a caminhada, embora os percalços das redes sejam inúmeros. A força dos colegas comprometidos e as conquistas dos alunos alimentam até hoje meu fazer cotidiano”. Leonardo relembra o choro emocionado da ex-aluna durante a manifestação dos professores municipais, em plena Cinelândia. “Ela me disse: ‘O senhor sempre nos disse para fazermos concurso e lutarmos por nossos alunos; pois estou aqui, agradecida e na certeza de que voltarei para a creche melhor professora do que no início da greve!’”.

Zulmira também fala dessa relação com as dificuldades da profissão: “o mais importante é não deixar que as condições adversas interfiram no trabalho feito em sala de aula. É fundamental que o professor esteja sempre planejando suas aulas, levando em consideração as necessidades do educando, sua visão de mundo e suas experiências”.

A relação com a instituição educacional é outro obstáculo para a qualidade do trabalho e a realização profissional. Segundo Ângela, “a escola dita regras que eu posso aceitar ou não, mas tenho que obedecer”; ela diz que não tem mais ânimo para fazer passeatas ou entrar em greve, ainda que se solidarize com os manifestantes e considere um absurdo eles “levarem spray de pimenta nos olhos”. Isso só confirma sua teoria, de que “o poder político é extremamente alheio quando se trata de professor. Eles não dão o mínimo valor à nossa classe”.

Zulmira faz questão de comentar uma experiência que teve numa universidade particular: “não foi boa experiência, talvez por ela ser administrada por quem entende de banco, números, e não de sala de aula. Eram setenta alunos em sala de aula, faziam ameaças de demissão e pressão para que convencêssemos os ex-alunos a voltar a frequentar as aulas”.

Apesar de todos esses percalços, no coração de Leonardo a esperança continua batendo forte: “ser professor é viver intensamente o compromisso político assumido ao escolher a profissão. Que a dignidade vença a truculência e a solidariedade seja mãe do nosso futuro!”.

Parabéns e obrigado, colegas!

Publicado em 22/10/2013

Publicado em 22 de outubro de 2013

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