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Percepção ambiental: uma eminência na Educação Ambiental

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

Mestrando do Prodema/UFPB; Pesquisador do Gepea-Gepec/UFPB; Diretor de Educação Ambiental da Sema/Cabedelo-PB

Perceber o ambiente é uma das atividades constantes do nosso sistema sensorial, que capta informações do ambiente e alimenta o sistema psíquico, contribuindo, desde a tenra idade, para nossa aprendizagem e para nosso cotidiano, situando-nos no mundo. Além disso, permite que nos relacionemos com todos os constituintes físicos, biológicos, sociais, culturais e tantos outros fatores que nos cercam. Estamos a todo momento interagindo intensamente com os da nossa própria espécie – inter-relações – de forma direta ou indireta, com os “nexos entre subjetividade, intersubjetividade e objetividade” (Carvalho; Steil, 2013, p. 61).

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Figura 1: Representação da percepção ambiental através de quem a percebe
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_u-2U_6OmDDg/TJVUAiPSz0I/AAAAAAAABTM/Fnly-tIVTCc/s1600/85975762-1.jpg.
Gestalt é a teoria que significa a percepção de uma entidade concreta que possui, entre seus vários atributos, a forma (Engelmann, 2002).

Por um lado temos inicialmente a perspectiva associacionista e elementarista; por outro, temos mais à frente a percepção totalitária articulada com as partes que constituem o todo, formando assim uma percepção sensorial fenomenológica do global. A Psicologia passa a contribuir fortemente para ampliação da teoria da percepção, alimentada pela Gestalt e, posteriormente, pela Psicologia social contemporânea, que foram gradativamente sendo incorporadas à Educação Ambiental como elemento delineador no entendimento das relações entre os próprios seres humanos e deles com o meio ambiente. Para alcançar tal entendimento, foi criada a Psicologia ambiental, por volta da década de 60 (Lira; Ferraz, 2009), sendo um dos marcos as relações “pessoa-ambiente” (Carvalho; Steil, 2013, p. 62) para dissolução da dicotomia arraigada da entidade humana com a entidade natural e nas “possibilidades para ação que um objeto ou ambiente fornece” a quem o percebe (affordance) (Carvalho; Steil, 2013, p. 63), ou seja, a consciência que o sujeito passa a ter do mundo à sua volta não pode ser dissociada da forma como ele se relaciona com o mundo. Nesse processo temos percepções, relações, consciências individuais, independentes e coletivas que se sobrepõem e amplificam a teia interpretativa que alimenta sensorial e psiquicamente a entidade humana do que é visível e invisível, sendo o primeiro o que está exposto frente à realidade; o segundo está além e momentaneamente não pode ser percebido e sim projetado, estando entre os estímulos do mundo como um tecido translúcido.

Nesse processo interpretativo, criam-se símbolos semióticos que se materializam no sujeito e na coletividade, daí a essência subjetiva da condição humana, pela qual se operam os processos perceptivos. Segundo os autores, Tim Ingold critica a forma como vários autores se colocam quanto à percepção e a ação humana, de que são indissociadas e uma não precede a outra, estando intimamente conectadas, além da simetria entre todos os seres vivos, o que abala o mundo científico, pois sujeito e objeto de estudo passam a estar na mesma linearidade. No entanto, a multidisciplinaridade promove a amplificação do entendimento acerca do potencial perceptivo do ser humano, numa “educação da atenção” (Carvalho; Steil, 2013, p. 65), para a fusão entre “corpo e mente, percepção e representação, mente e ambiente, individuo e sociedade” (Carvalho; Steil, 2013, p. 66), adentrando o pesquisador no universo do pesquisado para seu total entendimento do objeto de estudo, numa profundidade de vivência além do sensorial e sim interpretativa do mundo físico, sensorial, estético, mítico e simbólico de quem a percebe.

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Figura 2: Representação da percepção que vai além da sensorial, na formação da consciência planetária.
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/ny3l2bN0TxQ/UFnNdZxseOI/AAAAAAAACKM/TGbtCYE__js/s400/cl_31863.jpg
Mana = energia que emana dos organismos, pois “as coisas são vivas e não a vida está nas coisas” (Carvalho; Steil, 2013, p. 69-70).
Entrelaçamento do sujeito com seu meio, produzindo uma conduta que determina seu modo de vida (Hallowell, 1995 apud Carvalho; Steil, 2013, p. 72).

Essa concepção de percepção e da relação sujeito-mundo imerso nesse sistema vívido coloca a entidade humana como agente no controle do destino do planeta e na tomada de decisões sobre o caminho que está sendo tomado na esfera socioambiental, responsabilizando-nos pelas mudanças ecológicas necessárias na reversão dos graves problemas que a humanidade enfrenta na contemporaneidade. Adentrando as teorias da percepção, tem-se uma crítica na Antropologia clássica, que pela sua ideologia funcionalista e reducionista, não atende às necessidades multifacetárias dos processos de percepção do ambiente e da entidade humana, já que tudo está conecto, numa trama sistêmica, em que todos os seres vivos se relacionam íntima e intrinsecamente, com fluxo de matéria e energia entre eles, adentrando seus corpos materiais e imateriais (cultura), criando uma “sinergia entre eles, mas de situá-los num horizonte aberto às forças vitais que os atravessam” (Carvalho; Steil, 2013, p. 69), como mana. Portanto, cabe à multidisciplinaridade entre Psicologia, Filosofia, Antropologia, Sociologia e demais ciências humanas e exatas buscar a percepção ecológica sistêmica tão almejada para a condição humana neste planeta, indo além do comportamento ambiental, da semiótica, rompendo barreiras estruturais e materiais que cristalizam a percepção e congelam o entendimento do sujeito sobre si mesmo, sobre os demais organismos e nas relações com o mundo à sua volta, de forma que prevaleça a equivalência entre todos os componentes, na busca de um novo paradigma para a humanidade.

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Figura 3 – Ciclo representativo da existência
Adaptado de: http://www.portogente.com.br/arquivos/id_24477_ciclo.jpg

Referências

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura; STEIL, Carlos Alberto. Percepção e ambiente: aportes para uma epistemologia ecológica. Revista Eletrônica do Mestrado de Educação Ambiental, volume especial, mar.2013, FURG, Rio Grande-PR, p. 59-79.

ENGELMANN, Arno. A Psicologia da Gestalt e a ciência empírica contemporânea. Psicologia: Teoria e Pesquisa, jan./abr. 2002, v. 18, n. 1, p. 1-16. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v18n1/a02v18n1.pdf. Acesso em 28 mai. 2013.

LIRA, Luiz.; FERRAZ, Vania. Psicologia Ambiental: uma relação de equilíbrio entre o homem e a natureza. In: SEABRA, G. [Org.] Educação Ambiental. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2009, p. 53-68.

Publicado em 29 de outubro de 2013.

Publicado em 29 de outubro de 2013

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