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Trabalhando com recursos lúdicos no Ensino Médio: produzindo vídeos educativos para o ensino de Física

Adriana Oliveira Bernardes

Seeduc-RJ/Cederj

Tecnologias no ensino de Física: vídeos educativos

As tecnologias hoje em dia assumem importância tão grande em nossas vidas que é difícil para a maioria das pessoas ver-se vivendo sem elas.

Dentro das escolas, essas tecnologias começam a ser utilizadas de forma ainda bastante modesta e têm alcançado grande popularidade entre os alunos. Tal situação se deve ao fato de essas tecnologias promoverem a dinâmica nas aulas de Física e aumentarem o interesse dos alunos pela disciplina, além de propiciar ao mesmo tempo um ensino contemporâneo, em que as tecnologias do seu dia a dia, com a qual estão perfeitamente acostumados a conviver, façam parte do processo de ensino e aprendizagem.

Dessa forma, os vídeos educativos podem trazer boas perspectivas em relação ao desenvolvimento de habilidades; o fato de serem produzidos pelos alunos favorece sua interação com as novas tecnologias, além de permitir que o aluno exercite técnicas como a leitura, a elaboração de textos e a gravação de vídeos.

É importante lembrar a importância da contextualização da Física no Ensino Médio; com a utilização de vídeos, é possível introduzir com facilidade as questões do dia a dia que mostram a aplicação da Física, fazendo com que o aluno vincule o que estuda a fenômenos de seu cotidiano.

Como salienta Bernardes (2010, p. 1),

fenômenos físicos observáveis em nosso cotidiano e que despertam o interesse do aluno devem ser aproveitados para motivar o aprendizado da disciplina. A maioria dos fenômenos com os quais nos deparamos são importantes e fazem parte do nosso dia a dia, e é para isto que serve a Física, para nos esclarecer a respeito deles.

Competir com a TV, videogames, computadores e outros aparatos tecnológicos é cada vez mais difícil. Assim, o professor em sala de aula deve tentar trabalhar com recursos com os quais os alunos já têm familiaridade em seu dia a dia, vinculando a seu aprendizado.

Segundo Marcelino Jr. et al (2004, p.1), “o uso do vídeo como recurso pedagógico aparece como tentativa de introduzir uma ação ainda, pouco comum no dia a dia da sala de aula”. Para esse autor, “pode trazer um impacto maior que um livro ou uma aula expositiva”. Na opinião de Arroio (2006, p.2), “a televisão, o cinema, o computador e o vídeo desempenham indiretamente um papel educacional relevante”.

Em relação à utilidade do vídeo, Ferres (1996, p.2) afirma que “um bom vídeo pode servir para introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade e a motivação para novos temas”. O vídeo, então, se torna uma boa proposta de recurso para ser utilizado no ensino de Física no Ensino Médio e vai ao encontro das propostas sugeridas pelos PCN+ Ensino Médio Física (2002), segundo o qual

o ensino de Física tem enfatizado a expressão do conhecimento aprendido através da resolução de problemas e da linguagem matemática. No entanto, para o desenvolvimento das competências sinalizadas, esses instrumentos seriam insuficientes e limitados, devendo ser buscadas novas e diferentes formas de expressão do saber da Física, desde a escrita, com a elaboração de textos ou jornais, até o uso de esquemas, fotos, recortes ou vídeos, até a linguagem corporal e artística.

Outra perspectiva interessante é a possibilidade de um trabalho interdisciplinar com vídeos; isso é alcançado à medida que sua produção envolve a prática da escrita do Português, leitura, enriquecimento com fatos da História da Física; em muitos casos, é possível levantar questões relacionadas à Sociologia e à Filosofia, quando são discutidos os processos nos quais se deu esta ou aquela descoberta.

Segundo documentos do MEC (2006, p. 21),

na perspectiva escolar a interdisciplinaridade não tem pretensão de criar novas disciplinas ou saberes, mas utiliza os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema concreto ou compreender um determinado assunto sob vários pontos de vista.

Além disso, como o próprio texto destaca, “a interdisciplinaridade é importante para o aluno aprender a olhar o mesmo objeto sob perspectivas diferentes”.

Trabalhando com o lúdico

O referencial teórico para este trabalho está nos trabalhos de Piaget e Vygotsky. Piaget mostra a importância da interação do indivíduo com o meio para que possa ocorrer o aprendizado; Vygotsky aponta a importância da interação social do indivíduo.

Nesse trabalho, os alunos constroem seu conhecimento por meio de pesquisa de temas para elaboração dos vídeos, discussão com os colegas sobre o desenvolvimento dele; mais uma vez se dá a interação do grupo para gravação e edição do material obtido.

Sobre o conhecimento, Becker (2009, p. 2) afirma:

Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento.

Segundo esse autor (2009, p. 2),

construtivismo é, portanto, uma ideia; melhor, uma teoria, um modo de ser do conhecimento ou um movimento do pensamento que emerge do avanço das ciências e da Filosofia dos últimos séculos. Uma teoria que nos permite interpretar o mundo em que vivemos.

Em relação à teoria de Vygotsky, Martins (2012) afirma que

refletir sobre a importância das trocas entre os parceiros como momentos significativos no processo ensino-aprendizagem remete necessariamente à psicologia sócio-histórica como paradigma de nossas reflexões.

O mesmo autor (2012) ressalta também que

Vygotsky salienta que as possibilidades que o ambiente proporciona ao indivíduo são fundamentais para que este se constitua como sujeito lúcido e consciente, capaz, por sua vez, de alterar as circunstâncias em que vive. Nessa medida, o acesso a instrumentos físicos ou simbólicos desenvolvidos em gerações precedentes é fundamental.

Metodologia

Iniciamos o trabalho incentivando os alunos do Colégio Estadual Dr. Tuffy El-Jaick a produzir vídeos didáticos amadores com conteúdos relacionados ao currículo de Física da primeira e da segunda série do Ensino Médio.

Inicialmente realizamos na escola uma pesquisa qualitativa sobre a utilização de vídeos na escola; ela foi feita junto a todos os alunos do Ensino Médio, que responderam às seguintes perguntas:

  • É comum os professores utilizarem vídeos educativos em suas aulas?
  • Em quais disciplinas são mais utilizados?
  • Você acredita que vídeos educativos contribuem para o seu aprendizado?

Após a realização da pesquisa, foi proposto aos alunos que se dividissem em grupos; foram então sugeridos os seguintes temas para que os vídeos pudessem ser produzidos. Para a 1ª série, foram: escalas de temperatura, termômetros, calorimetria, a vida e as descobertas de Joule; para a 2ª série os temas eram: Leis de Newton; plano inclinado; relógios de água; a vida de Galileu Galilei.

Após a escolha do tema, os alunos foram orientados a: pesquisar em livros, revistas e internet o assunto escolhido; elaborar um resumo do que haviam aprendido; criar um roteiro do vídeo; realizar a gravação dele.

Produção dos vídeos amadores

O vídeo produzido pelos alunos devia conter:

  • Texto;
  • Áudio gravado pelos alunos;
  • Vídeo propriamente dito.

Os alunos foram orientados a realizar a edição no programa Windows Movie Maker, presente nos computadores da Sala de Informática da escola e de fácil utilização. Após a produção da sua primeira versão, o vídeo deveria ser entregue ao professor, que, juntamente com o aluno, discutiria o que fora produzido com o objetivo de melhorar a qualidade do vídeo.

O professor deveria verificar então:

  • Se os conceitos físicos apresentados no vídeo estavam corretos;
  • Apresentar propostas de como melhorá-lo.

Após a aprovação da proposta pela professora de Física, ele poderia ser gravado, e deveria conter:

  • Abertura, quando era explicitado o nome do vídeo, nome dos alunos, professor orientador e tema;
  • Desenvolvimento do tema, realizado com texto escrito, possível de ser inserido através do programa Windows Movie Maker, à parte do vídeo no qual eram gravados diálogos dos alunos sobre o tema e texto falado, que também era inserido no vídeo, após gravação no computador, com o programa Windows Movie Maker;
  • Making off;
  • Os erros de gravação, preparação para filmagem e diálogos sobre o que seria realizado;
  • Finalização.
  • Os agradecimentos, nome da escola, elenco, produção, som etc.

Dessa forma, o vídeo era reeditado para futuramente integrar o acervo de vídeos da escola, podendo ser utilizado por outros professores.

Windows Movie Maker

O Windows Movie Maker é um software de edição de vídeos da Microsoft. Ele permite que sejam gerados vários efeitos no vídeo, sendo possível acrescentar música, sons e textos, entre outros recursos.

Um ponto negativo que poderíamos citar e foi apontado pelos alunos e pelo OT (orientador tecnológico) da escola na sua utilização é a demora para salvar o vídeo.

Resultados e conclusões

Os depoimentos obtidos para a primeira questão da pesquisa qualitativa: “É comum os professores utilizarem vídeos educativos em suas aulas?” foram:

“A maioria dos professores preferem a aula em que utilizam o quadro-negro e explicam a matéria, mas alguns deles utilizam, sim, principalmente o de História”.

“Os professores de História e Sociologia utilizam filmes e documentários; os de Matemática, Química e Física nunca utilizaram”.

“A professora de Artes um dia passou um vídeo, a de Religião também”.

“Muitas vezes vamos para a sala de vídeo, mas assistimos a filmes que não têm nada a ver com a matéria, é só para distração”.

O depoimento obtido para a segunda questão, “Em quais disciplinas são mais utilizados?”, foi:

“Essa pergunta já foi respondida pelos alunos na questão 1, as disciplinas são: História, Sociologia, Artes e Ensino Religioso”.

Os depoimentos obtidos para a terceira questão, “Você acredita que vídeos educativos contribuem para o seu aprendizado?”, foram:

“A gente sempre gosta quando os professores passam um documentário ou um filme, é bom para sair da rotina das aulas”.

“Eu acho legal e acho que todos deveriam utilizar, na maioria das vezes não prestamos atenção às aulas porque não desperta muita atenção, então uma aula mais dinâmica seria bom”.

“Acho que a gente aprende bastante coisa com documentários, é uma outra forma de aprender”.

Pelo resultado da pesquisa, podemos observar que são poucos os professores que utilizam vídeos; a maioria deles é de professores que trabalham com disciplinas da área de Ciências Humanas. Segundo os depoimentos, os professores da área de Exatas, Química, Física e Matemática, normalmente não utilizam vídeos.

O posicionamento dos alunos sobre a relação entre sua utilização e um bom aprendizado é positivo, pois afirmam aprender bastante quando vídeos são utilizados; essa foi a principal motivação para o desenvolvimento do projeto.

As séries participantes elaboraram vídeos educativos amadores com temas sugeridos pelo professor de Física, com temas relacionados ao conteúdo da série.

Foram produzidos os seguintes vídeos:

Título do vídeo

Série

Conteúdo

Duração (em minutos)

Acesso tuffy 2º ano Termometria 12:20
Força de atrito 2º ano Força de atrito 1:24
Lei de Newton 2º ano Leis de Newton 1:58
Lei da Inércia 2º ano Lei da Inércia 0:51
Leis de Newton 2º ano Leis de Newton 2:06
Terceira Lei de Newton 2º ano Terceira Lei de Newton 2:29
Escala Kelvin 1º ano Termometria 3:43
Termômetros 1º ano Termometria 2:34
Escala Celsius 1º ano Termometria 3:12
Mudanças climáticas (tema transversal) 1º ano Termologia 3:17
Joule 1º ano História da Ciência 1:50
Galileu 2º ano História da Ciência 4:19

Alunos participantes do projeto

Obtivemos dos alunos participantes do projeto depoimentos sobre o que acharam de participar da produção de vídeos educativos amadores com conteúdos de Física.

“Tive a chance de mostrar para colegas de outra escola nosso vídeo. Eles gostaram muito! Foi uma chance de falar de Física de forma descontraída.”

“Outros professores agora estão também querendo trabalhar com vídeo, a professora de Inglês, por exemplo, também achou a idéia interessante.”

“Foi uma experiência que a gente achou muito interessante e é uma nova forma de aprender Física.”

“Nós pesquisamos o assunto na biblioteca e na internet, fizemos o roteiro, a professora deu algumas sugestões e marcamos o dia para gravar.”

“Foi muito legal. Muito descontraído!”

“Eu nunca tinha aprendido nada de Física, aliás a maioria não tinha! Então foi uma boa oportunidade que tivemos de aprender Física de forma diferente.”

Professores, direção e coordenação pedagógica do Cetej

“Os alunos demonstraram muito interesse no projeto e notamos que realizaram as atividades com empenho e entusiasmo.”

“Bom. Notei que eles não falam em outra coisa, estão entusiasmados!”

“Esse projeto está de parabéns! Vendo estes vídeos fico emocionada em ver tanto envolvimento dos alunos.”

“A participação dos alunos foi maciça, os alunos se envolveram muito! Isto é legal!”

Conclusões

Com o desenvolvimento deste projeto, observamos que um recurso lúdico como o vídeo didático é sempre bem aceito pelos alunos e que a possibilidade de produzir esses vídeos motiva o envolvimento deles com a disciplina.

Isso é importante na medida em que o fato atende às exigências dos PCN (BRASIL, 2006):

Trata-se de construir uma visão da Física que esteja voltada para a formação de um cidadão contemporâneo, atuante e solidário, com instrumentos para compreender, intervir e participar na realidade.

Outra questão na qual o projeto é condizente com os PCN é quando este afirma que “competências em Física para a vida se constroem em um presente contextualizado, em articulação com competências de outras áreas, impregnadas de outros conhecimentos”.

A partir dos depoimentos, verificamos a aceitação das novas tecnologias pelos alunos e sua utilização em sala de aula.

Referências

ARROIO, A. A.; GIORDAN, M. O vídeo educativo: aspectos da organização do ensino. Química Nova na Escola, n. 24, nov. 2006.

BECKER, F. O que é construtivismo? Desenvolvimento e aprendizagem segundo a Psicologia II. UFRGS. PEAD, 2009/1.

BERNARDES, A. O. Discutindo questões relacionadas ao Ensino de Física no Brasil: o ensino descontextualizado e excessivamente matematizado. Revista Educação Pública. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/fisica/0022.html. Acesso em 10 de dezembro de 2012.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/CNE, 2001.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais –Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 2006.

FERRES, J. Vídeo e Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

MARCELINO JR., C. A. C. et al. Perfumes e essências: a utilização de um vídeo na abordagem das funções orgânicas. Química Nova na Escola, n.19, maio 2004.

MARTINS, J.C. Vygotsky e o papel das interações sociais na sala de aula: reconhecer e desvendar o mundo. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/dea_a.php?t=002. Acesso em 10 de fevereiro de 2012.

Publicado em 12 de novembro de 2013

Publicado em 12 de novembro de 2013

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