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Juventude desejada

Mariana Cruz

A adolescência é realmente um período difícil de definir. Até quando vai a adolescência? Trata-se de uma fase que coincide com a puberdade ou é uma fase determinada pela sociedade em que se vive? Sabe-se que décadas atrás um jovem de vinte anos já era um “homenzinho”. Hoje, muitos quarentões não passam de crianções com suas bermudas largas, vida de baladas e videogames...

Todos buscam a juventude eterna. Os mais novos anseiam por chegar a tal fase e os mais velhos se recusam a sair dela. No caso das crianças, é uma pena o estimulo à precocidade com que a mídia insiste em bombardeá-las. Muitas delas deixam curtir a infância com tudo que têm direito, fantasias, brincadeiras, pé descalço, para se tornar mocinhas antes do tempo.

No caso dos adultos, não vejo “pecado” algum em querer se manter jovem. O problema é que muitas vezes tal tentativa restringe-se à aparência. A juventude não se resume em corpinho sarado, rosto com botox, comportamento propositalmente displicente ou uma cabeleira sem fios brancos. Trata-se de um estado de espírito que não passa pela roupa que veste ou pelas gírias que fala, e sim por estar aberto ao novo. Rever pensamentos e conceitos.

Os que estão de fato passando por essa fase sentem na pele literalmente que não é tão fácil assim (as espinhas que o digam). Não é à toa que são chamados pelos adultos de “aborrescentes”. Tudo em transformação: o corpo, a voz, a vida. O adolescente é um ser híbrido, meio criança, meio adulto, um desajustado dentro de um corpo que não para de se desenvolver e dentro do qual ele ainda não aprendeu a se mexer: a produção de hormônios, os pelos crescendo, a instabilidade de humor, o julgamento constante de seus pares. É a fase da dor e da delícia de ser o que não se sabe que é.

Ao mesmo tempo que começa a gozar de certa liberdade, o adolescente passa a ter mais autonomia para escolher seus amigos, programas, roupas; isso não garante total independência, como ele deseja. Ele deve satisfação aos pais, não só pela mesada que recebe deles como pelos limites que lhe são (ou deveriam ser) impostos. Apesar de os adolescentes pensarem que podem tudo, não podem. É a fase mais exaltada e criticada. Mas, a despeito das críticas, todos querem ser jovens.

Sobre essa busca incessante pela fonte da juventude, a consultora em educação e colunista da Folha de S. Paulo Rosely Sayão afirma que, “ao mesmo tempo, as crianças passaram a perder a infância cada vez mais cedo, e seus interesses, seu comportamento, suas vestimentas, sua vida social e a linguagem usada ficaram cada vez mais parecidas com os dos adolescentes”. Em relação aos mais maduros, diz ela que a partir do século XX, “o mundo adulto foi invadido pela busca da felicidade e da juventude, entre outras coisas, o que transformou muito o comportamento de quem já tinha maturidade”. Assim, características tipicamente adolescentes, como a busca do prazer imediato, a impulsividade, a inconsequência, se estenderam também à vida adulta.

A juventude é um estado de espírito, e não um rosto sem marcas; afinal, do que adianta não ter uma ruga e ser cheio de verdades eternas?

Publicado em 19 de novembro de 2013

Publicado em 19 de novembro de 2013

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