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Celulares em sala de aula

Mariana Cruz

Um das maiores reclamações dos pais em relação aos filhos na época atual é a de que eles “não desgrudam do celular”. Em sala de aula isso também virou motivo de preocupação. Muitos alunos simplesmente mexem o tempo todo em seus aparelhinhos enquanto os professores esmeram-se em fazer com que entendam a matéria e se interessem pela aula. Sabe-se que os alunos de hoje conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo. Assim, podem alegar que o fato de estarem “curtindo fotos no Face” durante a aula não os impede de entender o conteúdo. Lembro que, quando era estudante, muitas vezes ficava desenhando no caderno ou escrevendo bilhetinhos durante as aulas e quase sempre compreendia o que estava sendo estudado. Não seria algo equivalente ao que os alunos fazem com o celular hoje em dia?

Sabemos que a função original dos celulares – comunicar-se oralmente com outra pessoa – não é, nem de longe, a mais utilizada pela garotada. Fotos, vídeos, games, internet, Facebook, WhatsApp é o que eles querem. Muitos gravam as aulas, tiram fotos do quadro para não copiarem a matéria e assim ficam com tempo livre para conversar. Para impedir o blábláblá fora de hora em sala de aula – afinal, existem outros alunos que copiam (até quando farão isso, não sabemos) –, me vi obrigada a dar visto no caderninho dos alunos, como se estivessem no primário, no melhor estilo “só ganha ponto quem tem a matéria copiada”. No dia em que todos puderem tirar fotos do quadro com seus celulares, será hora de pensar em outra solução. Nós, docentes, estamos vendo e vivendo profundamente essas transformações tecnológicas; somos espectadores e personagens dessa matrix. Sendo assim, temos que saber como lidar com elas, absorvê-las e usá-las ao nosso favor. O problema é que a cada momento novas funções surgem e tal adaptação parece não ter fim; vamos aprendendo, aceitando umas, repelindo outras na base da tentativa e do erro. A última moda dos estudantes, por exemplo, é compartilhar o dever de casa. Aquele que terminar primeiro compartilha com os outros e pronto. Pelo menos ninguém pode acusar os meninos de não serem criativos em relação à diversificação do uso dessas novas tecnologias.

Tais avanços tecnológicos trouxeram uma inversão de papéis: se antes o adulto era o detentor do conhecimento e cabia a ele passar sua experiência aos mais novos, hoje eles pedem ajuda aos mais jovens na lida com as novas mídias. A cada dia os celulares ficam mais potentes, com mais funções, e pessoas cada vez mais novas acabam tendo acesso a ele. Afinal as crianças e adolescentes são nativos digitais e nós, migrantes. Para os jovens, os aparelhos celulares são quase parte integrante deles, não conseguem se separar. Tal relação fez com que eu pedisse a alguns estudantes para escreverem o que pensam sobre o uso do celular em sala de aula: Thais, 15, anos disse ser contra (apesar de usar), pois, segundo ela "isso me atrapalha muito porque eu deixo de prestar atenção na aula para jogar ou conversar pelo celular e isso tira todo o meu foco nos estudos". Já Paola, 17, anos disse ser a favor "em parte", porque tem horas que o celular faz com que não preste atenção o suficiente na aula; por outro lado, ela afirma que há pessoas que conseguem se concentrar mesmo utilizando o celular e acrescenta que o celular pode também ajudar no desempenho, “pois por ele pode-se acessar sites de busca”. Joice, 16, é a favor do uso do celular em sala de aula por motivos mais pessoais, isto é, "porque assim a gente fica em contato com a família ou fica sabendo de alguma emergência que possa acontecer, sem falar que não atrapalha aula nenhuma". Mas ela faz uma ressalva: "é claro que o aluno tem que entender que na hora da explicação da matéria tem que prestar atenção e não ficar mexendo no celular". Willian tem uma postura mais rígida: diz ser "contra o uso dos celulares na sala, pois, além de prejudicar os alunos, atrapalha a aula do professor. Muitos alunos perdem tempo mexendo no celular em vez de copiar a matéria". Thais Cristina, 17, diz ser a favor do uso dos celulares em sala de aula, pois "há muitas coisas que podemos fazer num celular, mas acabamos ficando viciados”. Mesmo com todas as mudanças tecnológicas a que temos de nos adaptar, há coisas que extrapolam o limite: atender o celular dentro da sala é uma delas. Isso é questão de educação. É uma linha muito sutil que separa o que pode do que não pode ser feito em sala de aula.

A escola tem que apreender o uso das novas tecnologias – e o celular está entre elas; o problema é que não pode ser usado o tempo todo. Tal discussão deve ser permanente entre docentes, direção e alunos. Não há mais como escapar disso.

Até mesmo no ambiente familiar as mudanças são percebidas. Se antes, para punir alguma desobediência, o jovem ficava sem descer para a rua, para o play ou era proibido de ver tevê por uma semana, hoje basta tirar o celular e vetar o acesso a qualquer mídia digital por três dias para os guris se tornarem um exemplo de educação.

Por falar nisso, não seria nada mal estimulá-los a desconectarem-se do mundo virtual por uns dois dias, sem que seja decorrente de alguma punição. Fazê-los perceber que existe vida fora do mundo virtual. O problema é que muitos pais também já estão dependentes. Quem sabe uma viagem para o meio do mato com os meninos não facilite essa experiência? E, depois, para mostrar como a experiência foi positiva e libertadora, é só compartilhar as fotos na internet!

Publicado em 26 de novembro de 2013

Publicado em 26 de novembro de 2013

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