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Passeios com alunos

Alexandre Rodrigues Alves

Uma amiga minha esteve mês passado na Europa, em lua de mel, e ficou impressionada com a quantidade de crianças passeando por museus, igrejas, exposições... Segundo ela, o mais interessante é como elas discutiam as obras de arte que viam. Crianças pequenas desenhavam, professores comentavam algum ponto marcante.

Claro que algumas instituições no Brasil fazem isso. Os CCBBs e alguns museus têm um setor específico para agendar visitas guiadas e ações educativas. Em julho, levei meus alunos para ver a exposição de obras do Vaticano apresentadas no Rio de Janeiro por causa da visita do Papa Francisco, e dois guias acompanharam os grupos todo o tempo, trazendo informações bem relevantes e permitindo que, nos diálogos com ele, surgissem relações com aspectos trabalhados em aula.

Estive semana passada em Recife e, além de curtir as praias e as comidas típicas, aproveitei para rever o centro histórico, Olinda, Itamaracá e João Pessoa. Várias vezes topei com grupos de colégios, fazendo a algazarra característica, mas ao mesmo tempo bastante atentos ao que se passava ao redor.

E o que não falta são pontos interessantes e históricos para ver por ali. Impressionou-me bastante a grande frequência das menções a holandeses, Maurício de Nassau... Falava-se da Batalha dos Guararapes, das construções holandesas, de achados centenários – louças, panos, prédios.

Eram alunos de escolas particulares e da rede pública municipal, da rede estadual, do Ensino Fundamental e do Médio (e até uma turminha de Educação Infantil) prestando atenção ao que era dito, mas se permitindo também rir, mexer nas mochilas dos colegas, tirar fotos pessoais (aquelas de esticar o braço e fazer pose) ou do grupo, seja com o celular, seja com máquinas digitais.

Esse espírito de divertimento é essencial para que os aspectos educacionais desenvolvidos pelos professores sejam realmente assimilados pelos alunos, privilegiando a presença deles no dia a dia – as visitas não tinham nada de extraordinário, que fugisse dos hábitos dos alunos. Não dá pra exigir que os alunos mantenham uma atitude compenetrada (que é característica das crianças parisienses, por exemplo), obtida à custa de uma prática quase militar por parte dos docentes e seus auxiliares.

Numa visita ao Instituto Ricardo Brennand, é impossível cobrar esse tipo de atitude. Primeiro, porque é um espaço amplo, cuja chegada é marcada por uma aleia de mais de 100 coqueiros de cada lado. Em frente à entrada do castelo, no grande jardim, as esculturas do primo Francisco – uma mulher gorda a cavalo e um rinoceronte – pedem (e ganham) inúmeras fotos, assim como as reproduções e os estudos de Rodin espalhados pelos jardins internos.

A aula de História fica para as salas em que estão expostas obras de Frans Post e Rugendas que retratam o chamado Brasil Holandês. É a deixa para os guias falarem de Nassau, mostrando mapas e globos terrestres produzidos naquela época.

Ainda que nesse local perceba-se uma atenção maior por parte dos estudantes, uma atitude menos restritiva é a melhor maneira de levar os alunos a descobrir uma nova visão do mundo pelos olhos da arte, a procurar o que há de arte nos trajetos do cotidiano, a perceber o que há de história nos prédios que vemos todo dia. E a importância de preservar tudo isso – coisa que os europeus já sabem há algum tempo.

A satisfação dos alunos pernambucanos nos passeios (talvez porque não tinham que passar um tempo maçante em sala de aula) me faz crer que, no fim de semana seguinte, alguns deles estariam ali, de novo, levando seus pais, seus irmãos, seus primos. Tomara.

Publicado em 26 de novembro de 2013

Publicado em 26 de novembro de 2013

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