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Livro revela que problemas com transporte público no Rio de Janeiro existem desde os tempos das carroças puxadas por burros
Há mais de cem anos o poder público falha na satisfação da necessidade básica de ir e vir da população brasileira. No final do século XIX e início do XX, os usuários de transporte público do Rio de Janeiro já reclamavam de problemas como acidentes, sujeira, atrasos e aumento das tarifas. Esta é uma das revelações do livro Cidadania e trabalhadores – cocheiros e carroceiros no Rio de Janeiro (1870 – 1906), do historiador Paulo Terra, que será lançado no Palácio da Cidade (na Rua São Clemente, Botafogo), na terça-feira, dia 10 de dezembro de 2013.
O livro é um dos vencedores do Concurso de Monografias Arquivo da Cidade/Prêmio Afonso Carlos Marques dos Santos, e é resultado de sua tese de doutorado defendida na UFF em 2012. Além disso, a obra ficará disponível para download gratuito no site do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro; a versão impressa será vendida no Arquivo e nas livrarias.
Levantamento feito por Paulo Terra aponta que os maiores índices de feridos e mortos em desastres da época eram provocados no trânsito de veículos como carroças e bondes, mesmo nos puxados a burro. Em 1872, por exemplo, dos 64 feridos em desastres, os veículos foram responsáveis por 33 deles; em segundo lugar ficaram os 11 feridos que se acidentaram nas obras em que trabalhavam. Colisões e atropelamentos foram notícia praticamente diárias nos jornais cariocas da época abordada no livro, o que revela que a questão passou a integrar a rotina dos moradores e que, por vezes, provocou a revolta da população contra os cocheiros.
O pesquisador indica que a população manifestava sua opinião em relação às péssimas condições de transporte pelos abaixo-assinados entregues ao governo, as queixas enviadas aos jornais, os pequenos motins, bem como os movimentos conhecidos como quebra-quebras. O mais conhecido destes é, com certeza, a Revolta do Vintém, de 1879/1880, mas Terra analisa ainda os movimentos que não haviam sido estudados até então, ocorridos em 1901 e 1902. Trata-se de uma investigação importante levando em conta que recentemente todo o país foi sacudido por mobilizações que envolviam a questão do transporte urbano.
Em Cidadania e trabalhadores – cocheiros e carroceiros no Rio de Janeiro (1870 – 1906), o autoranalisa também o papel dos trabalhadores no processo de formação da cidadania no Brasil. “Mesmo estando distantes da política oficial, na condição de eleitores e eleitos para cargos políticos, os trabalhadores lutaram por direitos via suas associações e greves, por exemplo”, comenta Terra.
Ele mostra ainda que cocheiros e carroceiros constituíam a categoria que mais realizou paralisações naquele período. Em 1876, por exemplo, carroceiros de lixo fizeram uma greve contra a lei municipal que ordenava a retirada do lixo até às 9 horas da manhã.
Outras curiosidades reveladas na obra dizem respeito às leis relacionadas aos trabalhadores criadas ainda no século XIX, portanto antes da CLT de 1943. Esse foi o caso de uma lei da Câmara Municipal do Rio de Janeiro de 1853, que instituía o aviso prévio aos trabalhadores do transporte que desejassem pedir demissão das empresas, além da necessidade de retirar licença depois de passar por um exame de prova de perícia na condução dos veículos – uma primeira versão da carteira de motorista.
“O livro é, sem dúvida, uma contribuição para a história dos transportes na Cidade do Rio de Janeiro. É leitura necessária e obrigatória para os que querem refletir sobre os caminhos percorridos pelos que lutaram e lutam pela cidadania. Trata-se de um trabalho erudito, porém de fácil leitura e de escrita impecável”, resume Gladys Sabina Ribeiro, professora do Departamento de História da UFF, na apresentação.
Ficha técnica do livro:
- Título: Cidadania e trabalhadores – cocheiros e carroceiros no Rio de Janeiro (1870 – 1906)
- Autor: Paulo Terra
- Gênero: Paradidático - História
- Produção: Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro
Publicado em 03/12/2013
Publicado em 03 de dezembro de 2013
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