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Nelson Mandela: uma vida para tornar o impossível possível
Cândido Grzybowski
Sociólogo, diretor do Ibase
Para quem luta por uma cidadania ativa, Mandela é inspiração e estímulo para persistir, sem medo e nem trégua, na luta civil por direitos de liberdade e igualdade para todas e todos, sem discriminações. Sua vida, dedicada a um projeto de sociedade democrática em que o respeito mútuo e a convivência entre todos seja a regra, foi exemplar. Pelo seu ideal, aguentou longos e duros 27 anos de prisão. Soube transformar adversidades em fortaleza, tornando-se o símbolo de justiça social e dignidade de uma nação (a África do Sul), de um continente e do mundo todo. Mais um verdadeiro imortal da humanidade, herói a nunca esquecer.
A vida pública de Mandela é exemplo de líder político de uma cidadania instituinte e constituinte. Soube transformar a luta contra o apartheid e a intolerância em uma questão não só para a sociedade sul-africana, mas para a cidadania planetária. O Estado, por mais autoritário, violento e excludente que seja, pode acabar sob a ação persistente da cidadania. A força criadora não emana do Estado, mas da cidadania. São lições que Mandela nos deixa com sua história pessoal de homem negro e líder cidadão.
Sonhar grande, acreditar sempre e persistir, mesmo diante de derrotas e de grandes dificuldades, é o que nos deixa como exemplo. Num mundo de globalização desenfreada, de uma civilização industrial produtivista e consumista, do ter e acumular mais por alguns em detrimentos de outros; racista e machista, que nega o direito de viver para todas e todos e que destrói o nosso grande “bem comum”, o planeta, vale a pena lembrar e reverenciar o legado de Mandela. Sim, podemos mudar! Sim, é possível outro mundo! Sim, na nossa diversidade, todos somos iguais! Existe mensagem mais utópica que, no entanto, Mandela mostrou ser possível?
Nestes dias de luto e celebração, a trajetória de Nelson Mandela é lembrada em todos os meios de comunicação. O que falta é relacionar a sua luta ao cotidiano de bilhões de seres humanos mundo afora, que ainda sofrem discriminações, negação de direitos, miséria e fome. Afinal, para além de ser o grande líder da luta contra o regime do apartheid na África do Sul, Mandela se tornou líder de uma humanidade inteira que quer banir o racismo de seu seio, para sempre, não importa o lugar. Mais: ele acreditou que o caminho possível para isso é a democracia inclusiva de todos os seres humanos, em sua comum condição de cidadãos com liberdade e igualdade na diversidade, com solidariedade e direito de participação plena na vida pública. Acreditou e fez. Precisamos buscar força no seu exemplo, acreditar e fazer. A humanidade ainda precisa de muitos Mandelas para realizar plenamente o legado de Mandela Nelson.
Claro, a humanidade tem muitos heróis para celebrar. Sempre, porém, vale a pensa pensar na singularidade da trajetória de uma pessoa. Olhando para ela, a gente acaba vendo que todas e todos podem seguir o mesmo caminho, mesmo se apenas alguns forem exemplares. O fato é que o segredo de sua vida é o respeito a princípios éticos e a intransigência consigo mesmo para não ceder, mesmo aguentando carrascos e trabalho forçado, se preciso. O exemplar é reverenciar com sua vida a vida de todas e todos nós, de valer a pena acreditar sempre e viver. Saber acreditar que o impossível é possível, não desistir nunca, mesmo sem saber quando e onde tudo acaba; vale a pena para dar sentido à vida. Nelson Mandela conseguiu muito do que acreditou. Cabe a nós continuar a sua obra.
Não posso acabar esta homenagem a um dos heróis que inspirou a minha geração de forma profunda sem destacar a importância estratégica dos direitos civis para que as democracias tenham um mínimo de sentido. É por meio dos direitos civis que emerge em sua plenitude a cidadania como poder instituinte e constituinte. A democracia não é espaço comum de disputa de sentidos do viver e dos projetos coletivos sobre como nos organizamos para isso sem os direitos de liberdade e igualdade. Um é o outro lado do outro. Se falta um, na verdade faltam os dois. Talvez, para ser titular de cidadania – do sujeito de direito a ter direitos – o mais estratégico sine qua non – seja a liberdade. Liberdade não é uma dádiva. Liberdade se conquista no dia a dia. Mandela disse uma grande verdade que orientou a sua vida e fica como alerta para nós: “Não há caminho fácil para a liberdade”.
Publicado em 10 de dezembro de 2013
Publicado em 10 de março de 2013
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