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Sobre a natureza humana: eu e o meu cachorro

Eleison Diettrich de São Christovão

Engenheiro elétrico, licenciado em Pedagogia (UERJ), pós-graduado em Planejamento e Gestão de EaD (Pigead/UFF)

O ser humano, resultado de evolução biopsicossocial, guarda em sua hereditariedade sua primitividade, seus instintos, fruto da sua própria natureza. Ao observar os animais mais de perto, noto que somos muito parecidos, identificando-me muito com eles. Por que será que nós, seres humanos, temos tanta dificuldade e resistência em acreditar que não somos tão diferentes assim? Nada me sugere algo diferente da evolução darwiniana. Por mais bizarro que pareça o que vou dizer agora, meu cachorro me ensina muito! Às vezes, quando o levo a passear e ele fareja ou encontra algum(a) parceiro(a), não consigo domar seus instintos, principalmente os sexuais; ele me puxa fortemente, quase me arrastando com ele. Ao mesmo tempo, esse animal, que parece tão selvagem, toda vez que me vê abana o rabo, me abraça, pula, quer brincar e, acima de tudo, tem um ciúme enorme da nossa gata. Ele sente saudades quando estamos distantes, às vezes até deixando de se alimentar. Ou seja, apresenta sentimentos considerados sublimes e exclusivos de nossa espécie.

E o homem? Nossa diferença é que, ao evoluirmos e passarmos de simples bandos de nômades e vivermos em núcleos sociais, nós criamos regras éticas e morais e religiões que, aliadas ao desenvolvimento e amadurecimento do seu córtex pré-frontal e ao uso de suas faculdades mentais estimuladas pela linguagem e socialização, passamos a nos regrar, a ser mais comedidos, a pensar antes de agir; surge então a Filosofia. Ao mesmo tempo, nesse novo complexo ser humano, temos que considerar sua inteligência emocional – que sempre existiu, assim como nos animais – que de certa forma evolui e amadurece ao longo dessa cadeia evolucionária. São formados o hipotálamo, a hipófise, a amídala, que, junto a todos os hormônios, vêm criar esse ser vivo em constante adaptação e recriação, de forma recorrente e interativa. Porém, como recentes descobertas da Biologia moderna nos ensinam, trazemos nos nossos genes todo esse passado de nossos ancestrais e “imprimimos” neles todas as nossas experiências, aprendizagem, nosso crescimento, enfim, toda a nossa evolução, gerações após gerações, de forma recorrente e ainda somadas a isso tudo as mutações genéticas.

Contudo, a evolução é lenta; milhões de anos são necessários para que ocorram mudanças radicais; podemos notar o quanto muda e o quanto mudou observando a geração de nossos próprios pais e a nossa. Esse período não é nada, se comparado ao tempo que o homem levou para chegar até onde chegou hoje. Isso explica – embora não justifique – ações de violência, agressividade, preconceito que ainda vemos, apesar de tanto progresso científico e tecnológico.

Vivemos o tempo todo a pulsação do “genótipo + fenótipo” que carregamos ao longo de nossas vidas: os impulsos surgem, às vezes os controlamos, às vezes não, e aprendemos muito com os erros e acertos, como também com o uso da razão. Toda essa aprendizagem fica registrada em nossos genes e repassada para outras gerações, pela hereditariedade ou pela própria história cultural, como no caso em que alguns agrupamentos não deixam descendentes. É uma roda viva, procurando uma alegoria melhor, uma espiral viva! É a natureza em essência existindo e se reinventando por si só, numa dança de entropias, formação de quasares, partículas de bósons e buracos negros.

Podemos ter a perspectiva de um futuro promissor? Sim e não. Claro que vamos evoluir, porém, nesse processo, o que pode acontecer está nas mãos do homem e na ordem da natureza. Nada impede um homem desequilibrado de apertar um botão e explodir uma bomba nuclear, aniquilando a todos. Nada impede que homens, sabendo disso, acreditem na educação e transcendência dos seres humanos, toquem as mentes e os corações de muitos com palavras sábias, mas acima de tudo com ações! Nosso futuro é o desdobrar de um acontecimento após outro, não necessariamente de forma linear, mas pulsante, de momentos aleatórios e caóticos, porém ao mesmo tempo também, de nossa interferência e intervenção como seres complexos, sistêmicos e holísticos, com essa visão e esse instinto de preservação e amor à vida e à natureza; em outras palavras, amor-próprio!

Publicado em 10/12/2013

Publicado em 10 de março de 2013

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