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Chip Dedo Duro nas Escolas

Tatiana Serra

Quantidade de alunos em sala de aula X Qualidade da educação

Manter a frequência na sala de aula, saber exatamente a que horas o filho chega e sai da escola, vestir-se como um presidiário. O que um chip eletrônico no uniforme escolar pode significar para educadores, pais e alunos?

Com o objetivo de aumentar a frequência dos estudantes em sala de aula, o Centro de Ensino Médio (CEM) 414, de Samambaia, localizado no Distrito Federal, resolveu levar ao extremo o monitoramento no ambiente escolar com um projeto piloto.

Em outubro de 2012, por meio de um chip fixado no uniforme, uma turma de 42 estudantes do primeiro ano do Ensino Médio passou a ter suas entradas e saídas monitoradas. Assim, os pais ou responsáveis pelos alunos recebem mensagem por celular com horário de entrada e saída da escola.

Em entrevista à Agência Brasil, a diretora do CEM 414, Remísia Tavares, disse que optou por esse tipo de monitoramento depois de saber que o sistema funcionava numa escola em Vitória da Conquista, na Bahia (veja boxe a seguir). "Os professores dos últimos horários reclamam que muitos alunos costumam sair antes do término das aulas. Por mais que a escola tente manter o controle, eles dão um jeito de sair".

Além disso, a diretora garante que o projeto piloto foi bem recebido pelos pais, que, assim, começam a se aproximar da vida escolar de seus filhos. "Fizemos reuniões para saber a opinião dos pais a respeito do chip, e eles gostaram da ideia. Os pais se sentem mais tranquilos, sabendo exatamente a hora em que seus filhos entram e deixam a escola", disse Remísia.

Seria essa uma tentativa de pais e educadores de se aproximarem dos próprios estudantes e filhos, além de sua rotina? Estariam eles admitindo que saíram perdendo nessa relação e que esse seria um recurso, uma tentativa de retomar o “controle” da situação? Seria essa a única alternativa para retomar o interesse e a disciplina escolar desses jovens?

Em depoimento ao Globo.com, o especialista Remi Castione lembra que o Ensino Médio é a fase de maior abandono escolar. “A primeira série do Ensino Médio é aquela em que nós temos os maiores problemas no Ensino Médio, em que a taxa de abandono e de repetência chega a um quarto dos alunos. O ideal seria que nós não precisássemos dessas iniciativas, mas elas são importantes”.

De acordo com o representante da empresa que implantou o monitoramento com chip na escola de Brasília, Bruno Castro da Costa, "o sistema não altera a rotina dos estudantes. Eles entram normalmente na escola, os dados são passados para o computador e, 30 segundos depois, os pais são notificados. Uma mensagem é enviada quando o aluno entra na escola e outra no momento da saída. Apesar de ficar registrado também na direção do colégio, o sistema não substitui a chamada de presença em aula (porém, poderá fazê-lo com o intuito de otimizar o tempo de estudo nas classes). Também estão sendo registradas as entregas de boletins ou outros eventos, e a direção pode utilizar o programa para encaminhar o recado ao celular cadastrado".

As opiniões dos estudantes variam. Alguns deles não se incomodam com o monitoramento e consideram que essa pode ser uma maneira de tranquilizar os pais e até de eles voltarem ou passarem a confiar mais em seus filhos, além de acharem que os incomodados são aqueles que costumam “matar aula”.

Quem não concorda com a utilização do chip no uniforme, sendo faltoso ou não, chega a dizer que se sente como presidiário controlado e ressalta que não será esse monitoramento que fará com que os jovens voltem a se interessar pelos estudos. Afinal, até que ponto a quantidade de alunos em sala de aula determina a qualidade da educação e a satisfação desses alunos?

Em Vitória da Conquista-BA, o projeto de monitoramento de estudantes por meio de chip teve início em março de 2012 e já contempla 25 escolas – que somam 20 mil alunos entre 6 e 14 anos, correspondendo a cerca de 50% dos alunos da rede municipal dessa faixa etária.

Segundo o gerente de Tecnologia da Informação da Secretaria de Educação do município, Ronaldo Costa Jr., em entrevista ao Portal Terra, nos primeiros 30 dias de uso, houve aumento de 95% para 98% na frequência das crianças e adolescentes em uma das instituições participantes.

Além da iniciativa de diminuir o número de faltas, que geram perda de conteúdo, atraso no aprendizado e evasão escolar, ainda há de se enfrentar uma situação social específica vivida pelos moradores da cidade baiana: o aliciamento dos menores de idade para o tráfico de drogas, que acontece maciçamente perto dos colégios.

O uso do chip teria, então, tornado mais difícil faltar à aula sem ser notado, e, consequentemente, afastado os estudantes do tráfico. "Funciona porque a cabeça do aluno muda. Ele sabe que, quando está com o uniforme, está sendo acompanhado. Ajudou bastante. Os pais querem ampliar, levar para atividades extraclasses, mas isso será outra etapa", conta Costa Jr.

Leia ainda: Nova tecnologia reconhece aluno por foto do rosto

Publicado em 5 de fevereiro de 2013

Publicado em 05 de fevereiro de 2013

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