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A excelência do educador e uma pedagogia social em tempos de construção de novos relacionamentos cidadãos - fragmentos de conversas
Bernardo Toro
Presidente da Ong Viva a Cidadania (1991-1992)
Fragmento 1: Em 12 de fevereiro, para uma grande plateia, foi apresentado o estudo A partir de um ensino de excelência: como melhorar a qualidade da educação para todos os colombianos, da Fundação Compartir, realizado pelos pesquisadores Sandra García Jaramillo, Darío Maldonado Carrizosa, Guillermo Perry Rubio, Catherine Rodríguez Orgales, Juan Esteban Saavedra Calvo.
O estudo é uma contribuição para o debate sobre a forma de criar uma massa crítica de educadores que gerem uma aprendizagem de excelência para as crianças colombianas. Lendo o resumo do texto dá para ver que o estudo tem várias vantagens: é uma abordagem sistêmica para implementar e atingir metas em 15 anos, metas específicas programadas no tempo. O estudo formula um conjunto de políticas e estratégias de implementação para atingir os objetivos sem esquecer as possíveis variações dos cenários. O sistema proposto prevê:
- formação prévia para o serviço;
- seleção;
- avaliação para formação continuada;
- formação continua durante o serviço;
- remuneração e reconhecimento.
Eu recomendo a educadores, políticos, administradores, pesquisadores, dirigentes sindicais e da indústria a leitura e discussão desse estudo em grupos de trabalho. Uma discussão concebida a partir da perspectiva de como o educador colombiano contribui para a excelência educacional de modo que possibilite um novo relacionamento cidadão.
Fragmento 2. Muitos colombianos esperam que essas conversas de La Habana alcancem seus objetivos. Essa expectativa implica necessariamente um trabalho de pedagogia social para construir uma nova relação dos cidadãos em todos os níveis (não vejo a utilidade ou conveniência de falar sobre pós-conflito).
Nesse processo pedagógico têm papel fundamental todos os atores sociais que contribuem para a formação dos modos de sentir e agir de uma sociedade: pais, educadores, políticos, pastores, comunicadores, administradores e artistas. Eles são os que convertem as tradições, o conhecimento e a sabedoria de uma sociedade em rotina (protocolos, procedimentos ou práticas) e formam os valores de uma sociedade.
Em termos práticos, os valores são formados e fortalecidos com os diferentes tipos de rotinas praticadas nos diferentes espaços de socialização de nossas vidas. As principais áreas de socialização e alguns valores que se formam pela sua rotina são:
- A família (laços emocionais, de empatia e de autocuidado em saúde e espírito);
- A rua e o grupo de amigos (que vivem em redes e aprendem a interagir com aqueles que não sabem, os estranhos);
- As organizações de bairro e os clubes (a solidariedade, o criar e proteger os bens coletivos básicos, a mutua proteção e a cooperação);
- A escola e a universidade (os valores do saber, aprender e trabalhar em equipe);
- O trabalho e as empresas (a produção, a criação de riquezas);
- As organizações intermediárias (associar e inter-relacionar o micro com o macro);
- As organizações políticas (a convergência de interesses);
- As igrejas (transcendência);
- Os meios de comunicação (o significado e o sentido);
- As redes sociais (aprender a pedir e dar ajuda);
- A internet (aprender a fazer hipóteses e perguntas pertinentes para conhecer o saber acumulado).
Uma sociedade coerente e com altos níveis de convivência (como vimos no Japão depois do tsunami) se alcança quando as rotinas de todos esses espaços estão orientadas por um mesmo projeto ético, por um mesmo norte político. Na Colômbia, o norte ético deve ser o Estado social de direito, isto é, preservar a dignidade humana em todos os espaços. Essa coerência ética facilita todas as transações econômicas, políticas, sociais, culturais, emocionais e espirituais e cria condições para a riqueza e a inclusão.
Muitas vezes as rotinas dos diferentes espaços estão orientadas por diferentes projetos dessa sociedade fragmentada. É o que acontece, por exemplo, quando, na escola, à criança é ensinado o respeito as diferentes culturas e etnias e quando as crianças chegam a casa sua mãe diz que não quer que tragam amigos negros ou índios, o que gera comportamentos de suspeita e desconfiança com o outro, o estranho e diferente. Você acaba se restringindo ao circulo familiar e de amigos, em detrimento de um comportamento cidadão coletivo.
Fragmento 3. Um provérbio africano diz: “É necessária toda uma aldeia para educar uma criança”. É necessário que todos os espaços de socialização operem com ética suas rotinas para poder educar uma criança. “Não é suficiente que os professores sejam excelentes, é necessário que os outros atores que influenciam o modo de pensar, agir e sentir das crianças e dos jovens atuem também em níveis de excelência e com o mesmo projeto ético”. Por isso, formação de educadores com qualidade requer fazer da educação um bem público, ou seja, um bem de igual qualidade para todos.
Se continuarmos aceitando como normal a existência de dois sistemas educativos de diferentes qualidades (o estatal e o privado), não é possível conseguir excelência em educação. Como disse J. Nasch, toda a busca de excelência é excludente, a não ser que seja totalizante. Parece normal que nossos filhos recebam uma educação de qualidade e que os filhos “dos outros” recebam uma educação de outra qualidade. Esse é um problema de um desenho do sistema que isola os filhos da elite dos filhos dos setores menos favorecidos, o que impede que a educação contribua para a articulação social e fomenta a fragmentação e o distanciamento social; se a excelência for para todos, será inclusiva.
É difícil alcançar a excelência para todos quando sabemos que cerca de 42% dos educadores da rede oficial de Bogotá têm seus filhos em colégios privados. Um poderoso indicador do melhoramento da qualidade da educação pode ser a percentagem dos filhos de educadores matriculados no sistema estatal. A qualidade da educação privada está relacionada à qualidade da educação estatal: se a educação do estado é excelente, só a educação privada de níveis excepcionais de qualidade poderá sobreviver. Se a qualidade do estado se deteriora, proliferam os colégios privados com qualidade duvidosa.
Fragmento 4. A pesquisa e a experiência educativa nos mostram que existem algumas coisas que podemos fazer e entender agora para melhorar a qualidade do sistema enquanto vamos “Além de ensinar a excelência”:
- Uma sociedade começa a valorizar e a melhorar a sua educação quando não culpa os alunos pelo fracasso escolar. Todos podemos aprender tudo em qualquer momento se os métodos e a motivação são adequados. Um bom educador é um profissional que sabe e pode identificar o melhor método e os mecanismos de motivação adequados para que a criança aprenda. O êxito ou o fracasso escolar são de responsabilidade dos adultos que cercam a criança. Culpá-la pelo fracasso escolar é um obstáculo para a melhora educativa.
- A profissão do educador não é ensinar, é conseguir que todos os seus alunos aprendam o que têm que aprender no momento em que têm que aprender. E que aprendam com felicidade e solidariedade. A docência (dar aula) não é a profissão do educador. O educador é um profissional da aprendizagem na sociedade.
- Definir o estudo e a aprendizagem em grupo cooperativo como o enfoque pedagógico do sistema educativo colombiano. A Colômbia é reconhecida pelos seus modelos de aprendizagem em grupo cooperativo, como a Escola Nova ou o Ensino Personalizado em Grupo; sem dúvida os educadores continuam dando mais valor à classe magistral, que é muito efetiva se os alunos têm a mesma idade e vêm do mesmo estrato social. Se queremos que as crianças convivam com a diversidade e as diferenças de pensamento como um valor e que sejam capazes de trabalhar em grupo e criar convergências de interesses, temos que fazer do estudo e da aprendizagem cooperativos uma característica essencial do sistema educativo colombiano.
- Saber pedir ajuda: a característica do novo líder. É preciso ser competente e feliz em um mundo que demanda múltiplas transações que lidam com redes emocionais, sociais e profissionais. Essas redes se formam e se criam pelo aprender a dar e receber ajuda dos outros. Quando peço ajuda, eu reconheço o outro; quando recebo ajuda, ele me reconhece. E nesse processo se criam confiança e conhecimento mútuo. Assim vão se formando as redes emocionais que me apoiam nos momentos de crise (doenças, perdas afetivas, depressões, solidão etc.), as redes profissionais a que posso recorrer para solucionar problemas de trabalho e as redes sociais que me reconhecem em meus papéis sociais como educador, médico, advogado, carpinteiro etc. O enfoque pedagógico de estudo e trabalho cooperativo, em grupo, forma as pessoas com capacidade de dar e pedir ajuda.
Publicado em 25/03/2014
Publicado em 25 de março de 2014
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