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A cultura e a casca de banana: repensando a sociedade

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

Mestrando do Prodema/UFPB; pesquisador do Gepea/UFPB; diretor de Educação Ambiental da Sema/Cabedelo-PB

Introdução

A sociedade vem passando por inúmeras transformações em seus alicerces (sociais, econômicos, trabalhistas, ambientais etc.) e que afetam diretamente o futuro de nossa espécie – seres humanos – e dos demais seres deste planeta. Entender essa complexidade de relações de impactos das ações ao longo do tempo nem sempre se torna uma atividade fácil; mas, por meio de um vídeo, isso se tornou possível.

A cultura e a casca de banana, o filme produzido pelo Sesc TV e TV Cultura em 2011, trata do diálogo entre um “chimpanzé” e o ser humano (Figura 1). O documentário tenta mostrar como se daria o diálogo entre essas duas espécies que, apesar de suas diferenças, têm proximidade genética e nesta ficção podem se comunicar e se entender. O diálogo transcorre de forma alegre, educativa e elucidativa, abordando conceitos e pensamentos desde a formação da sociedade humana até os dias atuais e sua relação com o planeta e com os seres vivos – sempre pelas duas óticas: a do ser humano e a do chimpanzé. Ao mesmo tempo, o vídeo traz depoimentos de pesquisadores que colocam suas posturas teóricas frente à temática em várias visões, o que enriquece o documentário de média duração.

Imagem do vídeo
Figura 1 – Imagem do vídeo A cultura e a casca de banana.
Fonte: http://revistacult.uol.com.br/home/wp-content/uploads/2011/04/Foto-Piu-Dip-A-cultura-e-a-casca-de-banana.jpg.

Visões de mundo de cada espécie

O “chimpanzé”, que representa os seres vivos e o planeta, expõe seu ponto de vista mostrando que o ser humano vive nas cidades consumindo, com liberdade de ir e vir, com escolhas e poder sobre os demais seres, enquanto ele, o chimpanzé, está preso, sem espaço para ir e vir, apesar de ser “cuidado e alimentado”. O diálogo a todo momento traz situações sobre os paradigmas contemporâneos em que está a humanidade; ao mesmo tempo, expõe seus paradoxos de desenvolvimento às custas da qualidade de vida.

O chimpanzé e o ser humano são geneticamente parecidos (99%); por isso o filme trata do diálogo entre essas duas espécies, uma subjugada pela outra. Se compararmos taxonomicamente, quer dizer, classificando e dando nomenclatura aos organismos (Quadro 1), a diferença está a partir da categoria Família, que detém as características anatômicas de igualdade entre organismos; no caso do ser humano, só temos a nossa espécie, alias subespécie (homo sapiens sapiens); no caso do chimpanzé, na Família à qual pertence (Pongidae) se encontram dois outros grandes símios: o gorila e o orangotango (Bilharinho, 2013).

Quadro 1 – Comparação taxonômica entre o ser humano e o chimpanzé
Categorias Ser humano Chimpanzé
Reino Animalia Animalia
Filo Chordata Chordata
Classe Mammalia Mammalia
Infraclasse Placentalia Placentalia
Ordem Primata Primata
Família Hominidae Pongidae
Subfamília Homininae Pnginae
Gênero Homo Pan
Espécie Homo sapiens Pan troglodytes

Fontes: http://ciencia-da-natureza.blogspot.com.br/2010/03/taxonomia.html; http://nautilus.fis.uc.pt/wwwantr/areas/primatologia/chimpanze/chimpanze.htm. Acesso em 25 fev. 2014.

Chordata – Possui notocorda no seu desenvolvimento embrionário e permite a formação da coluna vertebral.

Mammalia – Seus filhotes mamam.

Placentalia – A fêmea gesta o(s) filho(s) em uma placenta.

Porém, o ser humano, na supremacia de dominação do planeta e de seus recursos, está consumindo tudo no planeta e um dogma espiritual o coloca como dono do planeta – que está aqui para servi-lo. Essa concepção se perpetuou no cristianismo e na sociedade ocidental e levou à exploração sem medir as consequências ao longo do tempo, acarretando a atual crise socioambiental (Leis, 1999).

O socioambientalismo busca unificar os saberes, no entendimento de que todos os organismos são iguais em suas bases primordiais, e muitos organismos manifestam certo grau de cultura, não sendo esta última uma exclusividade do ser humano (Carvalho, 2013). Porém é na nossa espécie que temos dimensões e ramificações maiores e mais complexas em sua forma de expressão (Noronha, 1999). Para Johnson (1997, p. 59), cultura é “o conjunto acumulado de símbolos, ideias e produtos materiais associados a um sistema social”, sendo os símbolos e ideias representados pelas atitudes, valores, crenças e normas; produto é tudo aquilo que é produzido ou modelado ou transformado pela atividade social da coletividade.

No vídeo, a cultura não é uma essência única da humanidade, pois alguns seres possuem certo grau de cultura no seu modo de vida; então, o modo de vida dos seres e a forma como sobrevivem no ambiente, com adaptações inerentes a uma espécie, podem ser considerados uma cultura, transmitida para a próxima geração.

O ser humano é um ser adaptável, porque consegue modificar o ambiente a seu favor, construindo e transformando, utilizando seus recursos, e com isso consegue sobreviver e prosperar (Córdula, 2012); todavia, o custo socioambiental dessa condição, é atualmente a nossa própria sobrevivência.

Considerações finais

O documentário de curta metragem é um ótimo recurso, incitando o debate e a sensibilização sobre as questões paradigmáticas da sociedade humana, que geraram os atuais problemas socioambientais. Sendo o paradigma um modelo instalado na sociedade, seguindo um padrão e baseado no sistema de conhecimentos, como perspectiva teórica, “é um conjunto de suposições sobre a natureza das coisas que estão por trás de perguntas que fazemos e dos tipos de respostas a que, como resultado, chegamos”, conduzindo, assim, o nosso cotidiano e o futuro da sociedade (Johnson, 1997, p. 175).

Teoria “individualista e psicológica; argumenta que um sistema social nada mais é do que um conjunto de indivíduos (...); em suma, o todo é a soma de suas partes e nada mais” (Johnson, 1997, p. 21).

Isso mostra que nossa percepção sobre o mundo à nossa volta é reducionista (atomista) e que não conseguimos ter uma visão de totalidade (holismo) dos impactos causados ao planeta, da nossa responsabilidade individual e coletiva; consequentemente, não conseguimos parar de ter comportamento ambientalmente irresponsável (Dias, 1998).

Necessitamos da implantação de uma educação socioambiental que mude desde a família, que é a base da sociedade e da formação do indivíduo, até atingir a sociedade como um todo e em escala planetária, mudando concepções, resgatando valores e gerando uma nova ética planetária para atuar em unidade (Boff, 2012) e salvar o que ainda nos resta deste planeta, nosso lar.

Referências

BILHARINHO, Fernando. Classificação dos primatas. Disponível em: <http://paleoantro.dominiotemporario.com/doc/classificacaoprimatas.pdf>. Acesso em: 04 jul. 2013.

BOFF, Leonardo. Sustentabilidade ambiental: o que é e o que não é. Petrópolis: Vozes, 2012.

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura; STEIL, Carlos Alberto. Percepção e ambiente: aportes para uma epistemologia ecológica. Revista Eletrônica do Mestrado de Educação Ambiental, Volume especial, Furg, Rio Grande-RS, p. 59-79, mar. 2013.

CÓRDULA, Eduardo Beltrão de Lucena. Ser humano holostêmico. Cabedelo: EBLC, 2012.

DIAS, Genebaldo F. Educação ambiental: princípio e práticas. 5ª ed. São Paulo: Gaia, 1998.

JOHNSON, Alla G. Dicionário de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

NORONHA, Marcos de. A função da cultura. Revista de Educação, Cultura e Meio Ambiente, Porto Velho, v. III, n° 15, mar. 1999. Disponível em: <http://www.revistapresenca.unir.br/artigos_presenca/15marcosnoronha_afuncaodacultura.pdf>. Acesso em: 04 jul. 2013.

Ficha técnica do filme:

  • Título: A cultura e a casca de banana
  • Autor: Toni Ventura
  • Gênero: Documentário
  • Produção: DIP digital Produções, Sesc TV/TV Cultura, 2011, 50min.

Publicado em 06/05/2014

Publicado em 29 de abril de 2014

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