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O paradigma e a humanidade
Eduardo Beltrão de Lucena Córdula
Mestrando no Prodema (UFPB); especialista em Educação (IESP); licenciado em Biologia (UFPB); pesquisador do Gepea-Gepec (UFPB)
Os paradigmas permeiam a vida cotidiana das populações, determinando seu modo de vida; são retroalimentados pelas interações entre os sujeitos e permeiam os estratos de sustentação da sociedade: política, economia, cultura, trabalho etc. O que os mantém ao longo do tempo é a estagnação por falta de uma percepção mais apurada dos reais problemas que estão infiltrados na sociedade, e enquanto mudanças agudas não surgem e transformam o modelo atual para um novo modelo, os paradigmas se mantêm inalterados, pois pequenas e sutis incitações de poucos grupos não conseguem impactar toda a sociedade para que tais insurgências ocorram. Porém, quando conglomerados sociais, empresariais e setores públicos acreditam na insustentabilidade do paradigma atual e movem-se na busca por mudanças, definitivamente o paradigma da sociedade humana mudará, buscando novos caminhos e alternativas para continuar evoluindo e se desenvolvendo.
Desde o século passado a sociedade estava no auge do seu paradigma tecnológico e econômico; porém, ao mesmo tempo, entrou em conflito com o meio ambiente devido ao alto nível de consumo dos recursos naturais (água, oxigênio, minérios, solos férteis, fauna, flora etc.), esgotando toda a capacidade de suporte desse planeta para manutenção do paradigma instalado. Além desse efeito negativo, outro é a produção absurda de resíduos que são lançados no ambiente diariamente, poluindo e contaminando (Figura 1) (CAPRA, 1997; KUHN, 1997). Para Leff (2002), é um modelo de construção versus destruição, de ganância baseada unicamente no capital, ou seja, no lucro material acima de tudo, inclusive sobre a nossa própria espécie. Esse modelo de desenvolvimento de consumo material e imaterial está dizimando a essência humana do ser humano. Mesmo atuando via Educação Ambiental, sensibilizando crianças para que desenvolvam uma consciência ambientalmente responsável (CAR) e que essas gerações convertam isto em um novo paradigma, quando se tornarem adultas, vemos que tudo que foi absorvido acaba sendo abandonado por esse modelo econômico, que determina sua sobrevivência na sociedade (CÓRDULA, 2012; LEFF, 2002).
Atualmente, a ciência do desenvolvimento socioambiental está buscando para a sociedade um novo paradigma que concilie o desenvolvimento tão desejado com o mínimo de impactos neste planeta, para que nossa espécie continue a existir (CAPRA, 1997). Infelizmente, o desejo humano pelo consumo e aquisição de bens continua movendo e direcionando as escolhas e padrões comportamentais na sociedade.
Segundo Capra (1997), quando uma sociedade atinge tal adversidade de problemas histórico-sociais e culturais, se não houver mudanças no paradigma acabará entrando em processo de declínio civilizatório, podendo chegar à extinção, assim como mostra a história, como com as civilizações maia, asteca e inca. É necessário buscar nessa mesma história os conhecimentos necessários para construir novos modelos de desenvolvimento. Esses modelos surgem pelas necessidades atuais que não são mais atendidas na reversão dos desequilíbrios, comprometendo o planeta (CÓRDULA; NASCIMENTO, 2013; LEFF, 2002). Portanto, o novo paradigma nasce da necessidade iminente de mudanças e de sobrevivência da espécie humana neste planeta, já que o paradigma atual está tornando o modo de vida insustentável (LÉNA, 2012).
Consciência é uma iminência para mudar o paradigma atual e traçar novos rumos para a sobrevivência humana neste planeta. Mas até quando a humanidade permanecerá à sombra de sua falta de sensibilização para as questões socioambientais? Este será o desafio para estas e as futuras gerações.
REFERÊNCIAS
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1997.
______. O ser humano planetário (Homo affectus holostemicus): da concepção à formação do educando. In: CANANÉA, F. A. (org.). Diálogos educacionais contemporâneos. João Pessoa: IMPRELL, 2012, p.31-48.
______; ______. Educação, sociedade, natureza: pensamentos globais, atitudes locais. Cabedelo: EBLC, 2013 [CD-ROM].
KUHN, Thomas S. As Estruturas das revoluções científicas. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1997.
LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.
LÉNA, Philippe; NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do (orgs.). Enfrentando os limites do Crescimento: sustentabilidade, decrescimento e prosperidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2012.
Publicado em 27 de maio de 2014
Publicado em 27 de maio de 2014
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