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O texto visual, afinal, o que é?

Silvio Profirio da Silva

Auxiliar de Desenvolvimento Infantil na Secretaria de Educação, Esportes e Lazer (Recife-PE)

O que é um texto? Apesar de ser um pergunta bastante simples, muitas pessoas podem se atrapalhar para respondê-la. Em outras palavras, ao se depararem com essa indagação, muitas pessoas não conseguiriam responder. Isso é algo bastante comum. Nas práticas corriqueiras do dia a dia, constantemente fazemos uso de diversas palavras, como conhecimento, educação, ideologia etc. No entanto, em alguns casos, não sabemos apresentar a definição de algumas delas. Tal situação acontece com a palavra “texto”.

Quando falamos em texto, automaticamente pensamos na imagem de um papel impresso repleto de letras, palavras e frases (Santos, 2011). Isso vem de uma definição tradicional de texto. Este era diretamente vinculado à escrita. Isto é, todo texto deveria ser construído por meio da linguagem escrita, por palavras e frases. Caso contrário, não seria considerado texto. Essa situação esteve presente por muito tempo em nossa sociedade. Havia, assim, uma única modalidade textual: o texto verbal e/ou escrito.

Nos dias de hoje, essa concepção de texto foi revista, transcendendo, desse modo, a frase. Ou seja, atualmente a concepção frasal de texto foi ampliada, abarcando os múltiplos aspectos da linguagem, como: escrita, oralidade e visual. De acordo com Feres (2002) e Silva (2013a), essa perspectiva de texto está intimamente ligada às teorias do texto [que passarei a chamar de Linguística de Texto e/ou Linguística Textual]. Para esses autores, a Linguística de Texto, em seus postulados, promove modificações significativas no conceito do que vem a ser “texto”, percebendo, dessa maneira, a forma como a imagem age na construção linguística de um texto.
 
Costa Val (2004) postula uma noção de texto como produções linguísticas materializadas pela escrita e a oralidade/fala. Essa posição é apoiada por Xavier (2006). Com isso, atualmente, há o texto escrito e o oral. O primeiro, materializado por signos gráficos, ou melhor, letras, palavras e frases. O segundo, materializado por meio da fala. Diante disso, o texto verbal deixa de lado a primazia dada à escrita, podendo ser materializado não só por meio da escrita como também da fala.

O conceito de texto, porém, transcende a escrita e a fala. Ou seja, essas não são as únicas modalidades textuais. Há ainda o texto misto [doravante híbrido, verbo-imagético e/ou verbo-visual], assim como o texto visual e/ou imagético. Aqui entra em jogo a linguagem não verbal, mais precisamente a imagem. Ou seja, a imagem passa a atuar na construção linguística do texto, como demonstra Luna (2002).

O primeiro – texto misto ou híbrido – tem sua construção realizada a partir da associação/conexão entre a linguagem escrita e a imagem [leia-se verbal e não verbal]. São exemplos que ilustram essa modalidade textual: os cartuns, as charges, as histórias em quadrinhos (HQs), as propagandas, as tirinhas etc. Todos esses textos trazem consigo uma construção linguística proveniente da união/vinculação da linguagem verbal [letras, palavras e frases] e da linguagem não verbal [imagem]. Com isso, no texto misto são construídos elos entre a modalidade escrita da linguagem e a imagem, a fim de manifestar a intenção comunicativa do autor do texto.

O segundo – o texto visual ou imagético – tem sua construção linguística concretizada a partir da imagem em suas inúmeras formas. Nessa modalidade textual, é comum o emprego/utilização de múltiplas e diversificadas cores, tons, tipografias, formas e formatos, assim como símbolos diversos, linhas etc. (Sargentini et al, 2012; Silvino, 2012). O uso desses elementos não é algo que emerge apenas com o propósito de entreter. Tem como objetivo externar a pretensão comunicativa do autor a partir da sua mensagem.

Para concluir esta escrita, recorremos à fala da professora Tatiana Simões e Luna, que diz que “o texto é um evento comunicativo em que podem atuar várias linguagens (verbal, visual etc.) que possibilita ao autor/locutor realizar seu propósito comunicativo e, ao leitor/interlocutor, construir sentidos” (2002, p. 1). Partindo desse pressuposto, o texto é um construto comunicativo procedente/proveniente da abundância de registros da linguagem [escrita, fala e imagem]. Isso erradica a perspectiva tradicional de texto, ancorada na supremacia da modalidade escrita da linguagem.

Referências

COSTA VAL, M. G. F.. Texto, textualidade e textualização. Revista Pedagogia Cidadã - Cadernos de Formação Língua Portuguesa, UNESP, São Paulo, v. 1, p. 113-124, 2004.

FERES, B. S. Estratégias de leitura, compreensão e interpretação de textos na escola. In: Anais do VI Congresso Nacional de Linguística e Filologia, Rio de Janeiro, CiFEFil, 2002.

LUNA, T. S. A pluralidade de vozes em aulas e artigos científicos. Revista Ao Pé da Letra (UFPE), v. 4, 2002.

SANTOS, S. Texto visual: uma nova concepção de leitura. Pesquisas em Discurso Pedagógico, v. 10, nº 1, p. 1-14, 2011.

SARGENTINI, V. M. O.; SANTOS, J. R.; SOUZA, P. C. R. Materialidades discursivas no ensino de língua portuguesa: a pesquisa com novas linguagens. Revista Linha d’Água, v. 25, p. 203-226, 2012.

SILVA, S. P. Pedagogia da leitura: o que mudou nos últimos trinta anos? Revista Querubim, nº 21, p. 130-137, 2013a.

_____. Concepções de linguagem e fazer docente: um olhar sobre as práticas pedagógicas do ensino da leitura. Revista Urutágua, nº 28, p. 39-53, 2013b.

SILVINO, F. F. Letramento visual. In: Anais dos Seminários Teóricos Interdisciplinares do Semiotec – I STIS, 2012.

XAVIER, A. C. Como se faz um texto: a construção da dissertação argumentativa. Catanduva: Rêspel, 2006.

Publicado em 17 de junho de 2014.

Publicado em 17 de junho de 2014

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