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Copa pedagógica

Mariana Cruz

O clima festivo da Copa do Mundo 2014 está contagiante. A despeito de toda a tensão que antecedeu a Copa, com ameaças de que não aconteceria, afirmações de que os aeroportos estariam caóticos, os estádios não estariam prontos, de que tudo já estaria comprado para o Brasil vencer (pelo que estamos vendo até aqui, não está nada fácil para o Brasil), nenhuma dessas previsões de cassandra se concretizou. E o Rio de Janeiro, local tido por vários veículos da imprensa internacional como a cidade da violência, até agora vem se saindo bem. Eis que, desde os primeiros dias de junho para cá, a cidade se encheu de estrangeiros; Copacabana parece ter mais argentinos do que cariocas e, sim, está tendo Copa.

Tirando o show de abertura "padrão Fifa" – que mais parecia apresentação de final de ano de academia de bairro, capaz de fazer qualquer carnavalesco do grupo de acesso corar de vergonha –, está tudo caminhando bem. Até o metrô direção Ipanema nos dias de jogo do Brasil. Andei nele no dia do jogo do Brasil contra o Chile: estava bonito – apesar de lotado, claro –, vibrante, com todo mundo de verde e amarelo, cantando, batendo palmas; enfim, parecia um carnaval em que todos estavam fantasiados de Brasil. O Rio de Janeiro está em festa.

O que dizer da febre que o álbum da Copa gerou? Crianças, jovens, adultos, gente de todas as idades atrás de figurinhas dos craques. Pessoas se encontravam em shoppings, restaurantes, faculdades para trocar as repetidas, hábito que muitos pais aprovaram, pois ficaram surpresos com o conhecimento adquirido pelos filhos. As crianças sabem de cor as bandeiras de todos os países participantes. E, graças à memória fresca delas, aliada ao interesse no assunto, a garotada virou fonte de consulta sobre os jogos, resultados, saldo de gols. E não fica só nisso: dá palpites e explica as razões de suas preferências, como na conversa que tive com Pedro, um menino de seis anos que adora futebol, ao perguntar para que país ele iria torcer no jogo entre Equador e França nas oitavas de final. Ele, na maior simplicidade, disse que iria torcer pelo Equador, por ser um país sul-americano.

E depois dizem que futebol é alienante.

Copa como tema transversal

Um tema como a Copa do Mundo pode ser muito bem aproveitado nas escolas, trabalhado em diversas disciplinas. Engana-se quem pensa que esse tema se restringe à Educação Física. Em História e Geografia a Copa pode ser trabalhada à exaustão: que tal dividir a turma em grupos A, B, C, D, E, F, G e cada um ficar responsável por estudar os países componentes desses grupos, estudar sua população, principais estados, capital, relevo, características físicas e políticas? Em Matemática, pode-se trabalhar com tabelas, somando os pontos de cada seleção na primeira fase, pesquisando a quantidade de vezes que cada time foi campeão, as probabilidades de voltarem a ser. Se o professor tiver um pouco de criatividade e souber aproveitar a fissura da garotada pelo tema, é capaz de transformá-los em verdadeiros estatísticos. Em Física, pode-se calcular a trajetória da bola, a força do chute, a velocidade da Brazuca. Nas aulas de Inglês, que tal traduzir os hinos dos países de língua inglesa? Ou entender a origem de diversas expressões futebolísticas (córner, gol, time, pênalti). Ainda em relação aos hinos, pode-se investigar as razões que levaram países a falar determinado idioma que não parece ser o de origem e, assim, chegar ao processo de colonização de cada um deles, como é o caso de várias seleções de países africanos, como Argélia, Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões. Por que na Costa do Marfim o idioma oficial é o francês, em Gana e na Nigéria é falado o inglês e em Camarões fala-se francês e inglês?

São muitas as coisas que podem ser estudadas. Deve-se apenas não cair na tentação de deixar que os alunos acabem transformando os trabalhos numa grande mesa-redonda sobre futebol. Os jogos devem ser apenas o pretexto para falar de outros temas. Tampouco os assuntos devem resvalar para o campo da fofoca futebolística ou se restringir ao desempenho deste ou daquele jogador, ao enaltecimento do Neymar, do Messi, do goleiro Ochoa ou do rigor da punição da Fifa em relação à mordida de Suárez. Tais assuntos não precisam ser tratados dentro de sala. Isso pode ser falado na hora do recreio.

Publicado em 08 de julho de 2014.

Publicado em 08 de julho de 2014

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