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Formação docente contínua: a busca da satisfação pessoal na construção de uma identidade profissional na sociedade do século XXI
Claudia Araujo Diogo do Nascimento
Introdução
Este artigo tem como objetivo discutir a importância de considerar a educação contínua como parte fundamental do trabalho docente na busca de autonomia para dirigir seus desafios e resolver as suas necessidades dentro do contexto social em que vivemos hoje. Assim o professor pode desempenhar o seu papel como agente transformador na Educação contemporânea. A partir de estudos de Paulo Freire (1991, 1996, 2002) e António Nóvoa (1991, 2002, 2009) entre outros autores, percebe-se a necessidade de sempre procurar maneiras de reinventar um sentido para a escola; sem dúvida, é pela educação continuada. Com isso, o aprender é essencial na vida do profissional docente, pois resultará numa satisfação pessoal e profissional.
Os docentes estão sempre em busca de novos conhecimentos, de se adaptar às inovações tecnológicas, de aprimorar-se, de buscar a sua formação continuada.
Este trabalho apresenta-se dividido em três tópicos. No primeiro serão abordados os aspectos históricos do curso de formação de professores, com o intuito de entender as ideias pedagógicas que eram seguidas em determinados momentos no Brasil e que tipo de formação era concebido.
O segundo tópico fala da necessidade da formação contínua na vida dos profissionais, o incessante trabalho de buscar conhecer novas práticas pedagógicas e novos métodos que enfatizem um ensino de qualidade, isto é, intervenções inovadoras no sistema educacional e social.
No terceiro tópico foi abordado o papel do professor diante da atual sociedade, ou seja, o papel do professor do século XXI e os desafios que enfrenta durante seu processo pessoal e profissional.
Foi feita uma pesquisa bibliográfica que contou com autores como Paulo Freire e Antonio Nóvoa, entre outros.
Com as modificações na educação devido às mudanças e exigências sociais, a necessidade de professores reflexivos, críticos com uma responsabilidade social se tornou de suma importância nos dias de hoje. O texto, então, aponta para a construção dos cursos de formação de professores e de professores formados de maneira mais coerente, centrada e estruturada, buscando o fortalecimento e a valorização da profissão.
Por isso, existe necessidade de colocar em prática concepções e modelos inovadores, em que as escolas se abram para a coletividade com um espírito crítico e deixem de lado o tradicionalismo e o individualismo.
Formação de professores: tendências e perspectivas
Alves (2007), citando Saviani (1997, 1999) lembra que podemos citar três marcos fundamentais no pensamento pedagógico no Brasil ao longo do século XX: a Pedagogia Escolanovista, a Pedagogia Tecnicista e a Pedagogia Histórico-Crítica. As tendências pedagógicas brasileiras são construídas nos embates e reformulações que ocorrem no diálogo cultural, político e social, partindo de premissas que o pensamento filosófico da época interpreta.
Segundo Santos, Moraes e Martins (2012, p. 1.132),
tantas mudanças no contexto social exigem do docente, assim como da própria instituição, novas formas de atuar e de lidar com o conhecimento, pois “a profissão docente é uma prática educativa, é uma forma de intervir na realidade social, no caso mediante a educação” (PIMENTA, 2008). E sendo a educação uma prática social implicada na relação teoria e prática, “é nosso dever como educadores, a busca de condições necessárias à sua realização” (VEIGA, 1989).
A Pedagogia Escolanovista critica a visão centralizadora e unilateral da Pedagogia Tradicional e inaugura uma nova visão de educação em que o aluno é o centro de todo o processo. Como resultado das mudanças ocorridas no Brasil nos âmbitos político, social e econômico do inicio do século XX, o movimento da Escola Nova propõe transformar práticas educacionais vigentes a partir da aprendizagem como processo e não mais como resultado, como pregava a visão tradicional.
De acordo com Silva (2012, p. 3),
é entendida como escola ativa, pois a aprendizagem do aluno ocorreria num movimento, resultando de impulsos emotivos naturais em que aspectos biológicos são respeitados. E as atividades devem ser organizadas de acordo com as etapas do desenvolvimento de cada criança. “A escola passa a preocupar-se em entender como o aluno aprende” (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 19).
A Pedagogia Tecnicista foi focada pela predominância da situação econômica em que o país se encontrava entre os anos de 1955 e 1961, que contava com o investimento estrangeiro e a necessidade de mão de obra qualificada. Sendo assim, o curso de Formação de Professores passou a ser centrado em uma formação que preparava cidadãos capazes de seguir as exigências do mercado, obtendo assim um discurso economicista, isto é, que não se preocupava com as mudanças sociais mais profundas que diminuíssem as desigualdades existentes, mas que seguia uma ideologia empresarial visando produzir um produto escolar adequado às exigências econômicas.
A visão tecnicista promoveu um sistema de técnicas educacionais que possibilitaria aprendizado rápido e docência eficaz, centralizando toda a elaboração nas mãos dos especialistas técnicos das instâncias superiores, como o Ministério da Educação e secretarias de Educação.
Segundo Santos e Bueno (2014, p. 1), retirando
do professor a possibilidade de ele próprio organizar e determinar os seus meios de ensino, ou seja, o mestre perderia o controle sobre o processo de trabalho, devendo submeter-se rigorosamente a determinações de especialistas e a materiais de ensino elaborados por outros profissionais (Saviani, 1999, entre outros).
Para o autor, a Pedagogia Tecnicista pretendeu formatar o trabalho pedagógico nos moldes da lógica da produção, como em uma fábrica:
no pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, a Pedagogia Tecnicista advoga a reordenação do processo educativo de maneira que o torne objetivo e operacional. De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril, pretende-se a objetivação do trabalho pedagógico (p. 379).
Segundo Alves (2007), a Pedagogia Histórico-Crítica surgiu entre o final da década de 1970 e início dos anos 1980, mas foi Dermeval Saviani, entre 1979 e 1983, que organizou seus estudos com o objetivo de propor uma pedagogia de transformação social, dando real importância ao conhecimento metódico e sistematizado, cabendo ao professor possibilitar ao aluno a valorização do ensino.
Segundo Ghiraldelli Jr. (2001, p. 149), a proposta de Saviani, que inicialmente o próprio chamou de “Pedagogia Revolucionária” e, logo depois, de “Pedagogia Histórico-Crítica”, foi apresentada no livro Escola e Democracia em forma de cinco passos: “prática social”, “problematização”, “instrumentalização”, “catarse”, “prática social”. Na visão proposta por Saviani, esses passos conduzem a um ensino contínuo, ou seja, o professor está sempre criando instrumentos que transportem seus conteúdos à realidade de seus alunos, resultando numa aprendizagem reflexiva e consciente.
Enfatizando o pensamento, Nóvoa (2009) lembra que
o ensaio tem como pano de fundo a convicção de que estamos a assistir, neste início do século XXI, a um regresso dos professores ao centro das preocupações educativas. Os anos 1970 foram marcados pela racionalização do ensino, a pedagogia por objetivos, a planificação. Os anos 80, pelas reformas educativas e pela atenção às questões do currículo. Os anos 90, pela organização, administração e gestão dos estabelecimentos de ensino. Agora, parece ter voltado o tempo dos professores (p. 28).
Mas o que Nóvoa quer dizer ao se referir ao tempo dos professores? Na realidade, esse tempo vem de encontro ao desenvolvimento econômico atual, definindo-se assim, as novas necessidades do mercado de trabalho, surgindo então novos perfis de professores e projetos pedagógicos que se adéquem ao atual mercado capitalista e reflitam um processo de educação permanente na profissão docente. Assim, dentro do sistema econômico atual, a necessidade de professores com uma lista interminável de “competências” como flexibilidade, dinamismo e coletividade, são primordiais para um ensino inovador que torne os sujeitos aptos a responder às exigências da sociedade.
Formação contínua: seus desafios e necessidades
Os modelos clássicos de formação contínua para os professores vêm sendo construídos com base nas inovações pedagógicas da época. Na visão de Prada (1997, apud Costa, 2004), alguns termos empregados sobre a formação contínua de professores possuem dominação filosófica, ou seja,seguem linhas ideológicas dos formadores, países, instituições e até regiões envolvidos, que partem de princípios sobre como, por que e para que formar, e dessa maneira esses pressupostos filosóficos orientam o processo. Para melhor entendimento, Costa (2004) traz o quadro analítico do autor, apresentando diferentes expressões utilizadas sobre a formação continuada.
Quadro 1: Termos empregados para formação continuada de docentes
Capacitação | Proporcionar determinada capacidade a ser adquirida pelos professores, mediante um curso; concepção mecanicista que considera os docentes incapacitados. |
Qualificação | Não implica a ausência de capacidade, mas continua sendo mecanicista, pois visa melhorar apenas algumas qualidades já existentes. |
Aperfeiçoamento | Implica tornar os professores perfeitos. Está associado à maioria dos outros termos. |
Reciclagem | Termo próprio de processos industriis; usualmente referente à recuperação do lixo. |
Atualização | Ação similar à do jornalismo; informar os professores para manter a atualidade dos acontecimentos; recebe críticas semelhantes à educação bancária. |
Formação continuada | Alcançar níveis mais elevados na educação formal ou aprofundar como continuidade dos conhecimentos que os professores já possuem. |
Formação permanente | Realizada constantemente, visa à formação geral da pessoa, sem se preocupar apenas com os níveis da educação formal. |
Especialização | É a realização de um curso superior sobre um tema específico. |
Aprofundamento | Tornar mais profundos alguns dos conhecimentos que os professores já têm. |
Treinamento | Adquirir habilidades por repetição; utilizado para manipulação de máquinas em processos industriais. Os professores interagem com pessoas. |
Retreinamento | Voltar a treinar o que já havia sido treinado. |
Aprimoramento | Melhorar a qualidade do conhecimento dos professores. |
Superação | Subir a outros patamares ou níveis, por exemplo, de titulação universitária ou pós-graduação. |
Desenvolvimento profissional | Cursos de curta duração que procuram a “eficiência” do professor. |
Profissionalização | Tornar profissional. Conseguir, para quem não tem, um título ou diploma. |
Compensação | Suprir algo que falta. Atividades que pretendem subsidiar conhecimentos que faltaram na formação anterior. |
Fonte: Prada (1997, apud Costa, 2004, p. 66).
A ideia que se percebe está na ausência de compacidade, perfeição, qualidade, atualidade, aprofundamento, enfim algo que falta e que terá “posto algo no lugar”. Paulo Freire (1996) lembra que a formação deve ser contínua no sentido de permanente; profunda no sentido de aprofundar o que já se sabe; dialógica e dialética no sentido de rever o que se pensava e acreditava. A formação deve ser constante e processual, gradativa e construtiva, técnica e afetiva, humanizando as relações e os saberes.
No Quadro 1 é possível perceber também que, apesar de inúmeros termos empregados, o que prevalece é a compreensão de que, sem a formação contínua, o professor não conseguirá desempenhar seu papel como agente integrador de conhecimentos e valores perante a sociedade.
Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma como educador permanentemente, na prática e na reflexão da prática (FREIRE, 1991, p. 32). O professor é um profissional que tem por necessidade a busca de conhecimento contínuo, ou seja, um incessante trabalho de buscar conhecer novas práticas pedagógicas e novos métodos que enfatizem um ensino de qualidade, isto é o caráter de inacabamento da formação proposta por Freire.
O autor aponta ainda que o processo ocorre ao longo da vida, da atuação e da participação desse profissional e de sua atitude diante da ação educativa e da ação das pessoas envolvidas – educador e educando – no mundo. Nesse sentido, a proposta pedagógica deve promover novas posturas frente ao mundo e suas contradições, considerando a imprescindibilidade da formação contínua de professores. E, para ressaltar essa ideia, Nóvoa (2002) afirma que
é preciso dizer que, nesse processo de reconfiguração da profissão docente e de invenção de uma nova identidade profissional, a formação contínua ocupa um lugar decisivo. Os professores têm de abandonar uma atitude defensiva e ”tomar a palavra” na construção do futuro da escola e da sua profissão (p. 48).
Mas como na sociedade atual, guiada pela globalização e pelo neoliberalismo, pode-se fornecer ações educacionais que visem ao pleno desenvolvimento humano? O MEC ressalta esse desenvolvimento da seguinte forma:
a função da escola, da docência e da Pedagogia vem se ampliando, à medida que a sociedade e, sobretudo, os educandos mudam e o direito à educação se alarga, incluindo o direito ao conhecimento, às ciências, aos avanços tecnológicos e às novas tecnologias de informação. Mas também o direito à cultura, às artes, à diversidade de linguagens e formas de comunicação, aos sistemas simbólicos e ao sistema de valores que regem o convívio social, à formação como sujeitos éticos (MEC, 2007, p. 13).
Nesse sentido, apesar de a concepção estar pautada no individualismo e competitividade, típicos do sistema neoliberal, é imprescindível que se criem condições básicas, ou seja, uma infraestrutura adequada que corresponda às necessidades de um ensino digno e que os profissionais possam buscar um conhecimento pertinente em todas as suas dimensões, seja no pessoal quanto no profissional, de forma crítica e consciente de seu papel na transformação social. No entanto, o processo educacional tem passado por transformações que não estão conseguindo garantir um ensino de qualidade a todos, fazendo assim com que todos estejam em clima de insatisfação total.
Diante das perspectivas atuais, a Educação é considerada um produto; o professor é prestador de serviços educacionais. Mas as contradições humanas e as desigualdades sociais presentes na sociedade atual exigem desse profissional atribuições que não estão prescritas em sua formação, colocando-o diante da necessidade de desempenhar inúmeros papéis na vida do aluno, muitas vezes não mais desempenhados por seus pais.
Além disso, não podemos deixar de falar sobre os baixos salários e as péssimas condições de trabalho ainda existentes em muitas escolas encontradas em vários lugares do nosso país. Esses fatores acabam contribuindo para o desânimo de alguns professores.
Dentre outros fatores, resta ao professor trabalhar em vários turnos diários, com turmas cheias, necessitando dar conta de vários alunos com problemas sociais de todos os tipos, que possuem a família ausente, geralmente sem o apoio pedagógico que deveria ser dado pela escola, resultando assim, em um professor insatisfeito e inseguro. Mesmo assim, Freire afirma que,
em primeiro lugar, qualquer que seja a prática de que participemos, a de médico, a de engenheiro, a de torneiro, a de professor, não importa de quê, a de alfaiate, a de eletricista, ela exige de nós que a exerçamos com responsabilidade. Ser responsável no desenvolvimento de uma prática qualquer implica, de um lado, o cumprimento de deveres; de outro, o exercício de direitos (FREIRE, 2001, p. 44).
Isso significa dizer que o professor precisa enfatizar a importância do seu papel na sociedade e buscar sempre pelos direitos como cidadão. O direito de ser tratado com dignidade pela organização para a qual trabalha, de ser respeitado como ser humano; o direito a uma remuneração decente; o direito de ter, finalmente, reconhecidos e respeitados todos os direitos que são assegurados pela lei e pela convivência humana e social (FREIRE, 2001).
Além disso, segundo Freire (2002, p. 14) “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”. Ou seja, são as condições sociais, políticas e científicas, além das tecnológicas, que fazem com que o professor determine que tipo de capacitação seja necessária e condizente com sua realidade.
Buscar a formação contínua não significa buscar apenas formas diferentes de apresentar ao aluno um conteúdo específico, mas sim se fortalecer profissionalmente ao ter confiança em seu trabalho, buscar o conhecimento diário no relacionamento com os outros e, acima de tudo, organização. É importante destacar que o docente, antes de profissional, é um ser humano que está sempre em busca da realização pessoal. O professor é uma pessoa. E uma parte importante da pessoa é o professor, pois está presente em momentos cruciais na vida e no processo de “tornar-se pessoa” pelo qual todos nós passamos. E a figura do professor é determinante (NIAS, 1991, apud Nóvoa, 2002, p. 57).
Para reafirmar esse pensamento, Nóvoa (2002, p. 38-9) diz que “estar em formação implica um investimento pessoal, um trabalho leve e criativo sobre os percursos e os projetos próprios, com vista à construção de uma identidade, que é também uma identidade profissional”. Freire (2001, p. 43) enfatiza: “por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática”.
Finalmente, o processo de formação de um professor não se dá apenas em assistir a palestras e cursos durante a sua vida profissional, mas em buscar a satisfação pessoal e profissional ao consolidar sua profissão na produção de seus saberes e valores teóricos e práticos. É o que completa Freire (2002, p. 19): “Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar”.
Qual o papel do professor do século XXI?
Jacques Delors (2010) inicia o Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, no livro Educação: um tesouro a descobrir, com a seguinte dúvida: “A educação ou a utopia necessária”. Relaciona os múltiplos desafios suscitados pelo futuro e aponta a educação como “um trunfo indispensável para que a humanidade tenha a possibilidade de progredir na consolidação dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social” (p. 5). E, diante disso, recomenda
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uma formação de professores, com seu pleno acesso à educação permanente, com a revalorização do estatuto dos professores responsáveis pela Educação Básica e com um maior envolvimento dos professores nos meios sociais menos favorecidos e marginalizados; nesses ambientes é que, precisamente, eles podem contribuir para uma inserção mais bem-sucedida dos jovens e adolescentes na sociedade (p. 21).
Nesse sentido, a profissão docente exige mudanças, atualização, adaptação e aperfeiçoamento. O conceito de educação ao longo da vida aparece, portanto, como uma das chaves de acesso ao século XXI (DELORS, 2010); é por meio do professor e do seu papel perante a sociedade atual que será capaz de tal mudança.
Em qual tipo de conhecimento se baseia a Educação nos tempos de hoje?
De acordo com Delors (2010), a Educação baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Essa perspectiva orienta para uma educação trabalhada como um todo, e não mais fragmentada. Desdobrando essas premissas, no Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN – nº 9.394/96), também chamada de Lei Darcy Ribeiro, traz como finalidade da formação dos profissionais da Educação “atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase de desenvolvimento do educando” (BRASIL, 1996, Art. 61). Assim, surgem meios para atingir as metas da Educação Básica com profissionais da Educação capacitados para exercer sua função. Mas o que seria um professor capacitado?
Perrenoud (2000, p. 14) cita dez grandes áreas de competência:
- Organizar e animar situações de aprendizagem;
- Gerir a progressão da aprendizagem;
- Conceber e fazer evoluir dispositivos de diferenciação;
- Envolver os alunos em sua aprendizagem e seu trabalho;
- Trabalhar em equipe;
- Participar da gestão da escola;
- Informar e envolver os pais;
- Servir-se das novas tecnologias;
- Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
- Gerir sua própria formação contínua.
Segundo Nóvoa (2009, p. 28),
sabemos todos que é impossível definir o “bom professor”, a não ser através dessas listas intermináveis de “competências”, cuja simples enumeração se torna insuportável. Mas é possível, talvez, esboçar alguns apontamentos simples, sugerindo disposições que caracterizam o trabalho docente nas sociedades contemporâneas.
Nóvoa apresenta as disposições que caracterizam o trabalho docente como uma característica construída na definição pública com forte sentido cultural “numa profissionalidade docente que não pode deixar de se construir no interior de uma pessoalidade do professor”. Estas seriam as disposições:
- o conhecimento: “O trabalho do professor consiste na construção de práticas docentes que conduzam os alunos à aprendizagem”;
- a cultura profissional: “compreender o sentido da escola, (...) integrar-se nessa profissão, aprender como os colegas experientes, é no diálogo e na escola que se aprende a ser professor.”;
- o tato pedagógico: “serenidade de quem é capaz de se dar ao respeito, conquistando os alunos para o trabalho escolar”;
- o trabalho em equipe: “o exercício profissional organiza-se, cada vez mais, em torno de ‘comunidades de prática’”;
- o compromisso social: atuar no sentido “dos princípios, dos valores, da inclusão social, da diversidade cultural” (p. 29).
É indiscutível que o professor do século XXI precisa ser reflexivo, crítico, ter domínio de conteúdos, ter espírito de coletividade, utilizar novas tecnologias, além de buscar a sua formação continuada. É assim que o professor, além de reforçar seus conhecimentos nos conteúdos desenvolvidos, se manterá em constante progresso diante das inovações e exigências nos novos tempos.
E o que o professor comprometido com seu trabalho precisa fazer?
Freire (1996, p. 96) afirma que
o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é, assim, um desafio, e não uma “cantiga de ninar”. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.
Conclui-se então que, ao buscar uma formação permanente, o professor, além de um investimento profissional, fará com que o aluno também seja valorizado junto com o espaço escolar do qual faz parte. Ao professor cabe o papel de articulador de uma incessante busca da ação-reflexão-ação em uma prática pedagógica global e reflexiva.
No atual contexto educacional, novos desafios serão postos para o profissional docente, como explicita Nóvoa (1991, p. 29):
grande parte do potencial cultural (e mesmo técnico e científico) das sociedades contemporâneas está concentrado nas escolas. Não podemos continuar a desprezá-lo e a menorizar as capacidades de desenvolvimento dos professores. O projeto de uma autonomia profissional exigente e responsável pode recriar a profissão professor e preparar um novo ciclo na história das escolas e dos seus autores.
Isso significa dizer que o papel do professor do século XXI é buscar defender sempre a sua formação contínua, que lhe trará um desenvolvimento em que a reflexão-prática-reflexão esteja presente em suas atitudes diante da vida; para que se construa uma ação pedagógica mais consciente e transformadora, contribuindo para a formação da cidadania – sua e daqueles que estão sob sua responsabilidade profissional –, dando um novo sentido à escola. Esse será o papel mais importante do professor do século XXI: aprender.
Considerações
O posicionamento dos autores analisados permitiu que o presente texto sinalizasse a importância da Formação Contínua como forma de enriquecimento pessoal e profissional do docente.
Com os aspectos históricos, pode-se perceber a evolução do papel do professor no contexto social e econômico do nosso país. A globalização, o capitalismo e o excesso de informação fizeram com que o professor buscasse novas formas de se adequar a essa nova sociedade.
A Formação Contínua deve ser permanente e construtiva, humanizando as relações e os saberes; sem ela, o professor não conseguirá desempenhar seu papel como agente integrador de conhecimentos e valores perante a sociedade.
Mesmo com as contradições humanas e as desigualdades sociais presentes na sociedade, além das dificuldades existentes nas questões financeiras e de trabalho, o professor buscará seus direitos como cidadão e como profissional enfatizando o seu papel diante da sociedade. Desse modo, a prática a ser desenvolvida pode ser caracterizada como função social, sendo o professor o principal agente do processo educacional. Nesse sentido, a profissão docente exige mudanças, atualização, adaptação e aperfeiçoamento. O profissional docente engloba, então, comportamento, conhecimentos, atitudes e valores do educador que são próprios da profissão.
A necessidade da busca por conhecimento contínuo faz com que o professor necessite buscar instrumentos para compreender o mundo em que vivem ele e seus alunos, para, a partir daí, produzir conhecimento. Essa compreensão, pelas condições sociais, políticas e científicas, além de tecnológicas, faz com que o professor determine que tipo de capacitação é necessária e condizente com sua realidade. Compreender e acompanhar essas condições provocadas pela tecnologia e pela informação é tarefa do profissional docente, por ser formador de opinião.
De acordo com o MEC, o progresso da sociedade e, com isso, o desenvolvimento acelerado dos educandos são fatores que levam o profissional docente à busca de uma prática pedagógica crítica e consciente da necessidade de mudanças na sociedade brasileira.
Levando em consideração os quatro pilares em que se baseia a educação (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser), ela aparece nos dias de hoje como uma das portas de entrada do século XXI; de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o comprometimento do professor tornou-se meta imprescindível para um ensino de qualidade. Mas, apesar de ser impossível definir que qualidades fazem um professor comprometido, sabemos que um fator é de suma importância em nossa sociedade: buscar a sua formação contínua, ou seja, estar em processo contínuo de aprendizagem.
Esse será o papel mais importante do professor do século XXI: aprender. Esse professor dominará conteúdos, utilizará metodologias eficazes, investindo continuamente na sua profissão para que possa exigir respeito e melhores condições financeiras e de trabalho. O aprender é essencial na vida do profissional docente, pois resultará na satisfação tanto pessoal quanto profissional.
Em virtude dos aspectos mencionados, a Formação Contínua é o caminho que o professor do século XXI deverá percorrer progressivamente a fim de desenvolver um ensino globalizado, cujo objetivo seja potencializar a reflexão e a elaboração da prática em prol da coletividade.
Ser professor no século XXI é buscar defender a sua formação contínua, construindo uma ação pedagógica mais consciente e transformadora, contribuindo para a formação da cidadania – sua e daqueles que estão sob sua responsabilidade profissional. É uma postura que favorece o desenvolvimento e o crescimento pessoal e profissional, aperfeiçoando sua prática educativa.
De acordo com estudos realizados por autores como António Nóvoa e Paulo Freire, podemos afirmar que a Formação Contínua dá ao profissional docente subsídios para um ensino crítico, reflexivo, coerente e consciente, numa realidade condizente com seu aluno, além de maturidade que o fará construir sua identidade pessoal e profissional dentro de uma sociedade inovada que necessita de cidadãos que cumpram seu papel de agente social. Enfim, pode-se afirmar que a Educação do século XXI deverá ser uma educação permanente, feita ao longo da vida, com o objetivo de promover uma educação ampla que envolva os dois sentidos: pessoal e profissional.
Referências
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Publicado em 12 de agosto de 2014
Publicado em 12 de agosto de 2014
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