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Gênios: sonhos e tormentos de uma mente brilhante!

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

Mestrando (Prodema/UFPB); biólogo; educador e diretor de Educação Ambiental (Semapa/Cabedelo)

O presente texto é uma resenha crítica do filme Uma mente brilhante, que será discutido considerando as profundas reflexões do contexto temporal e dos fatos que se passam no enredo da história baseada em fatos reais.

A leitura atenta e crítica de qualquer recurso audiovisual (livros, vídeos, sinais, avisos, etc.) permite ampliar nossa capacidade de percepção do mundo, de novos conhecimentos e nos coloca em processo de reflexão e desenvolvimento psíquico, cognitivo, afetivo, espiritual e social (CÓRDULA, 2011). Ou seja, quanto mais estímulos sensoriais estiverem envolvidos, maior o processo de aprendizagem.

O enredo

Surpreendente é o melhor adjetivo encontrado para descrever o que começou timidamente como uma pequena cinematografia hollywoodiana, que trata dos sonhos e desejos de uma mente matemática brilhante, que desde a faculdade buscava uma tese original e, ao conseguir, se destaca como um brilhante profissional, que logo ganha destaque, reputação e espaço no universo científico. Porém recluso, ortodoxo, antissocial, a vida girava entorno única e exclusivamente de seu trabalho. Apesar de sua incrível genialidade e do domínio e habilidades dos números (Matemática), identificação de padrões, elaboração de teoria dos jogos, Geometria Diferencial e equações diferenciais parciais, sua convivência social nunca foi fácil, o que se manifestou mais tarde como um grave distúrbio.

No decorrer do filme, o telespectador percebe que o que está vendo não é mera ficção; trata-se de uma biografia baseada na vida do professor John Forbes Nash (1928), matemático sênior de investigação na Universidade de Princeton, Nova Jérsei, EUA.
Apesar de o referido professor agir fora dos "padrões" e da "normalidade" – entre aspas, para indicar pontos de indagação e reflexão: o que é um padrão e o que é normalidade? Quem dita estes conceitos? –, consegue se relacionar afetivamente com uma jovem estudante da academia, com a qual se casa e mantém uma união por toda a vida, mesmo após crises pessoais, divórcio e retomada do casamento. Durante esse período, passa a manifestar perturbação psicossocial até então não aceita por ele mesmo.

O diagnóstico da doença – esquizofrenia – veio em 1958, após uma crise profunda que o levou à internação em um hospital psiquiátrico. Nessa época, as técnicas rudimentares e agressivas da Psiquiatria o levaram à tratamentos dolorosos e à utilização de medicação controlada, incluindo o afastamento do convívio social. As medicações diminuíam sua capacidade cognitiva, dificultando a racionalização sobre equações matemáticas, infringindo dificuldades para retomada de sua vida profissional. Mas foi graças ao amor de sua esposa que ele conseguiu abandonar a medicação, aprendeu a lidar com a doença e retornou ao convívio social e àquilo que tanto estima, seu trabalho com a Matemática.

Uma vida baseada em ciência, equações, teoremas, hipóteses, racionalidade, estudos, comprovações dedutivas e lógicas não impediu a manifestação de uma grave doença psíquica, que iludia sua própria mente.

A esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença psíquica que tem como principal característica a perda do contato com a realidade. "A pessoa pode ficar fechada em si mesma, com o olhar perdido, indiferente a tudo que se passa ao redor ou, nos exemplos mais clássicos, ter alucinações e delírios" (VARELLA, 2014, p. 1).

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Figura 1: Porcentagem de pacientes de esquizofrenia que apresentam quadro de alucinações e/ou delírios
Fonte: Pull (2005, apud SILVA, 2006).

Segundo Silva (2006, p.265), os principais sintomas incluem "perda de energia, iniciativa e interesses, humor depressivo, isolamento, comportamento inadequado, negligência com a aparência pessoal e higiene; podem surgir e permanecer por algumas semanas ou até meses". O tratamento é farmacológico e psicoterapêutico.

A realidade surpreende

O vídeo, apesar do exagero na dramatização para chamar a atenção de quem assiste a ele, mostra várias vertentes de preconceitos sociais ao retratar o repúdio dos demais acadêmicos pela forma como John Forbes Nash pensa e abstrai a realidade, sua genialidade e, ao mesmo tempo, a superação frente a graves problemas psicológicos causados pela esquizofrenia, nas relações interpessoais e no amor. Este último – o amor – não é visto pela ciência como impulsionador do saber; porém, como combustível da essência humana, pode promover grandes mudanças individuais, coletivas e estímulo à continuidade de projetos de vida. É marcadamente mostrado no enredo do filme.

A película leva o telespectador a indagações pessoais e profissionais sobre nossa conduta na sociedade, nosso legado como seres humanos, o que representamos para todos que nos rodeiam e o que essas pessoas representam para nós, além de levar a regionalizar questões sobre a fragilidade da mente humana e até que ponto um indivíduo é considerado produtivo ou não para a sociedade.

Considerações finais

Em 1994, o professor Nash compartilhou com dois pesquisadores o Prêmio Nobel de Economia, merecido reconhecimento sobre a incrível mente brilhante desse gênio.
O filme é indicado por tratar de questões de ética, moral, costumes, sociedade, relações interpessoais, família, ciência, razão e afetividade, podendo ser recurso e objeto didático-pedagógico para aulas de Ciências, Sociologia, Filosofia, Matemática e Português, pelo seu caráter interdisciplinar. Pode ser utilizado em todos os níveis de ensino como motivador de debates e discussões profundas para formação pessoal e profissional dos educandos.

Referências

CÓRDULA, E. B. L. Leitura e identidade: um processo de construção do ser humano. Educação Pública, Rio de Janeiro, n. 29, 26 jul. 2011. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/portugues/0042.html. Acesso em 27 jul. 2011.

SILVA, R. C. B. Esquizofrenia: uma revisão. Psicologia USP, São Paulo, v. 17, n. 4, p. 236-285, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pusp/v17n4/v17n4a14.pdf. Acesso em: 21 mar. 2014.

VARELLA, Drauzio. Esquizofrenia. Disponível em: http://drauziovarella.com.br/letras/e/esquizofrenia/. Acesso em: 21 mar. 2014.

Filmografia

Uma mente brilhante (A beautiful mind). Direção: Ron Howard. EUA, Universal Pictures, 2001. 135min.

Publicado em 19 de agosto de 2014

Publicado em 19 de agosto de 2014

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