Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.
"Esclevendo" números espelhados
Mariana Cruz
Síndrome de Cebolinha
Lembro-me de quando minha filha tinha dois anos e estávamos com uma amiga que tem dois filhos. Ela é uma dessas supermães que sabem tudo sobre crianças, conhecem cada etapa do crescimento melhor do que qualquer pediatra, os nomes das vacinas, as fases cognitivas etc. Eis que ela escutou minha filha falar "Cinderela" e achou inusitado o fato dela não trocar o "r" pelo "l", uma vez que é comum nessa fase às crianças se referirem à princesinha do sapato de cristal como "Cindelela". Fui pesquisar e vi que, de fato, diversos fonoaudiólogos dizem ser normal a troca desses fonemas – conhecida como transtorno fonológico – até quatro anos, pois o fonema "r" é normalmente um dos últimos a ser adquirido pelos pequenos.
Como se sabe, cada língua possui fonemas com graus distintos de dificuldade, e é esperado que a criança, à medida que vai crescendo, consiga reproduzir os sons considerados mais complexos de seu idioma. Não conseguir adquirir tal habilidade até determinada idade – principalmente no início da alfabetização – pode ser prejudicial não só por poder causar dificuldade de entendimento sobre o que ela está falando como também por poder atrapalhar a escrita. Se a criança chega aos sete anos trocando os fonemas, é possível que reproduza os erros na hora de escrever.
Em seu texto Meu filho fala "elado", a fonoaudióloga infantil Elisabete Giusti traz uma tabela na qual mostra as trocas de fonemas mais comuns em cada idade: trocar o Ca por Ta e vice-versa – caiu por “taiu”, gato por "dato" (até três anos); trocar o Ta por Ga – tatu por “gagu” (até três anos e meio); trocar o r por l: morango por “molango” (entre três anos e meio/4 anos); trocar o cha pelo sa: “suva” para chuva (até quatro anos e meio); e omissão de encontros consonantais como na palavra blusa que alguns falam “busa”; prato como “pato” (até seis anos e meio/7anos).
Espelho, espelho meu
Mas não são só erros ortográficos provenientes do transtorno fonológico que preocupam os pais. A forma como escrevem os números também. Muitas crianças chegam aos 6, 7 anos fazendo os algarismos espelhados. O que fazer para mudar isso? Colocá-los para escrever diversas vezes os algarismos da forma correta? Não ligar para tais erros.
De acordo com os especialistas, a criança consolida a noção de esquerda e direita a partir dos sete anos; assim, os pais não precisam se desesperar se até essa idade ainda ocorrer espelhamento. Considerar o espelhamento um erro, nessa fase, não é correto. De qualquer forma, há que se incentivar as crianças a escrever da maneira certa; para tanto, pode-se propor atividades que valorizem a lateralidade, mostrar algarismos escritos de forma correta e deixar a criança perceber qual está diferente do que escreveu. Pela comparação visual ela irá aprender. De acordo com pesquisas realizadas por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, deve-se deixar as crianças fazerem suas tentativas até entender onde está o erro. Se a criança persistir com tal escrita até os 9 anos, aí pode ser o caso de procurar um especialista para ver se se trata de uma caso de disgrafia ou não.
Assim, pais, não se desesperem diante de uma palavra pronunciada incorretamente ou de um número escrito espelhado. As crianças estão descobrindo o complexo mundo dos fonemas e algarismos. E cada um tem o seu tempo...
Publicado em 16 de setembro de 2014
Publicado em 16 de setembro de 2014
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.