Centro de Referência Virtual: compartilhando experiências de sucesso na formação continuada de professores
Elizabeth Soares Bastos
Doutora em Gestão e Inovação pela COPPE/UFRJ; Fundação CECIERJ / Diretoria de Extensão
Maria Cristina Pfeiffer Fernandes
Doutora em Ciências pela COPPE/UFRJ; Fundação CECIERJ / Diretoria de Extensão
A Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância (Fundação Cecierj) e a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc/RJ) do Rio de Janeiro oferecem, desde 2011, formação continuada de professores do Ensino Fundamental e Médio, já tendo capacitado 15 mil professores até junho de 2014.
Mediante cursos de aperfeiçoamento atrelados a uma especialização nas disciplinas Matemática, Língua Portuguesa, História, Biologia e Ciências, os professores da rede estadual são capacitados para usar em sala de aula o Currículo Mínimo e dinâmicas do Reforço Escolar em Língua Portuguesa e Matemática. Visando disponibilizar o Material do Professor, as dinâmicas do Reforço Escolar e planos de trabalho elaborados pelos cursistas, foi criado o repositório Centro de Referência Virtual (CRV), integrado ao Portal Teca (teca.cecierj.edu.br).
Experiências de sucesso desses professores, metodologias inovadoras e outros temas relacionados à Educação Básica são divulgados na nova versão eletrônica da revista Educação Pública (educacaopublica.cederj.edu.br), também integrada ao CRV.
O professor é "alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, além de possuir certos conhecimentos relativos às ciências da Educação e à Pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experiência cotidiana com os alunos" (TARDIF, 2002, p. 39-40). O autor ressalta, ainda, que tanto em suas bases teóricas quanto em suas consequências práticas os conhecimentos profissionais são evolutivos e progressivos e necessitam, por conseguinte, de formação permanente.
Os profissionais devem, assim, buscar aperfeiçoamento constante em sua formação a partir de diferentes meios após seus estudos universitários iniciais. Isso justifica a importância atribuída à formação continuada dos professores pelas características da sociedade pós-moderna, que colocam novas exigências ao saber, ao saber-fazer e, sobretudo, ao saber como fazer profissionais (TARDIF, 2002).
Ao mesmo tempo, o uso de recursos educacionais abertos (ou simplesmente REAs) é definido como "estratégias para aumentar o acesso a materiais educacionais eletrônicos" (ROLL, 2005, apud SANTOS, 2006, p. 43), por meio do uso das tecnologias (internet, wikis, ambientes virtuais de aprendizagem - AVAs), tendo como principal objetivo permitir aos indivíduos utilizar conteúdo da web para aprender. Por meio dos REAs é possível disponibilizar gratuitamente conteúdos educacionais em websites para uso didático, podendo incluir texto, som e imagem e possibilitando seu reúso em diversos contextos educacionais (SANTOS, 2006, p. 36).
O Programa de Formação Continuada de Professores para o Currículo Mínimo Regular tem carga horária de 160 horas de aperfeiçoamento; além dessas, são oferecidas disciplinas completando outras 200 horas para caracterizar um curso de especialização com duração de 11 meses. Esse programa busca preencher lacunas do conhecimento dos docentes e sua capacitação para a aplicação do Currículo Mínimo em sala de aula, especialmente com a elaboração de planos de trabalho que promovam cada vez mais a capacidade do professor de ser autor de seu próprio material.
Nessa parceria com a Seeduc também foram desenvolvidos dois outros projetos: Reforço Escolar e NovaEJA. Para o primeiro foram desenvolvidos materiais utilizados pelos professores e alunos em Língua Portuguesa e Matemática, visando priorizar ações qualitativas na educação tendo como foco as necessidades de Letramento em Leitura e Escrita e Letramento Matemático para os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e 1a, 2a e 3a séries do Ensino Médio Regular. Já o Projeto NovaEJA consiste numa nova política de Educação de Jovens e Adultos do Estado do Rio de Janeiro, com metodologia e currículo específicos, material didático próprio, recursos multimídia, aulas dinâmicas e metodologia para serem trabalhados com alunos com defasagem idade/série.
Para intensificar ações que contribuam para uma formação permanente de professores da Educação Básica no Estado do Rio de Janeiro, a Diretoria de Extensão da Fundação Cecierj elaborou o projeto Centro de Referência Virtual (CRV): compartilhando experiências de sucesso na formação continuada de professores, em atendimento ao Edital nº 19/13 da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), intitulado Programa de Apoio à Instituição Estadual de Educação Superior a Distância e Divulgação Científica – Cecierj/Cederj – 2013.
É um projeto de educação e divulgação, no âmbito do Ensino Fundamental e Ensino Médio, destinado aos professores das escolas da rede pública do Estado do Rio de Janeiro, englobando duas frentes de trabalho:
1) criação de um sítio ou espaço de compartilhamento de objetos educacionais, o Centro de Referência Virtual (CRV);
2) criação de um espaço de divulgação de trabalhos voltados à Educação Básica, com a implementação de uma nova versão da revista Educação Pública (educacaopublica.cederj.edu.br) da Fundação Cecierj.
Os dois sítios estão integrados ao Portal Teca (http://teca.cecierj.edu.br), um repositório de objetos educacionais da Fundação Cecierj.
O objetivo da primeira frente de trabalho do projeto é a consolidação de um repositório virtual, o sítio Centro de Referência Virtual, onde são disponibilizados objetos educacionais associados aos planos de trabalho dos professores cursistas que participam do Programa de Formação Continuada e aperfeiçoamento on-line oferecidos aos professores da rede estadual de ensino. Todo o material da Formação Continuada foi elaborado para os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio Regular. No CRV encontram-se também cadastrados: material do professor e dinâmicas de reforço escolar Língua Portuguesa e Matemática, além do material do professor do projeto NovaEJA. Vale ressaltar que o CRV está integrado ao Portal Teca e à nova versão da revista Educação Pública.
O objetivo da segunda frente de trabalho do projeto é a revitalização da revista Educação Pública (REP) como espaço de discussão, compartilhamento e troca de informações entre professores da Educação Básica, integrada ao CRV e ao Portal Teca. O diferencial da nova versão da revista é a divulgação de planos de trabalho que acompanhem a temporalidade do Currículo Mínimo, explorando os temas que serão abordados pelos professores em sala de aula durante o período de cada edição.
Também serão divulgados relatos de sucesso dos professores da rede estadual no que diz respeito à aplicação do Currículo Mínimo em sala de aula. Para isso haverá um espaço denominado Sua Voz, que incluirá também ideias para a sala de aula, em que serão incluídas propostas metodológicas inovadoras, assuntos ligados à gestão escolar, e a volta do fórum Discutindo, que permitirá a troca de ideias sobre temas ligados à Educação Básica, de forma assíncrona, e a criação da Enquete, um formulário para realização de pesquisas com os professores.
As Figuras 1 e 2 mostram as interfaces do CRV (teca.cecierj.edu.br/) e da nova versão da revista Educação Pública (educacaopublica.cederj.edu.br).
Figura 1: Sítio TECA/CRV(teca.cecierj.edu.br/).
Figura 2: Revista Educação Pública (educacaopublica.cederj.edu.br).
Até agosto de 2014, já foram cadastrados cerca de 2.500 documentos no CRV, sendo mais de mil roteiros de atividades (planos de trabalho) elaborados pelos professores cursistas do Programa de Formação Continuada na disciplina Língua Portuguesa. Também estão disponíveis para consulta links para objetos de aprendizagem (vídeos, imagens etc.) e 171 dinâmicas de reforço escolar também para Língua Portuguesa. Para Matemática, já estão cadastrados 813 planos de trabalho e 243 dinâmicas de reforço escolar.
Como impacto gerado pelo projeto, acreditamos que o acesso ao sítio CRV auxiliará na aplicação do Currículo Mínimo em sala de aula pelos professores da rede estadual de ensino. Eles poderão consultar e/ou utilizar o material disponibilizado no CRV em seus planejamentos, como referência para o desenvolvimento de habilidades, os descritores que compõem o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), o Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro (SAERJ) e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Por outro lado, a partir da implementação da nova versão da revista Educação Pública será possível o desenvolvimento de uma nova postura na prática do magistério, com a valorização das experiências bem-sucedidas dos professores da rede estadual de ensino, no que diz respeito principalmente ao uso do Currículo Mínimo em sala de aula.
Já ganham visibilidade os resultados do Programa de Formação Continuada, conforme descrito a seguir. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é um indicador educacional brasileiro que relaciona informações de rendimento escolar (aprovação) e desempenho (proficiências) em exames padronizados, como a Prova Brasil e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Uma das principais referências para políticas educacionais na Educação Básica, o Ideb é divulgado a cada dois anos. Esse indicador mede a qualidade do aprendizado e da infraestrutura das cerca de 190 mil unidades escolares de Ensino Fundamental e Médio em todo o Brasil (O GLOBO, 2014).
O mau desempenho no Ideb em 2009 colocou o Estado do Rio de Janeiro na penúltima posição entre os estados brasileiros, ficando à frente apenas do Piauí. O Ensino Médio apresentava a situação mais grave, pois o índice geral fluminense, de 3,3, caiu para 2,8 na rede pública estadual. Já em 2011, quando se iniciou a parceria entre a Seeduc/RJ e a Fundação Cecierj, por meio do Programa de Formação Continuada de Professores descrita neste artigo, o Ensino Médio do Estado do Rio de Janeiro subiu oito posições no ranking nacional. No Ideb divulgado em 2012, a rede estadual do Rio havia subido 11 posições, saindo da 26ª para a 15ª colocação no Ensino Médio, sendo o estado que avançou o maior número de posições, ao lado do estado de Goiás (SEEDUC, 2014).
De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) em setembro de 2013, o Rio de Janeiro saltou da 15ª posição (com 3,2) para a quarta (com 3,6), empatando com Santa Catarina, Minas Gerais e Pernambuco (O GLOBO, 2014). Com essa nota, as escolas estaduais do Rio superaram a meta estabelecida pelo MEC para 2013, que era de 3,3. Na região Sudeste, esta foi a segunda melhor nota, ficando atrás apenas de São Paulo. No Brasil, foi o segundo maior crescimento na nota (12,5%), ficando atrás somente de Pernambuco (16,1%).
Outro índice importante que mede o desempenho da Educação Básica é o Índice de Desenvolvimento Estadual (IDE), que avalia a qualidade do aprendizado nos estados brasileiros. Os indicadores adotados para avaliar esse quesito foram: o desempenho dos alunos das séries iniciais do Ensino Médio na Prova Brasil (Português e Matemática); e o grau de distorção idade-série. De acordo com pesquisa realizada pelo jornal Zero Hora (2014) e pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) que compara o desempenho do Estado do Rio Grande do Sul com os demais estados brasileiros, o Estado do Rio de Janeiro foi um dos que mais avançaram em educação entre os anos de 2005 e 2012, de acordo com o resultado do Índice de Desenvolvimento Estadual – RS (iRS). A pesquisa, que também considerou outras duas dimensões (padrão de vida e longevidade), revelou que o Rio de Janeiro passou do 16º para o 6º lugar. Nesse período, houve melhora de 29,38% na educação (de 0,473 para 0,612).
Em relação à taxa de distorção idade-série referente ao Ensino Médio, de 2007 a 2013 o estado obteve uma redução superior à média brasileira (21,4% contra 13,6%), apresentando a sexta maior queda. Esse resultado foi alcançado graças a um conjunto de ações estratégicas, como a adoção de um Currículo Mínimo para todas as escolas, implantação de avaliações bimestrais, oferta de reforço escolar para alunos com dificuldade de aprendizagem, formação continuada para professores de Língua Portuguesa e Matemática em escolas com baixo desempenho, além da introdução de metodologia de aceleração de estudos para os alunos com essa distorção.
Em 2015 está prevista a realização de 20 oficinas em diferentes regiões do Estado do Rio de Janeiro para a capacitação de professores da rede estadual de ensino no uso de tecnologias como recursos pedagógicos, principalmente os utilizados nos planos de trabalho publicados no CRV. Também está prevista a realização de 20 encontros em diferentes regiões do estado para a difusão de experiências de sucesso dos professores da rede estadual e divulgação da nova versão da revista Educação Pública, da Fundação Cecierj.
Durante a avaliação dos eventos e oficinas previstos para o segundo semestre de 2015 com os professores da rede estadual de ensino, pretende-se medir com relatórios de acompanhamento os resultados do uso do sítio CRV, das consultas realizadas pelos professores à nova versão eletrônica da revista Educação Pública e a forma como esses recursos estão contribuindo para a inovação tecnológica e metodológica do ambiente escolar da rede pública de ensino.
Pretende-se alcançar, até meados de 2015, o cadastramento no CRV de 5.000 documentos, dentre planos de trabalho, orientações pedagógicas, roteiros de atividades (versões do professor conteudista e do professor cursista) e 300 links para objetos de aprendizagem das diversas disciplinas do Currículo Mínimo.
Referências
SANTOS, A. I. Perspectivas internacionais em ensino e aprendizagem on-line. Santos: Libra Três, 2006.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
______. Saberes docentes e formação profissional e conhecimentos universitários: elementos para uma epistemologia da prática profissional dos professores e suas consequências em relação à formação para o magistério. Revista Brasileira de Educação, nº 13, 2000.
______; GAUTHIER, C. O professor como "ator racional": que racionalidade, que saber, que julgamento? In: PERRENOUD, P. et al. Formando professores profissionais: quais estratégias? Quais competências? Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 185-210.
NOTAS DO IDEB 2013 no Ensino Médio caem em 16 redes estaduais e Rio sobe para quarto lugar. 2014. Disponível em http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/notas-do-ideb-2013-no-ensino-medio-caem-em-16-redes-estaduais-rio-sobe-para-quarto-lugar-13840795#ixzz3cqirnkkv. Acesso em 09 set. 2014.
PESQUISA REVELA que o Estado do Rio foi um dos que mais avançaram em Educação. 2014. Disponível em http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=2126819. Acesso em 24 jun. 2014.
PUCRS e Zero Hora lançam Índice de Desenvolvimento Estadual. 2014. Disponível em http://www.pucrs.br/portal/?p=noticias&n=1401219051.html. Acesso em 24 jun. 2014.
Publicado em 07 de outubro de 2014
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