Final de ano
Nayana M. Moraes
Chega final de ano e é assim: a reflexão bate mais forte à porta. Não que esta nuance não exista na minha alma tantas vezes abalada pelo dito e não dito, mas que em dezembro se faz mais frágil. Pensando e repensando sobre a vida, descubro que sou sempre um ponto procurando o próximo parágrafo. Num ciclo sem fim.
Observando o mundo e a extensão dos sentimentos, me revelo insegura. Embora tenha total convicção das minhas qualidades, parece que sempre preciso de uma “voz” que me carregue em direção à frequência do otimismo. Tem uma frase de Clarice Lispector que sempre me assola: “Tenho uma aparente liberdade, mas estou presa dentro de mim”. Viver é um beco sem saída. Ou se encara de frente e aceita suas fraquezas, ou estará sempre condenado à depressão. Mas, às vezes, por mais que se acredite no “mundo encantado”, é sua própria alma que se torna seu pior inimigo.
Essa cobrança existencial de fugir de si mesmo e seguir em frente, resiliente às pessoas, é a prática mais difícil da vida. Por isso que a maioria dos psicólogos destaca estes meandros na nossa psique. Mas não adianta; sorrir com um simples elogio é uma das coisas mais valiosas; é o que faz com que seu dia tenha sido bom, apesar do cansaço. Ouvir um “estou com saudades” ou “é bom conversar com você” te deixa mais cheio de si, massageia o seu ego. É ser importante, embora finde a convivência. É descobrir-se importante quando seu coração está lá no fosso.
Mas o coração não se cansa, ele tem cada vez mais sede de palavras e sentidos. O que foi há cinco meses não tem validade agora. O coração precisa de mais sangue para alimentar as mordidas da existência. Quantas vezes me achei tão fraca e incapaz que desisti do que queria, por uma simples palavra mal formulada. Larguei o balé, quando criança, porque a professora me fez uma crítica. Pedi, chorando, que meus pais me tirassem das aulas. E algumas vezes, continuei desistindo. Mas é naquele ditado chulo “é quebrando a cara que se aprende” que eu cresci. Amadurecimento seria a palavra mais precisa.
Hoje, ainda bem, não desisto tão fácil. Embora manca, continuo a caminhada. Permaneço presa no abismo da psique, mas tento fazer desta meu diferencial. O que era fraqueza, hoje é Cult. As características e defeitos que antes escondia, agora é liberdade. O que pensava ser inferior aos demais, como minha personalidade calada e introspectiva, hoje é o que me torna especial. É respeitar-se acima de tudo e saber que a alma se faz latente; infeccionada, mas cheia de anticorpos. Nessa levada ganho fôlego e as borboletas aparecem da janela. E já vem 2015, cheio de sangue pra me fazer pulsar.
Publicado em 16 de dezembro de 2014
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