Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.
Mujica na ONU: “Nada vale mais que a vida”
Pepe Mujica
Presidente do Uruguai
Estamos vivos por milagre e nada vale mais que a vida. E o nosso dever biológico é, acima de todas as coisas respeitar a vida e estimula-la, cuida-la, procriar e entender que a espécie somos nós.
Em 2013, José Alberto Mujica Cordano, conhecido popularmente como Pepe Mujica, presidente do Uruguai, fez um discurso na ONU que leva a pensar muito. Aqui está.
Amigos, sou do sul, venho do sul. Esquina do Atlântico com o Prata, meu país é uma planície suave, serena, uma história de portos, couros, trabalho, lãs e carnes. Teve décadas sangrentas, de lanças e cavalos, até que, ao começar o século XX, começou a ser vanguarda no social, no Estado, no ensino. Diria que a social-democracia se inventou no Uruguai.
Durante quase 50 anos o mundo nos viu como uma espécie de Suíça. Na realidade, no plano econômico fomos bastardos do Império Britânico e, quando este afundou, vivemos as amargas migalhas do fim de intercâmbios funestos e caímos paralisados sonhando com o passado.
Quase 50 anos sonhando com o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje ressurgimos nesse mundo globalizado, talvez aprendendo com a nossa dor. Minha história pessoal é aquela de um moço – porque já fui moço – que, como outros, quis mudar sua época, seu mundo, e teve o sonho de uma sociedade sem classes. Meus erros são, em parte, filhos de meu tempo. Obviamente os assumo, mas, algumas vezes, medito com nostalgia.
A força da utopia
Quisera ter a força de quando éramos capazes de hospedar tanta utopia! Sem dúvida não olho só para trás, porque a realidade de hoje nasceu das cinzas férteis de ontem. Pelo contrário, não vivo para cobrar contas ou ressuscitar recordações.
O que me angustia, e muito, é o futuro que não verei – e por ele me comprometo. Sim, é possível um mundo com a humanidade melhor, mas talvez hoje a primeira tarefa seja cuidar da vida.
Mas sou do sul e venho do sul para esta assembleia; carrego inequivocamente milhões de compatriotas pobres nas cidades, nas planícies, nas selvas, nos pampas, nos grotões da América Latina, pátria comum que está se fazendo.
O bloqueio inútil a Cuba
Trago comigo as culturas originais esmagadas, os restos do colonialismo nas Malvinas, os inúteis bloqueios a esse jacaré lagarteando ao sol do Caribe que se chama Cuba. Venho com as consequências da vigilância eletrônica que não faz outra coisa que não seja semear a desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Venho com uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios da América.
Venho com o dever de lutar pela pátria para todos, para que a Colômbia possa encontrar o caminho para a paz, venho com o dever de lutar pela tolerância, a tolerância necessária com aqueles que são diferentes e com o que temos de diferenças e discordâncias. Não se precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de acordo.
A tolerância é a paz
A tolerância é o fundamento de poder viver em paz, e entendo que no mundo somos diferentes. Combatemos a economia suja, o narcotráfico, a vigarice, a fraude, e a corrupção, pragas contemporâneas concebidas por esse antivalor que sustenta que seremos felizes se enriquecermos, não importando como. Sacrificamo-nos aos deuses imateriais. Ocupamos os templos com o deus do mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia, com cotas e cartões, a aparência de felicidade.
Parece que nascemos só para consumir e consumir, e quando não podemos vem a frustração, a pobreza, e até a autoexclusão.
O certo hoje é que para gastar e enterrar os detritos nisso que a ciência chama nuvem de carbono, se aspiramos consumir como um norte-americano médio, seria imprescindível três planetas para poder viver.
O desperdício de vida
Nossa civilização construiu um desafio mentiroso e, assim como andamos, não é possível para todos aceitar esse desafio de desperdício. Estamos sendo massificados com uma cultura dirigida pela acumulação e pelo mercado.
Prometemos uma vida de abundância e desperdício que, no fundo é uma conta regressiva contra a natureza, contra a humanidade como futuro. É uma civilização contra a sensatez, a sobriedade, contra os ciclos naturais.
“Civilização” contra o amor
O pior: é uma civilização contra a liberdade que supõe ter tempo para viver as relações humanas, o único transcendente, o amor, a amizade, aventura, solidariedade, família. Uma civilização contra o tempo livre não pago, que não se compra e nos permite contemplar e esquadrinhar o cenário da natureza.
Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos as selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com medicamentos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes alijados do entorno humano.
Cabe fazer esta pergunta: ouvimos nossa biologia que defende a vida pela vida ela mesma, como causa superior, e a suplantamos pelo consumismo funcional da acumulação.
A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao mercado. Aos trancos, a política não pode mais perpetuar-se e, como tal, delegou o poder e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Desvairada marcha da historieta humana, comprando e vendendo tudo e inovando para poder negociar de algum modo o que não é negociável. Existe marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para os pais, para as mães, passando pelas secretárias, os carros e as férias. Tudo, tudo é negócio.
E as campanhas de marketing atingem deliberadamente as crianças e sua psicologia para influenciar os adultos e ter no futuro um espaço assegurado. Sobram provas dessas tecnologias abomináveis que quase sempre conduzem para as frustrações.
O homenzinho médio de nossas grandes cidades caminha entre as finanças e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes aclimatados com o ar-condicionado; sempre sonha com as férias e a liberdade, com fechar as contas, até que um dia, o coração para e... Adeus. Haverá outro soldado cobrindo as faltas do mercado, assegurando a acumulação. A crise se faz na impotência, a impotência da política, incapaz de entender que a humanidade não foge nem fugirá do sentimento de nação. Sentimento que está quase incrustado em nosso código genético.
Um mundo sem fronteiras
Hoje é tempo de começar a trabalhar para preparar um mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem outro interesse a não ser o privado – de muito poucos – e cada Estado está focado em sua estabilidade. Hoje, na minha humilde maneira de ver, a grande tarefa de nossos povos é o todo.
Como se isso fosse pouco, o capitalismo produtivo, francamente produtivo, está prisioneiro do caixa dos bancos. No fundo, é o pícaro do poder mundial. Claro, cremos que o mundo requer veementemente regras globais que respeitem os enganos da ciências, que são muitos. Mas não é a ciência que governa o mundo. Se precisam, por exemplo, de uma grande agenda de definições para financiar a luta global pela água e contra os desertos, quantas horas de trabalho, e em toda a Terra, são necessárias, e como converter as moedas locais?
Solidariedade com os oprimidos
Como se recicla e se pressiona contra o aquecimento global? Quais são os limites de cada grande querer humano? Seria imperioso chegar a um consenso planetário para deslanchar a solidariedade aos mais oprimidos, castigar impositivamente o desperdício e a especulação. Mobilizar as grandes economias não para criar bens descartáveis, com a obsolescência calculada, mas bens úteis, sem fidelidade, para favorecer os pobres do mundo. Bens que sejam úteis contra a pobreza mundial, mil vezes mais eficazes do que fazer guerras. Voltar a um neo-keynesianismo útil de escala planetária para abolir as vergonhas mais flagrantes que existem neste mundo.
A política e a ciência
Talvez o nosso mundo necessite de menos organizações mundiais, essas que organizam os fóruns e as conferências, que muito servem às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas que, no melhor dos casos, nada acrescentam e/ou transformam em decisões...
Precisamos, sim, refletir muito sobre o velho e o eterno da vida humana junto à ciência, essa ciência que se empenha pela humanidade não para fazer-se rico; precisamos, com os homens de ciência ao alcance, primeiros conselheiros da humanidade, estabelecer acordos para o mundo todo. Nem os grandes Estados nacionais nem as transnacionais e muito menos o sistema financeiro deveriam governar o mundo humano. A alta política enlaçada com a sabedoria científica: aí está a fonte. Essa ciência que não está atrás do lucro, mas que olha o futuro e diz coisas que não entendemos. Quantos anos faz que nos disseram determinadas coisas que não levamos em conta? Creio que se deva convocar a inteligência para o comando da nave Terra, coisas desse estilo e outras que não posso desenvolver aqui e que nos parece imprescindíveis, mas requereriam que o determinante fosse a vida, não a acumulação.
Não somos tão crédulos
Obviamente não somos tão ingênuos, essas coisas não passarão. São necessários ainda muitos sacrifícios inúteis, muitos remendos nas consequências e no enfrentar as suas causas. Hoje o mundo é incapaz de criar uma regulação planetária à globalização e isso se dá pelo enfraquecimento da alta política, essa que se ocupa do todo. Por último vamos assistir ao refúgio dos acordos mais ou menos “reivindicáveis”, que vão expor um falso livre comércio interno, mas que no fundo está construindo barreiras protecionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta. Vão crescer ramificações industriais importantes e serviços, todos dedicados a salvar e a melhorar o meio ambiente. Assim nos consolaremos por algum tempo, nos distrairemos e naturalmente vai continuar tudo como está: a rica acumulação para regozijo do sistema financeiro.
Ir contra a espécie
Continuarão as guerras e, portanto, os fanatismos até que talvez a mesma natureza chame à ordem e torne inviáveis nossas civilizações. Talvez nossa visão seja demasiado crua, sem piedade. Vemos o homem como uma criatura única, a única na Terra capaz de ir contra a própria espécie. Volto a repetir, porque alguns dizem que a crise ecológica do planeta é consequência do triunfo avassalador da ambição humana: é nosso triunfo e a nossa derrota, porque temos impotência política para nos enquadrarmos em uma nova época, que contribuímos para construir e não nos demos conta.
Por que digo isso? São dados, nada mais. O certo é que a população quadruplicou e o PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990, aproximadamente, a cada seis anos se multiplica o comércio mundial. Podíamos seguir mostrando dados que estabelecem a marcha da globalização. O que está acontecendo? Entramos rapidamente em outra época, mas com políticos, adornos culturais, partidos e jovens, todos velhos diante da pavorosa acumulação de divisas que nem podemos registrar. Não podemos controlar a globalização, porque nosso pensamento não é global. Não sabemos se é um limitante cultural ou se estamos chegando aos limites biológicos.
Os efeitos da cobiça
Nossa época é tão portentosamente revolucionária como nenhuma outra na história da humanidade. Mas não tem uma condução consciente, ou pelo menos uma condução instintiva. Muito menos uma diretriz política organizada, porque sequer temos uma filosofia precursora diante da velocidade das mudanças que se acumularão.
A cobiça tanto pode ser negativa como pode ser o motor da história, essa cobiça que empurrou o progresso material técnico e científico, que fez o que é a nossa época e o nosso tempo, é um fenômeno com muitas frentes. Paradoxalmente, essa mesma ferramenta, a cobiça, que nos impulsionou a domesticar a ciência e a transformá-la em tecnologia nos precipita para um abismo nebuloso; para uma história que não conhecemos, uma época sem história, e nos está derrubando sem visão nem inteligência coletiva para seguir colonizando e perpetuar nos transformando.
O que é o todo?
Se algo caracteriza o ser humano, é ser um conquistador antropológico. Parece que as coisas têm autonomia e se submetem aos homens. Por um lado ou outro sobram ativos para vislumbrar essas coisas ou os caminhos. Porém é impossível coletivizar as decisões. Mas, claro, a cobiça individual triunfa largamente sobre a cobiça superior da espécie. Deixando mais claro: o que é o todo?
Para nós é a vida global do sistema Terra, incluindo a vida humana com todos os seus frágeis equilíbrios, que faz o possível para que nos perpetuemos. Por outro lado, um sistema mais sensível, menos opinativo e mais evidente. No Ocidente, particularmente, porque daí viemos, embora vindos do sul, as repúblicas nasceram para afirmar que os homens são iguais, que ninguém é melhor que ninguém, que seus governos deveriam representar o bem comum, a justiça e a igualdade. Muitas vezes, as repúblicas se deformam e caem no esquecimento das pessoas, aquelas que andam pelas ruas, o povo comum.
As repúblicas não foram criadas para vegetar em uma zona nebulosa; ao contrário, são um grito na história para fazer a vida funcional para os seus povos e, portanto, as repúblicas se devem às maiorias e às lutas para a promoção das maiorias.
A cultura consumista
Pelo que foi, por reminiscências feudais que estão em nossa cultura; por esse classismo dominador, talvez pela cultura consumista que nos rodeia, frequentemente as direções das repúblicas adotam um viver diário que exclui, que põe distância para o homem da rua. Pelos fatos, esse homem deveria ser a causa central da luta política na vida das repúblicas. Os governos republicanos deveriam se parecer cada vez mais com os seus respectivos povos na forma de viver e na forma de comprometer-se com a vida.
O fato é que cultivamos arcaísmos feudais, complacências consentidas; fazemos diferenciações hierárquicas que no fundo sufocam o que as repúblicas têm de melhor: que ninguém é melhor que ninguém. O jogo deste e outros fatores nos segura na Pré-História. E hoje é impossível renunciar à guerra quando a política fracassa. Assim se estrangula a economia, se esbanjam os recursos.
Dois milhões por minuto
Ouçam bem, queridos amigos: a cada minuto do mundo se gastam dois milhões de dólares em orçamentos militares nessa Terra. Dois milhões de dólares por minuto em armamentos! A pesquisa médica de todas as enfermidades, que tem avançado enormemente e é uma bênção para a promessa de viver uns anos a mais, essa pesquisa recebe a quinta parte do orçamento destinado à pesquisa militar.
Esse processo, do qual não podemos sair, é cego. Mantém o ódio e o fanatismo, a desconfiança, fonte de novas guerras e desperdício de fortunas. É muito poético nos autocriticarmos. E creio que seria inocência reivindicar que existem recursos para poupar e gastar em outras cosas úteis. Isso seria possível se fôssemos capazes de fazer acordos mundiais e prevenções mundiais com políticas planetárias que nos garantissem a paz e que dessem, aos mais fracos, as garantias que não temos. Encontraríamos enormes recursos para coibir e corrigir as maiores vergonhas desta terra. Mas basta uma pergunta: nessa humanidade, hoje, aonde vamos sem a existência dessas garantias planetárias? Então cada um tem seu arsenal de acordo com sua magnitude. Estamos nessa situação porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.
As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter a sua cota de poder.
O papel da ONU
Os fatos atrapalham essa ONU, que foi criada como uma esperança e como um sonho para a humanidade. Mas o pior ainda é o afastamento da democracia no sentido planetário, porque não somos iguais. Não podemos ser iguais neste mundo onde existem mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia planetária ferida e está cerceando a história de um possível acordo de paz mundial, militante, combativo e que exista verdadeiramente. E então trataremos das doenças onde elas eclodirem e se apresentarem, segundo a opinião das grandes potências. O resto olharemos de longe. Nós existimos.
Amigos, acredito que é muito difícil inventar uma força pior que o nacionalismo chauvinista das grandes potências. A força é libertadora dos frágeis. O nacionalismo, pai dos processos de descolonização, formidável para os desfavorecidos, se transforma em uma ferramenta opressora nas mãos dos fortes, e nesses últimos 200 anos temos tido exemplos por toda parte.
Nosso pequeno exemplo
A ONU, nossa ONU se enfraquece, se burocratiza por falta de poder e autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o mundo dos mais necessitados, que constituem a grande maioria do planeta. Pego um pequenino exemplo. Nosso pequeno país tem, em termos absolutos, a maior quantidade de soldados em missões de paz dos paises da América Latina espalhados pelo mundo. Estamos onde nos pedem que estejamos.
Mas somos pequenos, fracos. Onde se repartem os recursos e tomam as decisões não entramos nem para servir café. No mais profundo de nosso coração, existe uma enorme ansiedade de ajudar para que o homem saia da pré-história. Eu defendo que o homem, enquanto vive em um clima de guerra, está na Pré-História, apesar dos artefatos que é capaz de construir.
As solidões da guerra
Até que o homem saia dessa pré-história e arquive a guerra como recurso quando a política fracassa é uma longa caminhada e um desafio que temos. E dizemos isso com conhecimento de causa. Conhecemos as solidões das guerras. Sem dúvida, esses sonhos, esses desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de encontros mundiais que comecem a governar nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à vida. A espécie, como tal, deveria ter um governo para a humanidade que supere o individualismo e trabalhe por recriar as cabeças políticas que ajudem o caminho da ciência, e não só os interesses imediatos que estão nos governando e sufocando.
Paralelamente temos que entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, são da humanidade toda; e ela deve, como tal, ser globalizada, empenhar-se no seu desenvolvimento, em poder viver com decência por si mesma. Os recursos necessários existem, estão nesse depredador desperdício de nossa civilização.
A lâmpada de 100 anos
Há poucos dias fizeram aqui, na Califórnia, em um posto do corpo de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica que há 100 anos está acesa. Cem anos que está acesa! Quantos milhões de dólares nos tiraram do bolso fazendo deliberadamente porcarias para que a gente compre, e compre, e compre, e compre!
Mas essa globalização de olhar por todo o planeta e por toda a vida significa uma mudança cultural brutal. É isso que a história está nos pedindo. Toda a base material tem mudado e oscilado, e os homens, com nossa cultura, permanecemos como se não houvesse nada e, em lugar de governar a civilização, esta nos governa. Faz mais de vinte anos que discutimos a taxa Tobin (sobre transações financeiras). Impossível aplicá-la a todo o planeta. Todos os bancos, donos do poder financeiro, se levantariam feridos em sua propriedade privada e não sei quantas coisas mais. Sem dúvida, isso é paradoxal. Sem dúvida, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de transformar em verde os desertos.
O homem é capaz...
O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam com água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É incomensurável. Ali estão as mais potentes fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. Sobra energia no mundo se trabalharmos em como usá-la com eficiência. É possível arrancar quase toda a miséria do planeta. É possível criar estabilidade e será possível às gerações futuras, se conseguirmos pensar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida para a galáxia e continuar com esse sonho conquistador que nós, seres humanos, levamos em nossa genética.
Mas para que todos esses sonhos sejam possíveis precisamos nos governar, nós mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar a altura da civilização que fomos desenvolvendo.
Esse é nosso dilema. Não nos distraiamos só remendando as consequências. Pensemos nas causas de fundo, na civilização do desperdício, na civilização do use-e-jogue-fora, pois o que estamos fazendo é tirando o tempo de vida, gastando mal, perdendo tempo com questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por milagre e que nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico é, além de todas as coisas, respeitar a vida e estimulá-la, cuidar dela, procriar e entender que a espécie somos nós.
Obrigado.
Publicado em 18 de fevereiro de 2014
Publicado em 18 de fevereiro de 2014
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.