Emilia Ferreiro, Ana Teberosky e a gênese da língua escrita
Priscila Maria Romero Barbosa
Pedagoga, orientadora educacional e especialista em Educação Especial e Inclusiva
Emilia Ferreiro e Ana Teberosky partiram do pressuposto da teoria piagetiana – de que todo conhecimento possui uma origem – e, pelo método clínico de Piaget, observaram 108 crianças e seu funcionamento do sistema de escrita. Elas queriam entender como as crianças se apropriam da cultura escrita, criando a obra intitulada de Psicogênese da Língua Escrita, introduzida no Brasil por volta dos anos 1980 (Picolli; Camini, 2013).
O fato de questionarem e considerarem o que as crianças sabem antes da alfabetização (da entrada na escola) modificou toda a forma de pensar da época, e ainda hoje tais ideias embasam muitos profissionais. Diversas práticas construtivistas foram lançadas no dia a dia da sala de aula por influência da Psicogênese da Língua Escrita (Picolli; Camini, 2013).
Nessa obra, as autoras criticam os métodos utilizados para alfabetização e afirmam que há uma “verdadeira escrita inibida pelos métodos tradicionais”, visto que estes utilizam a cópia como ferramenta fundamental. “A verdadeira escrita (...) seria a escrita espontânea: aquela que proporcionaria à criança pensar sobre as regras que constituem o sistema de escrita” (Picolli; Camini, 2013).
Ferreiro e Teberosky sustentam que a grande maioria das crianças com seis anos de idade sabe distinguir textos de desenhos. Aquelas crianças que ainda “leem” desenhos e não letras são crianças que não têm contato com a escrita em seus diversos materiais (Multieducação).
É preciso que haja certo número de letras (2 a 4). Uma letra sozinha não representa nada escrito. As crianças rejeitam letras repetidas, pois só podem ser lidas palavras com letras diferentes. Mais tarde, pode haver dificuldade para perceber que uma oração pode ser fragmentada em pedaços e que cada pedaço é uma palavra a ser lida.
Nível Pré-Silábico – níveis 1 e 2
Nível 1: A criança tem traços típicos, como linhas e formas semelhantes a emes em letra cursiva. Apenas quem escreveu sabe o que significa. Ainda não se pode distinguir desenho e escrita em seus registros, recorrendo à utilização de desenhos. A escrita deve possuir variedade de caracteres. A quantia de grafias para cada palavra deve ser constante (Picolli; Camini, 2013). A escrita dos nomes é proporcional à idade ou tamanho da pessoa, do animal ou do objeto a que se refere. Ela escreve boi de forma gigante e formiga de forma mínima (Multieducação).
Nível 2: Para ler coisas diferentes deve haver diferença na escrita. Fixa-se a quantidade mínima de caracteres para escrever – os caracteres aparecem organizados linearmente nesse nível. A forma dos caracteres está mais próxima das formas das letras e podem aparecer junto com números (Picolli; Camini, 2013).
A criança passa a adquirir formas fixas de escrita, utilizando letras do seu próprio nome ou letras conhecidas (aron, lido como sapo; aorn, lido como pato; raon, lido como casa) como fonte principal para seu registro. Cada letra não possui ainda valor sonoro por si só. Assim, a leitura permanece realizada de modo global (Picolli; Camini, 2013). Predomina a escrita em letra de imprensa maiúscula (Multieducação).
Nível silábico
Nível 3: Aparece a hipótese silábica – a criança atribui um valor sonoro a cada sílaba das palavras que registra. As crianças relacionam a escrita à fala. Algumas crianças escrevem silabicamente, sem valor sonoro (Picolli; Camini, 2013). Começa um conflito entre a hipótese silábica e a quantidade mínima de letras exigidas para que a palavra possa ser lida. Ela utiliza duas formas gráficas para escrever palavras com duas sílabas, o que vai de encontro à ideia inicial de precisar no mínimo de três caracteres (Multieducação).
Nível silábico-alfabético
Nível 4: Passagem da hipótese silábica para a alfabética. A criança se aproxima de uma análise de fonema a fonema (Picolli; Camini, 2013). “Percebe que escrever é representar progressivamente as partes sonoras das palavras” (Multieducação).
Nível alfabético
Nível 5: A criança desenvolve uma análise fonética, produzindo escritas com hipóteses alfabéticas. Daqui para a frente, as crianças enfrentariam outros desafios, como, por exemplo, a ortografia (Picolli; Camini, 2013).
Referências
PICOLLI, Luciana; CAMINI, Patrícia. Práticas pedagógicas em alfabetização: espaço, tempo e corporeidade. Porto Alegre: Edelbra, 2013.
MULTIEDUCAÇÃO. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Secretaria Municipal de Educação. MULTIRIO. Disponível em: http://portalmultirio.rio.rj.gov.br/cime/ME02/ME02_010.html.
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Publicado em 09 de junho de 2015
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