Relato de experiências: atividades de produção textual realizadas por alunos do Ensino Médio
Luciane Matos de Moraes
Introdução
Nos últimos anos, observamos que surgiram mudanças drásticas nas necessidades e no comportamento da sociedade. Lopes e López (2010) afirmam que a globalização tem produzido mudanças quantitativas e qualitativas na Educação nestas últimas décadas. O mundo mudou e a transição entre os séculos XX e XXI mostrou transformações nunca antes vividas em tão pouco tempo.
Desde que iniciei no magistério, a sala de aula sempre foi um desafio, sem espaço para acomodação. As informações chegam ao conhecimento das pessoas cada vez mais rápido por diversos meios, e os temas relacionados à ciência sempre fizeram sucesso nas aulas de Língua Portuguesa. O aluno trazia questionamentos pertinentes a essa área buscando respostas. Ciência, tecnologia e inovação era sucesso de motivação garantida. Quando os alunos se apropriavam da busca por notícias dessa natureza, traziam os temas de seu interesse e, invariavelmente, buscavam matérias relacionadas aos fatos estudados nas aulas de Ciências. O meu interesse pelo assunto também aumentou e, nas aulas de interpretação, eram recorrentes os textos de cunho científico que seriam trabalhados nas feiras interdisciplinares e debatidos, transformados em peça de teatro, poesia, livro, conhecimento adquirido. A última produção em sala de aula foi a elaboração de revistas de divulgação científica por alunos da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Estadual Jardim Meriti, em São João de Meriti, que relato a seguir.
Público-alvo
Alunos da 2ª série do Ensino Médio regular da educação pública do Estado do Rio de Janeiro.
Metodologia
O Currículo Mínimo e o Caderno de Atividades Pedagógicas Autorreguladas fornecido pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro para a 2ª série do Ensino Médio foram o alicerce para as atividades aqui relatadas. As sugestões de produção textual no 1º e no 2º bimestres formaram etapas elucidativas que conduziram as turmas a alcançar uma produção satisfatória do ponto de vista do uso da língua e quanto ao desenvolvimento de um artigo de divulgação científica.
Pacheco (2013) diz que é uma característica da modernidade a homogeneização curricular, norteada pela avaliação. Excluir-se desse processo seria correr o risco de ficar à margem das oportunidades que hoje aparecem. A Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro tem planejado medidas e ações baseadas nos resultados das avaliações, e os índices têm melhorado significativamente junto ao Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
O estado possui hoje o Índice de Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro (Iderj), que, a partir das provas do Saerj, observa o Índice de Desenvolvimento (ID) e o Índice de Fluxo (IF), calculado a partir das taxas de aprovação divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
O avanço na compreensão dos textos é imprescindível nessa avaliação, que, a princípio, contava apenas com as matérias Língua Portuguesa e Matemática. No momento, contempla também as áreas de Química, Física e Biologia no Ensino Médio e Ciências no Ensino Fundamental, além de História e Geografia, nos dois níveis.
O início da produção textual foi com a elaboração de resumos. Para que a escrita aconteça, é imprescindível que haja leitura. Os alunos foram apresentados aos livros de contos de autores nacionais que havia na biblioteca do colégio. Cada um escolhia o texto que lhe fosse mais aprazível e era convidado a fazer um pequeno resumo com suas próprias palavras. O desafio era produzir a maior quantidade de resumos, pois à soma deles atribuiria pontuação no conceito bimestral. Decerto que houve alguma resistência quanto à atividade escrita, mas o talento dos escritores brasileiros e a necessidade de alcançar a nota motivaram a todos.
Associadas a este exercício, que aperfeiçoou a capacidade de relatar os fatos pela escrita, vieram as resenhas. Os alunos, agora já desenvoltos no relato dos acontecimentos, associaram sua opinião crítica diante do material que foi apresentado naquele momento, uma vídeo-aula de literatura brasileira.
No segundo bimestre, o material de apoio pedagógico disponível no site Conexão Professor foi o ponto de partida para a compreensão da estrutura de um artigo científico. Com ele, os alunos puderam discernir os textos científicos e identificar pontos pouco reconhecidos, como a discussão que gera uma nova descoberta científica e suas consequências para a sociedade. Caruso (2003) afirma que “a alfabetização científica é importante para o pleno exercício da cidadania”. O domínio dessas faculdades traz ao conhecimento do cidadão informações que o farão apto a relacionar-se consigo mesmo e com o ambiente que o cerca, capacitando-o a opinar nos assuntos relativos à ciência e à tecnologia em busca de uma melhor qualidade de vida.
Enfim, sabedores do que é o texto científico e capacitados a redigir um texto pautado em relatos de acontecimentos, foi feita a proposta da produção de revistas de divulgação científica compostas por artigos dos alunos. A produção foi artesanal; alguns trabalhos foram apresentados de forma manuscrita. Os resultados são descritos no próximo item.
Resultados alcançados
No segundo bimestre do ano letivo de 2015, três turmas foram orientadas a escrever artigos de divulgação científica e organizá-los no formato revista. A biopirataria foi o tema mais recorrente, em razão de a estratégia utilizada para esclarecer o tema da aula (divulgação científica) ter sido a exibição de um documentário com essa pauta. No entanto, seguindo a premissa particular de deixar que o aluno pesquise o que lhe parece mais atraente, desde que não fuja do assunto principal, uma grande variedade de artigos científicos compõe hoje as revistas produzidas pelos grupos.
Tenho como satisfatório o desenvolvimento de habilidades e competências junto aos alunos e ensejo com a divulgação do resultado deste trabalho corroborar a afirmação:
“A proposta de desenvolver atividades pedagógicas de aprendizagem autorregulada é mais uma estratégia pedagógica para contribuir para a formação de cidadãos do século XXI, capazes de explorar suas competências cognitivas e não cognitivas (Caderno de Atividades Pedagógicas de Aprendizagem Autorreguladas – 2013).
Referências
CARUSO, F. Desafios da alfabetização científica. Ciência & Sociedade, CBPF-CS-010/03, 2003.
LOPES, A. C.; LÓPEZ, S. B. A performatividade nas políticas de currículo: o caso do ENEM. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 26, nº 1, p. 89-110, abr. 2010.
PACHECO, J. A. Teoria (pós)crítica: passado, presente e futuro a partir de uma análise dos estudos curriculares. Revista e-Curriculum, São Paulo, v. 11 nº 1, abr. 2013.
Publicado em 01 de setembro de 2015
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