Relação família-escola: peculiaridades, divergências e concordâncias no processo ensino-aprendizagem

Magna da Silva Costa Moreira

Licenciada em Pedagogia (Fabel)

Marcelo Gomes da Silva

Professor universitário, doutorando em Educação (UFF)

O presente artigo visa discutir características que permeiam a relação cotidiana entre família e escola, compreendendo que a construção do processo de ensino-aprendizagem é perpassada não apenas pela escola, mas principalmente pela relação dela com a família.O objetivo deste trabalho é analisar a relação família-escola considerando suas peculiaridades, seu impacto no desenvolvimento educacional do aluno, suas características e os possíveis papéis assumidos e/ou estabelecidos como função da família e da escola no processo de construção do ensino-aprendizagem.

O estudo realizou-se a partir de uma revisão bibliográfica articulada com entrevistas realizadas com pais de alunos e educadoras da Escola Municipal Professora Aila Saldanha do Couto, localizada em Duque de Caxias-RJ. As conclusões do estudo sinalizam para a importância de estreitar essa relação, promovendo o diálogo e ações conjuntas para que o aluno seja formado em sua integralidade física, emocional, intelectual e social. Nesse sentido, notou-se a necessidade de a escola abrir as portas com atividades que aproximem a família do contexto educacional.

Como funciona socialmente essa parceria? Quais aspectos sociais envolvem essa relação? Qual papel cabe a cada instituição representar e exercer sobre a vida do aluno como fator essencial para a construção do processo ensino-aprendizagem? A partir dessas questões, buscamos desenvolver a proposta do seguinte tema: Família-escola: peculiaridades, divergências e concordâncias no processo ensino-aprendizagem.

A justificativa do presente estudo surgiu de inquietações nas observações do contexto escolar. Desse modo, entendemos a necessidade de discutir a importância do envolvimento da família com a escola, já que os desafios percebidos nesse cotidiano são sérios e atingem diretamente o aluno, que é o principal ator desse processo. A funcionalidade das responsabilidades comuns às duas instituições e as responsabilidades distintas, que se complementam favorecendo a educação da criança, também são fatores que dão base à justificativa do estudo.

O objetivo geral deste trabalho é analisar a importância da humanização da relação “família-escola”, suas possibilidades de diálogo e seus comportamentos distintos e, dessa forma, perceber sua influência e seu impacto na vida do sujeito em desenvolvimento.

Para a construção deste artigo, foi realizado um levantamento bibliográfico envolvendo os trabalhos que tratam da relação família-escola; isso possibilitou perceber um quadro analítico que aponta questões que ajudaram a compor este artigo. Vale destacar que

tanto a família quanto a escola desejam a mesma coisa: preparar as crianças para o mundo; no entanto, a família tem suas particularidades que a diferenciam da escola, e necessidades que a aproximam dessa mesma instituição. A escola tem sua metodologia e filosofia para educar uma criança; no entanto, ela necessita da família para concretizar o seu projeto educativo (Parolin, 2003, p. 99).

Em diálogo com a bibliografia, partiu-se para o movimento de adentrar um universo empírico que compõe a relação família-escola. Para tanto, realizou-se diálogo com educadores e responsáveis (pais de alunos) da Escola Municipal Professora Aila Saldanha do Couto. A escola foi escolhida por questões práticas (atuo lá como professora regente da turma de Educação Infantil) e por questões epistemológicas, pois a inquietação que incentivou a elaboração da reflexão proposta aqui surgiu da minha prática como professora ao perceber a dificuldade de instituições tão importantes se unirem frente a um único propósito.

Para Durkheim (1978), formar o cidadão em toda sua plenitude, seja física, intelectual ou moral, é requisito aclamado pela sociedade para que o estudante se comporte como cidadão formado, capaz de transformar o meio em que atua com responsabilidade e iniciativa para tomar decisões.

No desenvolvimento do trabalho, encontraremos tópicos que ampliam as possibilidades de reflexão da relação família-escola; por isso, iremos analisar situações que permeiam essa relação. Podemos destacar então:

  • “Família e escola educando num processo de formação humana”, percebendo como funciona esse desenvolvimento em toda sua plenitude;
  • “O papel da escola na educação”, verificando a importância de suas ações educativas na vida do aluno e da família;
  • “O papel da família na educação”, entendendo que suas contribuições como ensinamentos diários para a vida em sociedade, valores, dentre outros conhecimentos, são importantes para o processo de desenvolvimento do ser humano;
  • “Divergências na relação família-escola”, compreendendo os pensamentos distintos que levam ambas as instituições a vivenciar situações conflituosas, o que atinge diretamente o desenvolvimento do educando;
  • “Entrevistas realizadas com pais e professoras”, que nos levam a compreender o contexto de uma relação que se apresenta tão importante, para a família e para a escola, de acordo com os entrevistados.

Família e escola educando num processo de formação humana

A criança aprende continuamente, observando e seguindo orientações de adultos ao seu redor; estes passam (de maneira correta ou não) valores que influenciarão sua formação para que seja inserida e viva em sociedade com demais cidadãos. Seu destino é obter uma formação integral e responsável para que atenda às exigências da sociedade em que vive. Dessa forma, educar não é um simples método de treinar o aluno para que ele seja capaz de exercer uma atividade; é prioritariamente uma possibilidade de formar um ser autônomo, mediante de todo o processo do qual ele faz parte atuante como sujeito:

Educação não é só ensinar, instruir, treinar, domesticar; é sobretudo formar a autonomia do sujeito histórico competente, uma vez que o educando não é o objetivo de ensino, mas sim sujeito do processo, parceiro de trabalho, trabalho este entre individualidade e solidariedade (Demo, 1996, p. 16 apud Cruz, 2009, s.p.).

A criança é preparada para adquirir autonomia; para isso, precisa compreender que faz parte de um processo no qual suas ações promovem resultados de uma educação que tem como principal foco facilitar a formação de um adulto com competência suficiente para perceber a realidade em que vive e ser um sujeito transformador e não manipulado, absorvendo o bom aprendizado e dispensando o mau, para que não fira os valores e a instrução que foram construídos com sucesso. Para Narodwski (2006), quando existe a união das instituições escola e família e ambas trabalham juntas, se concretiza a formação da criança em um ser social completo. Ainda segundo esse autor, o consenso na relação família-escola só traz benefícios para as duas partes, e o entrosamento delas promove reflexos além das paredes da escola.Como afirmam Montandon e Perrenoud (1987, p. 7), “de uma maneira ou de outra, onipresente ou discreta, agradável ou ameaçadora, a escola faz parte da vida cotidiana de cada família”.

A educação configura-se num campo diversificado em que o indivíduo aprende a todo momento com situações que vão organizando a sua formação. Por isso, no cenário educacional a família e a escola são instituições com papéis distintos, porém se complementam na formação do ser humano.

No entanto, discordam frequentemente quanto às suas ações, sejam elas diretas ou indiretas, e a criança fica no meio de situações que atrapalham sua formação. Manter boas relações é o foco para beneficiar o educando, de acordo com Gomes (1993); o importante é que as duas instituições conheçam a realidade da outra, referindo-se de forma clara quanto aos seus objetivos e propósitos de educação, para que assim a escola “possa adequar seus planejamentos às expectativas e condições reais de vida e de trabalho das famílias que lhes fornecem a clientela” (Gomes, 1993, p. 91). Do ponto de vista da escola, o entrosamento e a participação dos pais na educação dos filhos e filhas se dão de forma mais clara no seu comparecimento às reuniões de responsáveis e mestres, na atenção à comunicação escola-casa e, sobretudo, no acompanhamento de perto das atividades de casa e das notas obtidas nas avaliações da instituição de ensino. Esse envolvimento pode ser espontâneo ou estimulado por políticas da escola ou do sistema de ensino (Carvalho, 2000).

A educação apresenta em toda a sua amplitude características de instruir, promover disciplina, repassar hábitos, costumes e valores que norteiam uma determinada realidade e são passados de geração para geração. A educação vai se formando por meio de situações vivenciadas no cotidiano e do acúmulo de experiências adquiridas por cada indivíduo em toda a sua vida, ou seja, o ser humano passa por um processo contínuo de mudanças que o leva à inserção na sociedade. Crianças têm ações de acordo com o reflexo que vem dos adultos, e isso irá formar o caráter, a educação e a moral de um futuro adulto que tem de forma constante a influência da família e da escola.

Juntas, família e escola levam uma criança a evoluir via educação, e esse processo deve ser construído com muita eficácia, pois a criança necessita de estrutura física, intelectual, emocional e social, ou seja, o comprometimento das instituições é formar um ser de maneira integral. Dentro desse conceito de formar integralmente o ser humano, encontramos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) o Art. 2º, que descreve a garantia desse direito:

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Brasil, 1996, s.p.).

De acordo com a LDB, a parceria de ambas as instituições é imprescindível para esse preparo do ser humano, formando-o com qualidade e equipando-o com uma estrutura para que exerça sua cidadania com empenho e entendimento de suas ações.

Papel da escola na educação

A escola é um dos lugares, dentro da sociedade, que possui maior influência sobre as crianças; por isso é importante pontuar que todo cidadão tem direito à educação, o que é contemplado e garantido pela LDB.

Art. 5º - O acesso ao Ensino Fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo (Brasil, 1996, s.p.).

A Escola Municipal Professora Aila Saldanha do Couto identificou a necessidade de analisar e se empenhar para manter o educando dentro da escola, promovendo um ensino de qualidade como ponto de partida para que esse processo se inicie com o direcionamento adequado. Para isso, a criança precisa ser atendida com base no conhecimento prévio que possui, pois ela tem facilidade de se expressar demonstrando suas vontades e expondo suas opiniões, de maneira que se apresenta como um ser que tem conteúdo e não é como um frasco vazio e sem falas consistentes. A escola não pode ignorar a fala da criança, pois no cenário educacional ela é o personagem principal e precisa ser ouvida. Para Corsaro (2005), sua historicidade social é importante no momento de ser inserida no contexto escolar e de permanecer ali.

Desafiar o aluno a encontrar soluções é o propósito do educador; mediar situações promovendo inúmeras possibilidades de aprendizado; portanto, compete a ele ter a função de se posicionar como uma ponte e não um depositário, entendendo que o aluno não é vazio e que tem uma historicidade que já faz parte de sua formação. Dessa forma, ouvir a criança como ponto de partida é imprescindível. No entanto, para que esse processo tenha sucesso a relação família e escola deve ser sólida, e o princípio dessa solidez é ouvir a criança para criar ações para envolver a família no contexto escolar. Para Paulo Freire,

saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, as suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento (Freire,1996, p. 47).

O papel da família na educação

No dicionário Aurélio encontramos a seguinte definição: a família é “composta por um conjunto de todos os parentes de uma pessoa, e principalmente dos que moram com ela”. Para José Coelho (2004), a definição de família vai além dessa formação, considerando-a uma instituição que é a base da formação do ser humano, proporcionando valores, afeto e encaminhado a criança a uma instrução intelectual necessária para a sua formação social; desse modo, ela é parte importante do desenvolvimento da criança. Ainda segundo o autor, essa instituição é uma estrutura social básica, em que por longo tempo as pessoas convivem, período em que as crianças têm suas primeiras experiências de aprendizagem, que muitas vezes acontecem em forma de treino e influenciam diretamente no seu comportamento cotidiano.

No dia a dia de cada família, podemos perceber uma interação que promove um constante aprendizado; como afirma Munhoz (2005, p. 180),

é observando a interação existente entre os membros da família que podemos compreender como se dá a circulação do conhecimento e o acesso à aprendizagem, visto que cada membro familiar tem uma forma própria de aprender e superar ao construir o próprio conhecimento, ou seja, essa modalidade de aprendizagem que o permite se aproximar do desconhecido, para agregá-lo ao saber.

Observando a realidade cotidiana na Escola Municipal Professora Aila Saldanha do Couto constatou-se que a família ao lado da escola poderá encontrar as melhores estratégias para atingir os objetivos de uma educação em toda a sua plenitude, baseada em princípios éticos como responsabilidade, solidariedade, honestidade, e cidadania, que contribuirão e enriquecerão o processo de construção de indivíduos formadores de opinião.

Ao realizar as entrevistas na unidade de ensino, percebeu-se que, na realidade escolar, o envolvimento da família nas atividades escolares dos filhos é um papel de suma importância a ser cumprido, promovendo assim uma evolução no desempenho escolar e social. No Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), podemos encontrar no Art. 4º:

é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar com absoluta prioridade a efetivação dos direitos referentes à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (Brasil, 1990).

O envolvimento da família com a educação dos filhos gera a efetivação de direitos garantidos por lei em que o educando é o beneficiado. No contexto social há uma diversidade muito grande de estabilidade ou instabilidade social, gênero, cultura, idade, entre outros fatores, que trazem para dentro da instituição de ensino famílias com realidades distintas; com isso, entendimentos diversos no que diz respeito ao diálogo com a escola.

Nas entrevistas realizadas com pais e professores também percebemos a preocupação de manter uma parceria com a escola para que haja uma contribuição em conjunto para a formação do educando. Tanto a família como a escola reconhecem que o tratamento com a relação de ambas deve ser singular, com um olhar diferenciado e não generalizado, pois cada caso exige uma atenção específica.

Divergências na relação família-escola

Para Lareau (1987), vários fatores integram a relação família-escola, sejam eles financeiro, baixo ou alto nível de escolarização, localidade onde mora, costumes, religião, número de filhos e até mesmo a profissão dos pais. Tudo influencia quando se trata de educação, pois, dependendo da estrutura da família, ela terá ou não disponibilidade para exercer seu papel de educadora na vida do filho. Ainda segundo esse autor, o nível de escolaridade dos pais influencia na formação educacional dos filhos de forma constante. Alguns pais têm facilidade de acesso a uma boa cultura e repassam isso para seus filhos; por outro lado, notam-se pais que não tiveram acesso à escolarização devido a terem que trabalhar cedo e desse modo também não incentivam ou não têm tempo para fazer isso, devido ao cansaço do dia a dia. São situações que são cada vez mais comuns, e a escola precisa juntamente com os pais identificar soluções para driblar situações-problema cotidianas que atrapalhem a relação escola-família.

A família e a escola são instituições com papéis distintos, porém se complementam na formação do ser humano; por isso, para Piaget (2007, p. 50),

uma ligação estreita e continuada entre os professores e os pais leva, pois, a muita coisa que a uma informação mútua: este intercâmbio acaba resultando em ajuda recíproca e, frequentemente, em aperfeiçoamento real dos métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais e ao proporcionar reciprocamente aos pais um interesse pelas coisas da escola, chega-se até mesmo a uma divisão de responsabilidades.

É de suma importância estreitar e diminuir ao máximo à distância família-escola, pois ambas têm a criança como foco a ser trabalhado; porém é notório que muitas vezes a família apresenta profundo desinteresse em cumprir suas ações educativas. Dessa maneira, Tedesco (2002) afirma que há um vazio no que se refere ao apoio na escola, causando erosão nessa relação.

Essa erosão do apoio familiar não se expressa só na falta de tempo para ajudar as crianças nos trabalhos escolares ou para acompanhar sua trajetória escolar. Num sentido mais geral e mais profundo, produziu-se uma nova dissolução entre família, pela qual as crianças chegam à escola com um núcleo básico de desenvolvimento da personalidade caracterizado seja pela debilidade dos quadros de referência, seja por quadros de referência que diferem dos que a escola supõe e para os quais se preparou (Tedesco, 2002, p. 36).

De acordo com essa ideia, percebe-se que há momentos em que a escola se sente vulnerável ao contexto social, tamanha a problemática dentro da família; sendo assim, essa influência conflituosa gerada pela falta de colaboração na educação da criança causa prejuízos no seu desenvolvimento escolar.

A escola enfrenta desafios diários provenientes da tentativa de estabilizar uma relação escola-família. É comum encontrar nas escolas pais que acreditam fielmente no fato de os professores terem de educar e ensinar; acumular funções não é tarefa do professor, no entanto o que mais faz é conciliar as tarefas por falta de uma parceria de responsabilidade entre pais e escola. Dificuldades como essa são empecilhos que atrapalham o andamento do processo ensino-aprendizagem. Para Malavazi, cada instituição deve assumir o seu papel: “algumas atribuições são específicas da família, que tem o direito de reivindicá-las para si, enquanto outras cabem à escola, que, pela sua natureza, poderá ocupar-se melhor delas” (2000, p. 258).

De acordo com observações e entrevistas efetuadas na unidade de ensino mencionada, verificou-se que as questões sociais das famílias influenciam diretamente a educação das crianças, levando-as a amadurecer mais rápido, assumindo responsabilidades que ainda não são apropriadas para sua faixa etária. Tais fatores também desestabilizam o trabalho da escola, pois é complexo lidar com um aluno que já vem desestimulado com o acúmulo de tarefas, já que seus pais trabalham e não dão apoio nem incentivo, só cobram as tarefas domésticas, e a escola fica em segundo plano.

Em contrapartida, há pais que até querem se envolver de forma mais eficaz na educação escolar de seus filhos, porém a escola nem sempre promove momentos de interação para melhorar essa relação. Em uma das entrevistas, uma mãe expressou-se quanto à relação família-escola: depende da escola e da família. Algumas famílias se fecham demais e não dão abertura para a escola, como há escolas que não se preocupam com seus alunos.

Num cenário crítico, verifica-se que alguns pais compreendem que, se o filho fracassar, a responsabilidade é da escola, pois ela está preparada para formar o filho em toda a sua plenitude. Na opinião de muitos, basta matricular o filho e deixa-lo sem assistência familiar; espera-se que a escola supra todas as suas necessidades. O sistema educacional está preparado para um determinado fim, mas na realidade está sobrecarregado com tantas funções distintas, as quais não tem como suprir com eficácia da maneira que as famílias esperam.
O que ocorre é um drástico equívoco quando se trata do entendimento do papel de cada um; nesse sentido, pode-se afirmar que “a escola instrui, a família educa” (Zanten, 1996, p. 130).

A relação família-escola precisa ser priorizada e qualificada para que o aluno vivencie os aprendizados de acordo com seus contextos, sejam eles escolar ou familiar. Vale destacar que

pais e professores são inevitavelmente modelos para as crianças. Podem ser bons modelos, moralmente falando, ou péssimos. Em qualquer dos casos, suas ações, seus julgamentos e os valores que se exteriorizam farão parte do modo de ser das crianças (Menin, 1996, p. 99).

Entrevistas realizadas com pais e professoras

Nas entrevistas realizadas com três pais e três professoras da Escola Municipal Professora Aila Saldanha do Couto, foram feitas três perguntas:

  • Na sua opinião, qual é o papel da família?
  • Você acha que existe diálogo da escola com a família?
  • Qual é o papel da escola?

Podemos perceber então que, quanto “ao papel da família na educação da criança”, duas professoras relataram que é fundamental a presença da família na educação da criança, pois sua ausência das obrigações pode acarretar conflitos internos na vida da criança, prejudicando-a no andamento desse processo, e isso refletirá na sua vida adulta. Outra professora entrevistada disse que a família é a base de um indivíduo e o seu papel é construir o caráter e formar valores para que cresça e tenha bom desempenho na sociedade. Nota-se que as respostas das professoras dialogam com os apontamentos de Sampaio:

observamos, pois, que a base se dá na família. É por meio dela que o sujeito se estrutura, cria vínculos afetivos, inicia seu desenvolvimento cognitivo e emocional (Sampaio, 2009, p. 76).

Quando feita a mesma pergunta aos pais, notou-se que eles também acreditam que a família é a base para a formação do indivíduo, e participar da trajetória educacional da vida do filho é primordial para a sua vida em sociedade; para superar as dificuldades vivenciadas nesse processo, a família deve buscar junto à escola a parceria para aprimorar esse desenvolvimento.

Ao perguntar “se existe um diálogo da escola com a família”, a primeira professora destacou o seguinte: “Sim. Isso é conquistado e depende de a escola criar situações apropriadas para tal”. As outras duas professoras relataram que o diálogo é possível e sempre que a escola promove encontros abordando temas diversos as famílias se esforçam para comparecer e participar dos eventos escolares, trazendo humanização para esse diálogo.

Os pais enfatizaram que o sucesso desse diálogo depende da aproximação e do compromisso das duas instituições em prolongar esse hábito com o intuito de promover uma evolução significativa na formação do aluno.

Finalizamos a entrevista perguntando: “qual é o papel da escola?”. A primeira professora disse que formar a criança e torná-la um adulto que seja transformador e possua opinião própria deve ser a prioridade da escola. As outras professoras pontuaram que a escola precisa formar o aluno com conteúdo que o leve a se inserir na sociedade e que deve continuamente contribuir para fortalecer a relação da família com a escola.

Considerações finais

Nesse contexto tão desafiador que é a rotina escolar, notamos que a relação família-escola caminha de acordo com as responsabilidades exercidas por cada instituição e que a ligação e o estreitamento dessa relação promovem a humanização desse envolvimento, que ocorre com base no diálogo mútuo e no cumprimento de seus distintos papéis.

Conflitos existem, porém percebemos no decorrer do trabalho que essa relação é possível, pois ambas as instituições possuem um objetivo em comum: formar o indivíduo em sua plenitude, tendo seu desenvolvimento físico, intelectual, emocional e social formado, tornando-se capaz de pensar e exercer suas ações sociais de forma autônoma. Dentro desse processo, identificamos que a parceria da família com a escola ocorre com base no diálogo e nas ações que aproximam as duas instituições. Essa aproximação é efetuada quando a escola abre suas portas com reuniões e projetos que garantam a permanência da família dentro da escola, onde ocorre um diálogo mútuo e benefícios ao desenvolvimento do aluno.

O diálogo se torna possível e progressivo com a aproximação dessa relação, com níveis e qualidade diferenciados, com avanços; no entanto, nenhum avanço, por menor que seja, na comunicação família-escola pode ser desprezado, pois com certeza vai surtir efeito quantitativo e qualitativo no processo ensino-aprendizagem, no qual todos saem ganhando, principalmente o aluno.

Ao visualizar a rotina escolar dessa relação, percebeu-se que adotar atividades direcionadas, conversas individuais e projetos são ações que ajudam a inserir a família na escola, e, com isso, conscientizá-la da sua participação na educação da criança. Nesses momentos podem ocorrer trocas de experiência, dúvidas são sanadas e sugestões surgem como uma ponte para solucionar situações-problema do cotidiano escolar.

É interessante frisar que, com a conclusão do trabalho, identificamos que a finalidade de todo o processo educacional não é somente envolver e propor uma aliança dos pais com a escola, muito menos obrigá-los a concordar sem questionar todas as regras, mas sim trazer mobilidade para essa relação, com trocas e negociações que sejam proveitosas e satisfatórias para ambos os lados e, imprescindivelmente, que facilitem o sucesso escolar do educando. Compreende-se, portanto, que esforços para que essa relação tenha sucesso fazem com que o aluno seja formado intelectual, emocional e moralmente (entre outras características que formam o indivíduo em sua integralidade); desse modo, ele tem a sua inserção como cidadão na sociedade, dotado de ideias e habilidades formais, além dos valores inseridos no seu desenvolvimento até chegar à idade adulta, com vida social e pública.

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Publicado em 08 de dezembro de 2015

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