Educando para a virtualidade: a favor de uma licenciatura inclusiva da Educação on-line (EOL) na formação de professores

Francisco José Figueiredo Coelho

Licenciado em Ciências Biológicas (FFP/UERJ), mestre em Tecnologia Educacional nas Ciências da Saúde (NUTES/UFRJ) e doutorando em Educação (UNINI/México), professor da educação básica e superior e tutor da disciplina Docência on-line do Programa de Qualificação em Tutoria da Fundação Cecierj

Introdução

O aluno do curso de licenciatura pode desenvolver várias funções ao concluir sua graduação. Comumente, uma delas é o magistério, tanto de Ensino Fundamental como de Ensino Médio ou Técnico, podendo lecionar diferentes disciplinas relacionadas com sua formação. Necessita, para tanto, de formação pedagógica articulada a uma formação técnica em seu campo de estudo, seja nas ciências, na literatura ou nas artes. Mesmo com sólida formação, não é novidade que os alunos, ao saírem da universidade, se encontram receosos e despreparados para atuar como docentes na Educação Básica. E se isso acontece com o ensino presencial, o que pensar da Educação a Distância (EaD), se atentarmos para o fato de que poucos cursos de formação de professores oferecem espaços de discussão e preparação para a modalidade? Será que os licenciandos conhecem a dinâmica do ensino não presencial? Estarão eles e os docentes universitários preparados para uma Educação virtual, a partir dos ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs)? Será que os cursos de formação de professores reconhecem a Educação on-line (EOL) como uma modalidade formativa relevante para os futuros professores? São estas as questões norteadoras deste artigo. A partir delas, serão discutidas novas perspectivas para a formação docente nos cursos de licenciatura, levando em conta a preparação do aluno para a docência on-line.

Dialogando com diferentes definições sobre Educação a Distância (EaD)

Partindo da ideia de que a formação em licenciatura é essencialmente projetada para o magistério, não se deve esquecer que o futuro professor pode também atuar na EaD, sobretudo na Educação on-line, conhecida também por Educação via web. Cada vez mais docentes se aventuram a aprender a ensinar nesta modalidade. Portas se abrem para um mercado não presencial de ensino, especialmente no ensino superior. A EaD on-line se revela uma modalidade promissora, não sendo mais exclusiva como opção formativa. À medida que as novas tecnologias da informação e comunicação (TICs) evoluem, trazem consigo diferentes possibilidades de aprendizagem a distância; uma prova disso é a Educação on-line (COELHO, 2014).

Para Michael Moore (1973), a EaD pode ser definida como a família de métodos instrucionais nos quais os comportamentos de ensino são executados em separado dos comportamentos de aprendizagem, incluindo aqueles que, numa situação presencial, seriam desempenhados na presença do aprendente (termo usado pelo autor), de modo que a comunicação entre o professor e ele deve ser facilitada por dispositivos impressos, eletrônicos, mecânicos e outros.

Segundo Börje Holmberg (1977), o termo EaD cobre várias formas de estudo em todos os níveis que não estão sob a supervisão contínua e imediata de tutores presentes com seus alunos em salas de aula ou nos mesmos lugares, mas que, não obstante, se beneficiam do planejamento, da orientação e do ensino oferecidos por uma organização tutorial.

Complementando as definições acima e apoiando-se em Harasin (1990), Coelho (2014) enfatiza a EaD como uma modalidade promissora, mas, ao mesmo tempo, delicada, por sua flexibilidade de espaço-tempo, o que a distingue essencialmente do ensino presencial. Para esse autor, a EaD, sobretudo a EOL, flexibiliza o tempo e o local da aprendizagem, mas são necessários, para seu sucesso, organização do tempo e planejamento do que se faz ou será feito com os estudos (COELHO, 2014). E essa visão corrobora a defesa deste artigo, o que já revela um perfil de aluno EaD diferente do aluno presencial. E o aluno do curso de licenciatura precisa compreender essa diferença, visto que o que está em questão é a formação do professor, presencial ou a distância.

O conceito oficial de Educação a Distância no Brasil é dado no Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Em seu Art. 1º, descreve a EaD como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos (BRASIL, 2005). Assim, não é irrelevante a preocupação com a docência on-line na formação de professores, considerando que os cursos virtuais vêm crescendo em progressão significativa no Brasil e no mundo.

Da Silva e Mercado (2010) caracterizam a EaD como uma modalidade de ensino de múltiplas possibilidades de aprendizagem. Lembram que, no contexto atual, a Educação on-line é um tipo de EaD que se desenvolve principalmente em ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), na internet. Para os autores, a Educação on-line possibilita ao aluno responder às perguntas pelo próprio ambiente tecnológico de forma interativa nos fóruns de discussão, nos materiais didáticos, nas atividades ou em outra ferramenta de interação, de forma conjunta. É possível ajudar o estudante a interagir com o conteúdo proposto, buscando motivação e informações adicionais sobre esse conteúdo, lembram os autores. Não se trata apenas de levar a sala de aula para uma perspectiva on-line, mas sim de descobrir, via essas ferramentas, o potencial específico da internet, que derruba barreiras de tempo e espaço e nos coloca diante dos mais novos paradigmas para inovação da Educação on-line no contexto pedagógico (DA SILVA; MERCADO, 2010).

Dados da Abed (2010) revelam que, entre 2000 e 2006, o número de instituições de ensino superior que oferecem graduação on-line no Brasil aumentou mais de 1.000%, levando mais de 2 milhões de brasileiros a utilizar a Educação a Distância como modalidade formativa. A realidade é que a EOL atualmente tem proporcionado aprendizagem ativa, com maior flexibilidade e autonomia, preparando os indivíduos para essa nova sociedade. Não se trata de especulações. Como vimos, a modalidade EaD é crescente. Ela vem permitindo, sobretudo na última década, a formação de inúmeros profissionais, tanto na formação inicial quanto na continuada. E estar a par dessa realidade é importante para o aluno atual de licenciatura que, em breve, se tornará professor.

A Educação on-line (EOL) nos cursos de formação de professores

Na visão de Da Silva e Mercado (2010), a EOL é um tipo de EaD que se desenvolve principalmente em ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) disponíveis na internet. Dessa forma, a Educação on-line possibilita ao aluno responder às perguntas pelo próprio ambiente tecnológico de forma interativa, nos fóruns de discussão, nos materiais didáticos, nas atividades ou em outra ferramenta de interação (DA SILVA; MERCADO, 2010). Juntamente com seus parceiros, lembram os autores, é possível ajudá-los a interagir com o conteúdo proposto, buscando motivação e informações adicionais sobre esse conteúdo. Não se trata apenas de levar a sala de aula para uma perspectiva on-line, e sim descobrir por meio dessas ferramentas o potencial específico da internet, que derruba barreiras de tempo e espaço e coloca diante dos mais novos paradigmas para inovação da EOL no contexto (DA SILVA; MERCADO, 2010).

Para Tapscott (1998), com a expansão da EAD nos meios acadêmicos os professores passam a ter preocupações legítimas sobre o seu papel, à medida que o modelo de aprendizagem muda da transmissão para a interação. Assim, lembra o autor, o importante é compreender que, mudar de uma educação centrada no professor para uma educação centrada no aluno não significa que, de repente, o professor desempenha papel menos importante.

Segundo Tapscott (1998), o professor continua tendo papel crucial e valioso na EAD, pois é figura essencial para criar, estruturar e animar experiências de aprendizagem. Daí surge a necessidade de um trabalho de conscientização, capacitação e formação de docentes para que estejam preparados para atuar nessa modalidade. Isso, segundo ele, evitará que os docentes pensem que estão perdendo seu espaço e sintam que sua profissão está sendo desvalorizada. Na visão do autor, há um campo de trabalho a ser explorado e preenchido por docentes capacitados e interessados em ensinar e aprender por meio da EAD.

No que tange à formação do professor na universidade, não se pode acreditar que todos os futuros docentes atuarão apenas na modalidade presencial em escolas de formação básica. Muitos poderão ser tutores e docentes on-line, podendo atuar na formação técnica, tecnológica e até superior. A Universidade Aberta do Brasil (UAB), a Fundação Cecierj e diferentes instituições privadas de ensino oferecem anualmente editais com vagas para tutores a distância.

Assim, não é ingênua a necessidade de os licenciandos serem preparados já na universidade para exercer esse modelo de docência após sua formação. Nesse caso, atuarão no que chamamos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), como a plataforma Moodle, por exemplo, auxiliando os alunos não pelos contatos presenciais, mas principal ou unicamente pelas interações virtuais a distância.

Para Moran (2003), a EaD é um conceito mais amplo que o de EOL. O autor exemplifica que um curso por correspondência é a distância, mas não é um curso on-line. Esse autor define a EOL como um conjunto de ações de ensino-aprendizagem desenvolvidas via meios telemáticos, como a internet, a videoconferência e a teleconferência. Moran (2003) sustenta que a EOL acontece cada vez que mais em situações bem amplas e distintas, da Educação Infantil aos níveis mais graduados. Na perspectiva do autor, a EOL abrange desde cursos totalmente virtuais, sem contato físico – incluindo os cursos semipresenciais – até os cursos presenciais com atividades complementares fora de sala de aula, pela internet. Então uma questão se instaura: como se sentem os professores recém-formados que desconhecem a dinâmica docente da virtualidade, principalmente aqueles que, durante a licenciatura, nunca participaram de cursos on-line?

O diálogo informal com alunos de Estágio Supervisionado do curso de licenciatura em Biologia da Faculdade de Formação de Professores da UERJ do primeiro e segundo semestres de 2013 revelou que mais de 70% dos licenciandos do curso nunca tiveram qualquer experiência com educação on-line em AVAs. A maioria sequer tinha conhecimento do papel do tutor em EaD e da possibilidade de se tornarem docentes on-line, ministrando sua disciplina de formação em espaços não presenciais. Esses dados alimentam a curiosidade do porquê dessa despreocupação, visto que o mercado virtual é crescente nos dias de hoje e a EOL não é uma especulação. Ela vem redefinindo e transformando os modelos de ensino-aprendizagem. Assim, pode-se entender que, com a introdução da EOL, abriram-se novas perspectivas de que a EaD tradicional não dispunha, permitindo que os benefícios sociais, afetivos e cognitivos de interação e colaboração não ficassem restritos à educação presencial (HARASSIN, 1990).

Nesse sentido, os futuros professores têm a possibilidade e o direito de conhecer, debater e refletir sobre uma modalidade que pode fazer parte de suas vidas profissionais, tendo características peculiares e diferentes do ensino presencial. É importante que o aluno do curso de licenciatura comece, mediante um exercício de reflexão na própria academia, a perceber que existem distintas modalidades formativas; a EaD é uma delas. E, para esse fim, em princípio, não é necessário disciplina específica ou alterações na grade curricular, mas uma mudança de paradigma para a compreensão de que a educação não presencial também começa a nortear a formação acadêmica moderna.

Uma proposta que atende tanto à formação específica do aluno em seu curso de licenciatura quanto aos primeiros passos na compreensão da EaD seria o incentivo acadêmico para que os discentes participassem de cursos de extensão. Essa participação do licenciando em cursos EaD, especialmente aqueles via web, como os oferecidos pela Diretoria de Extensão da Fundação Cecierj, garantiria experiência favorável (embora discente) em que o aluno pode perceber as diferenças essenciais entre as modalidades formativas.

É aconselhável que, desde sua preparação inicial no curso de formação de professores, os licenciandos sejam formados para a diversidade, não apenas para compreender o aluno presencial, como também buscando compreender o aluno que ele possa nunca encontrar presencialmente, dada a flexibilidade espacial-temporal que alguns cursos EaD podem assumir. Dessa forma, garante-se, sem dúvida, uma formação profissional mais sólida e abrangente para a variedade de modalidades educativas.

Considerações finais

Ao finalizarem seus estudos no curso de licenciatura, os alunos tornam-se professores e podem atuar em diferentes níveis de ensino. Podem atuar no Ensino Fundamental, no Ensino Médio, no Profissionalizante, na Educação de Jovens e Adultos etc. No entanto, ainda é notável a despreocupação dos cursos de formação de professores com a formação do professor on-line, ancorada ainda a uma modelo presencial de ensino.

A EOL abrange desde cursos totalmente virtuais até os cursos presenciais com atividades complementares fora de sala de aula, pela internet. Como visto aqui, os números os cursos on-line são crescentes em nossa sociedade e, por isso, surge a necessidade de um trabalho de conscientização, capacitação e formação de docentes para essa forma de ensino, como sinalizado por alguns autores. É necessário que os futuros professores estejam preparados para atuar nessa modalidade, compreendendo os fenômenos de interação e mediação nos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA). Os cursos de formação de professores precisam refletir sobre essa nova tendência educacional, sendo mais sensível a esse novo campo de trabalho, buscando articular uma formação que capacite os licenciandos para ensinar e aprender também por meio da virtualidade.

Referências

ABED - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. Censo EaD.br. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010.

BRASIL. Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, 20 dez. 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5622.htm. Acesso em 25 ago. 2014.

COELHO, F. J. F. Articulando flexibilidade e gestão do tempo de estudos nos cursos on-line. Educação Pública, set. 2014. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/tecnologia/0056.html. Acesso em 12 set. 2014.

DA SILVA, M. L. R.; MERCADO, L. P. L. A interação professor-aluno-tutor na educação. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos, UFSCar, v. 4, nº 2, p. 183-209, nov. 2010. Disponível em http://www.reveduc.ufscar.br. Acesso em 1 set. 2014.

HARASIN, L. On line education: a new domain. In: MASON, R.; KAYE, A. (eds.). Mindweave: Communication, computers and distance, 1990.

HOLMBERG, B. Distance education: a survey and bibliography. New York: Nichols, 1977.

MACHADO, L. D.; MACHADO, E. C. O papel da tutoria em ambientes de EAD. 2004. Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/022-tc-a2.htm. Acesso em 20 ago. 2014.

MOORE, M. On a theory of independent study. In: SEWART, D. et al. (eds.). Distance education: international perspectives. London/New York: Croomhelm/St. Martin´s, 1973.

MORAN, J. M. Avaliação do ensino superior a distância no Brasil. 2007. Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/avaliacao.htm. Acesso em 05 set. 2013.

TAPSCOTT, D. Creciendo en un entorno digital: la generación net. Bogotá: McGraw Hill, 1998.

Publicado em 24 de fevereiro de 2015

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