O blog: uma ferramenta para o trabalho pedagógico com a leitura
Silvio Profirio da Silva
Graduado em Letras (Universo), auxiliar de Desenvolvimento Infantil na Secretaria de Educação da Prefeitura da Cidade do Recife
Albuquerque (2002, 2005) mostra que, nos anos 1980, foi construída uma gama de paradigmas educacionais, os quais ensejam modificações na maneira como a leitura era tida até então, bem como no trabalho pedagógico relativo ao ensino dessa competência linguística. Para a referida autora, tais paradigmas são carreados pela Linguística, pela Pedagogia, pela Psicologia, pela Filosofia e pela Sociologia.
A partir da década de 1980, o ensino da leitura e da escrita centrado no desenvolvimento das referidas habilidades, desenvolvido com o apoio de material pedagógico que priorizava a memorização de sílabas e/ou palavras e/ou frases soltas, passou a ser amplamente criticado. Nesse período, pesquisadores de diferentes campos – Psicologia, História, Sociologia, Pedagogia etc. – tomaram como temática e objeto de estudo a leitura e seu ensino, buscando redefini-los (ALBUQUERQUE, 2005, p. 15).
O fato é que, a partir da proliferação dos postulados desses campos do saber, Leitura e Sentido passam a ser palavras entrelaçadas. Ferreira e Dias (2005) ampliam a discussão sobre o entrelaço entre elas. Para as autoras, a leitura consiste no corolário da relação traçada entre autor, texto e leitor. Ora, o texto traz consigo mensagens carregadas de sentidos que serão descobertos e revelados pelo leitor. Esse ato é concretizado a partir da leitura. Diante dessa perspectiva, “o sentido se constitui na relação dialética entre autor/texto/leitor” (p. 323).
Falar em leitura remete à questão da produção de sentidos constituídos no contexto de interação recíproca entre autor e leitor via texto, os quais se expressam diferentemente, de acordo com a subjetividade do leitor: seus conhecimentos, suas experiências e seus valores. Nesse caso, pode-se dizer que o texto constrói-se a cada leitura, não trazendo em si um sentido preestabelecido pelo seu autor, mas uma demarcação para os sentidos possíveis (FERREIRA; DIAS, 2004, p. 439).
Ainda com relação ao ensino da leitura, Albuquerque (2002) defende um trabalho pedagógico ancorado na perspectiva da diversidade e/ou variedade textual, o que acarreta práticas de reflexão com base nos diversos gêneros textuais. Dizendo de outro modo: a forma como o leitor dá sentido ao texto será subsidiada a partir dos gêneros textuais provenientes do campo social. Entre estes, destacamos, aqui, o blog e/ou weblog.
Araújo e Pinto (2011), em seus postulados, concebem o blog e/ou weblog como um gênero digital marcado pela atualização contínua e pela diversidade textual e temática. Em outras palavras, o blog efetiva a materialização e a difusão de uma ampla quantidade de textos de caráter temático múltiplo e diversificado. Fazem parte desse leque de textos: artigos, cartuns, charges, histórias em quadrinhos, notícias, reportagens, tirinhas etc. Essa diversidade de textos passa por constante atualização.
Essa perspectiva é corroborada por Hanke Angeli (2012), que, em suas postulações, conceitua blog como plataforma virtual que materializa a disseminação de múltiplos e diversificados textos, isto é, um ambiente virtual de onde provém uma gama de realizações comunicativas exteriorizadas por intermédio de construções textuais (leia-se textos). Entretanto, o fato que gostaríamos de destacar aqui diz respeito ao fato de o blog suscitar modificações no ato de ler em função do formato hipertextual, como aponta Silva (2014a, 2014b).
No dizer de Komesu (2005), hoje, a temática do hipertexto é colocada em evidência por vários campos do saber, como Filosofia, Linguística, Pedagogia, Teoria da Literatura etc. Entre eles, uma vasta quantidade de estudiosos coloca em debate os subsídios do hipertexto para o desenvolvimento de práticas de leitura e escrita. Essa autora conceitua o hipertexto como construto documental que tem sua constituição marcada pelos links. Estes carreiam uma nova perspectiva de leitura marcada pela não linearidade, não hierarquização e não sequenciação. Os links presentes na estruturação do hipertexto efetivam o passadiço do leitor para outros construtos textuais (leia-se textos), concedendo também ao leitor a atribuição e o papel de decidir a forma como irá construir/atribuir sentido face ao texto. Ora, em virtude do formato hipertextual, o leitor poderá escolher a sequência do processo de leitura.
Dantas e Gomes (2008) abordam as alterações e as modificações no ato de ler em virtude dos subsídios didáticos do blog e/ ou weblog. Na visão dos autores, hoje, o blog tem propiciado a formação de leitores. No entanto, a partir do blog, a leitura adquire novas caracterizações, transcendendo assim a perspectiva tradicional de leitura ancorada na decodificação e no apoio didático de materiais impressos.
A contemporaneidade tem como marca a multiplicidade e a pluralidade de formas da linguagem. Os diversificados registros da linguagem – escrita, oral, multimodal e imagética/visual – ensejam novas práticas de leitura e de escrita para o sujeito imerso na sociedade marcada pela disseminação dos artefatos da tecnologia (SOARES, 2010). Isso traz para o campo escolar não só novos recursos didáticos, mas, acima de tudo, novas formas de ler. Entre os novos recursos didáticos pautados na tecnologia da informação e comunicação (TICs), está o blog.
Nesse sentido, entendemos que o blog pode acarretar diversos subsídios para a promoção de novas práticas de leitura. Dizendo de outra maneira: o blog traz consigo diversos recursos eletrônicos e características organizacionais que viabilizam a promoção de novas formas de ler. Todas as particularidades e especificidades materializadas pelo blog consistem em elementos de fundamental importância para a promoção de novas práticas de leitura.
Referências
ALBUQUERQUE, E. B. C. Apropriações de propostas oficiais de ensino de leitura por professores: o caso do Recife. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFMG. 2002. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/IOMS-5JXGR3. Acesso em 15 out. 2014.
______. Conceituando alfabetização e letramento. In: SANTOS, C. F.; MENDONÇA, M. (org.). Alfabetização e letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
ARAUJO, A. C. P.; PINTO, W. N. L. O gênero blog e sua utilização no processo ensino-aprendizagem da língua materna. Anais do III Seminário de Pesquisa Linguagem e Identidades: múltiplos olhares. Universidade Federal do Maranhão. São Luís, 2011. Disponível em: http://www.linguagemidentidades.ufma.br/publicacoes/pdf/4O%20GENERO%20BLOG%20E%20SUA%20UTILIZACAO%20NO%20PROCESSO%20ENSINO.pdf. Acesso em 19 out. 2014.
DANTAS, D.; GOMES, A. L. Questões de letramento e gêneros do discurso em blogs. Revista Gatilho, v. 7, p. 4, 2008. Disponível em: http://www.ufjf.br/revistagatilho/files/2009/12/ARTIGO1.-Questes-de-letramento.pdf. Acesso em 23 out. 2014.
FERREIRA, S. P. A.; DIAS, M. G. B. B. Leitor e leituras: considerações sobre gêneros textuais e construção de sentidos. Revista Psicologia: reflexão e crítica, v. 18, nº 3, p. 323-329, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/prc/v18n3/a05v18n3. Acesso em 16 out. 2014.
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HANKE ANGELI, G. Blog: um estudo sob a luz do conceito de gêneros textuais. Revista da Graduação, v. 5, nº 1, 2012. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/graduacao/article/view/11421/7773. Acesso em 18 out. 2014.
KOMESU, F. O autor e o leitor no hipertexto. Anais do LII Seminário do Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo, Campinas, 2005. Disponível em: http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-estudos-2005/4publica-estudos-2005-pdfs/o-autor-e-ooleitor-407.pdf. Acesso em 20 out. 2014.
SILVA, S. P. A notícia na web: um olhar sobre seus elementos textual-discursivos. Revista Temática, nº 10, p. 177-201, 2014a. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/tematica/article/view/21207/11704. Acesso em 24 dez. 2014.
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SOARES, M. A importância da leitura no mundo contemporâneo. Revista Ozarfaxinars, Matosinhos, nº 16, 2010. Disponível em: http://www.cfaematosinhos.eu/A%20importancia%20da%20leitura_.pdf. Acesso em 17 out. 2014.
Publicado em 24 de fevereiro de 2015
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