Como administrar as finanças dos filhos

Mariana Cruz

À medida que os filhos vão crescendo, surge uma dúvida para muitos pais: dar ou não dar mesada? Pais e especialistas parecem concordar que a mesada pode ser um instrumento eficaz de educação financeira. O que precisa ser esclarecido, porém, é que não é o dinheiro em si que será o responsável por educar à criança; ele deve servir de meio para ela saber controlar seus impulsos de consumo ou mesmo dar vazão a eles sabendo que vai arcar com as consequências depois. Assim a criança irá aprender a planejar como gastar seu dinheiro e a dar valor àquilo que comprou com seu próprio dinheiro e pesquisar o preço e a qualidade das coisas.

A produtora Tati Barki dá mesada para seu filho Pedro, 9 anos, desde que ele tinha 7. Ela vê tal prática como algo educativo: “a partir do momento em que ele recebe alguma coisa que é dele, ele passa a ter noção do valor do dinheiro. Com  R$ 4,00 eu compro uma revistinha, mas com R$ 10,00, que seria o valor de duas revistinhas, eu posso comprar um livro que é muito maior e com que eu me divirto muito mais tempo. Então eles começam a ter essa noção de comparar o valor das coisas. Outra coisa que eu acho muito importante é ter a frustração de, de repente, pegar esses R$ 10,00 que ele recebe na semana, gastar tudo em bala em cinco minutos na saída da escola e pouco tempo depois ver a oportunidade de comprar alguma coisa muito bacana por esse valor e não ter mais o dinheiro; a oportunidade passou. Eu acho que, com isso, a criança vai aprendendo a poupar, economizar, saber a hora de gastar. Isso é de pequeno que se aprende”.

O educador financeiro Álvaro Modernell explica, nesta matéria feita para a Uol, que até aprender a lidar com a mesada a criança precisa “juntar duas ou três mesadas para atingir o objetivo. Gastar toda a mesada no começo e ficar sem dinheiro. Aprender a valorizar a mesada pedindo descontos, comparando preços”. Ele sugere ainda onde se deve ou não gastar a mesada: “não deve ser usada para comprar o lanche da escola, especialmente quando a criança ainda é pequena. Por quê? Para não correr o risco de a criança tomar a decisão de trocar o lanche pelo dinheiro". É justamente o que faz Ana Clara, 12 anos, que, apesar de não receber uma mesada fixa, ganha da mãe, a socióloga Janete Krueger, o dinheiro do lanche da escola: “ela acaba não comendo o lanche, leva biscoitos de casa, arranja jeitinhos de ir burlando isso e não gastando o dinheiro”.

O comportamento de Ana Clara é bem diferente do de seu irmão Bernardo, 8 anos; este, quando recebe a mesada esporádica do pai, acaba gastando tudo na mesma hora. Assim, outra dificuldade que Janete vê, por ser mãe de três filhos, é como lidar com essa questão da mesada se os filhos têm uma relação diferente com o dinheiro: “quando a gente sai com os três, se aquele não administrou direito o seu dinheiro ele vai fazer o quê? Vai deixar de ir ao cinema com a gente? Não vai. Eu vou deixar de dar o lanche para ele? Não vou. Aí eu vou gastar duas vezes, porque ele torrou o dinheiro. Talvez se tivesse um filho só fosse mais fácil, mais educativo, mas, por enquanto, à medida que eles ainda não têm essa autonomia de estarem fazendo atividades sozinhos, eu acabo preferindo administrar o dinheiro. Acho que para a economia da família é melhor. Mas aqui não tem livre demanda não. Tem o limite do bolso da família e o do bom senso".

Assim como Ana Clara, Pedro também não gasta nada da mesada dele, diz sua mãe, Tati: "é muito raro ele gastar alguma coisa; ele vai juntando, vai colocando no cofrinho, aí de repente quando a gente vê tem R$ 100. Aí a gente vai ao banco e deposita. Então ele já tem conta bancária, já tem cartão do banco, claro que quem administra sou eu: vou ao banco com ele, eu deposito com ele e ele participa de tudo. No caso, ele não gasta, mas se ele gastasse tudo e me pedisse mais eu não daria, porque é justamente o momento em que ele vai aprender; quando ele deixa de ter, ele dá valor".

Quando se trata de filhos adolescentes, alguns ajustes devem ser feitos. De acordo com Modernell, os desejos se modificam e os pais devem saber diferenciar entre os gastos de uma criança e os de um adolescente: "na infância, a mesada também não deve contemplar roupas, sapatos, muito menos atividades extras como futebol, natação, inglês. Na adolescência é diferente. Se o adolescente quer comprar roupas de grife, ele pode usar o dinheiro da mesada".

Alan Alencar, pai de Agatha, de 16 anos, apesar de dar mesada, percebe que algumas vezes ela tem necessidade de um dinheiro extra, mas sempre pondera: "eu dou uma mesada fixa para ela, eu acho que isso é importante para ela ter controle, saber o valor das coisas, para ela saber fazer as economias dela, poder juntar e conseguir comprar o que quiser. Mas sempre há extras; por exemplo, ela vai viajar para a casa de uma amiga, aí precisa de um dinheiro extra porque aquele dinheiro da mesada não é o suficiente para ela se manter, tem passagem, essas coisas. Às vezes ela vem pedir para mim e eu avalio para ver se é possível ou não, porque se for para coisas que eu considero mais superficiais, como uma festa paga, aí eu falo para ela economizar; se for para comprar uma roupa, eu avalio a necessidade, vejo se ela está precisando mesmo. Se estiver, tudo bem, eu inteiro dentro das minhas possibilidades".

A adolescente Nathália Pedretti, 16 anos, não recebe mesada; seus pais dão dinheiro de acordo com suas necessidades, mas nem por isso consegue tudo que quer:  "meus pais nunca me deram mesada, eu sempre pedi dinheiro para sair, para comprar as coisas, aí eles davam; quando eles não podiam, eles falavam e eu entendia”. Apesar de não ganhar mesada, Nathália vê tal prática com bons olhos: “eu acho que quem ganha mesada se controla um pouco mais porque tem o mês inteiro para administrar aquele dinheiro. Muitos amigos meus deixam de sair todo final de semana porque não têm dinheiro, porque já gastaram a mesada e não podem comprar isso ou aquilo. Eu acho que é importante, sim, mas na minha experiência meu pai sempre me deu as coisas. Depois ele me deu um cartão, então o que eu quiser comprar eu ligo para ele, peço permissão e uso o cartão".

Outro fator para o qual Álvaro Modernell chama a atenção dos pais é fazê-los não tentar usar a mesada como barganha para que o filho faça tarefas cotidianas como estudar, fazer deveres, arrumar o quarto etc. Isso não deve ser usado como moeda de troca; os filhos devem fazer tais coisas por uma questão de responsabilidade, e não porque irá receber um "pagamento", uma recompensa por isso.

Mesmo a prática de dar mesada não sendo unanimidade entre os pais, a preocupação em relação à maneira como o filho vai gastar o dinheiro é constante em ambos os grupos. Há que se ponderar os gastos, seja delegando a responsabilidade para o filho, seja tomando para si o controle das finanças. Sem essa orientação não há bolso que agüente; afinal, como já disse Paulinho da Viola, “dinheiro na mão é vendaval”.

Publicado em 10 de março de 2015

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