Disputa Rio X São Paulo pela água
Ivandir Ferreira Araújo
Biólogo (Unimonte)
Há muito tempo vejo as pessoas falarem que era preciso cuidar do meio ambiente; desde adolescente ouço coisas do tipo “devemos preservar as nossas florestas”; pois bem, já não sou mais adolescente e continuo a ouvir as mesmas coisas; agora vejo em revistas e jornais termos frequentes como sustentabilidade, florestabilidade e outras palavras gostosas de pronunciar.
Mas o que mudou de verdade desde a minha adolescência e a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente de Estocolmo em 1972, ou mesmo depois da Rio-92? Os acordos estão sendo firmados, mas a impressão que tenho é que as coisas não mudam com a velocidade de que o planeta necessita, os maiores poluidores do planeta só agora estão acenando para diminuir os efeitos das suas contribuições gigantescas de CO2 e outros gases para a atmosfera. Estamos em 2015, e o que temos são acenos de boa vontade para a diminuição dos gases do efeito estufa; quando vejo os moradores de algumas cidades chinesas usando máscaras de proteção respiratória, fico com pena deles e de nós próprios, porque esses gases não têm fronteiras e, apesar de parecer um problema distante, dá para ter uma ideia de aonde podemos chegar se não tomarmos medidas emergenciais para que as gerações futuras tenham um planeta no mínimo idêntico ao que nós tínhamos 50 ou 100 anos atrás.
Não precisamos ir muito longe para ver problemas absurdos: aqui mesmo na América do sul, a maior floresta tropical úmida, a Floresta Amazônica, está sendo destruída aos poucos pela ganância da indústria madeireira e pela inoperância das autoridades governamentais em protegê-las. Temos no país leis que asseguram que a floresta fique em pé, mas falta um projeto audacioso e comprometedor com as necessidades de assegurar que a floresta não sirva de banquete para os madeireiros, mineradores, garimpeiros e criadores de gado.
Não vou ser injusto de negar que existem esforços para combater esse mal, mas estão muito aquém das necessidades do bioma amazônico. O que vejo são notícias do tipo: “encontrado na Amazônia um desmatamento do tamanho de 40 campos de futebol” ou “em fotos de satélite foi constatada uma diminuição nos números de desmatamento na Amazônia em comparação com o ano anterior”. Ora bolas, não quero que diminua e sim que ele acabe e que comece um trabalho de reflorestamento do local, ou que se deixe que a floresta por si só faça isso.
Fiz a citação da floresta para entrar num assunto que por si só já seria mais do que suficiente para acabar com a sangria da Amazônia: a falta de água que está acontecendo, principalmente na região Sudeste do país; já foi provado que a floresta tem papel importantíssimo no regime de chuvas no Sudeste. Sem a floresta, a chuva vai se tornar mais escassa; consequentemente, a seca vai aumentar, colocando em cheque o funcionamento da maior cidade da América do Sul. Veja bem, esse problema não é exclusivo do Estado de São Paulo, como citei no começo do texto; para o meio ambiente não existem fronteiras; portanto, essa situação vai chegar logo ao vizinho Rio de Janeiro, e aí pode começar o que já existe em alguns continentes: as desavenças por causa da partilha da água. Como o assunto desta crônica é água, gostaria de comunicar – se preferir, enfatizar ou mesmo apenas mostrar – aos nossos ilustres governistas que o problema da água no Brasil não é problema de um estado, de uma cidade ou mesmo de um grupo delas; é um problema nacional, e não é uma meia dúzia de burocratas que tem capacidade de gerenciar um problema de tão alta complexidade que é a falta de água. Eles deveriam pelo menos parar de tratar as coisas como se fosse política e começar a tratá-las como sobrevivência nacional, sem ranço com aquele político de determinada legenda partidária. Vamos amadurecer e levar a sério o assunto meio ambiente, que deve ser trabalhado já nos primeiros dias na iniciação escolar.
Gostaria que os nossas crianças pronunciassem as palavras sustentabilidade e florestabilidade enchendo a boca de orgulho de ser brasileiro, e não com a indignação de nos julgarmos incompetentes para cuidar de nossas florestas e do meio ambiente como um todo.
Publicado em 10 de março de 2015
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