O dever do dever
Mariana Cruz
O ano letivo nem bem começou e já escuto o filho de uns amigos, do alto dos seus sete anos, queixar-se do grande volume de dever de casa que tem que fazer diariamente. Além disso, reclama que não tem mais a hora do "desenho livre". A mãe, que inicialmente parecia que iria repreender o menino pela reclamação, fez uma pausa e se deu conta que ele tinha lá sua razão. "É verdade! Ele gasta a tarde inteira envolvido com os deveres". Surpreendeu-se também com o fato de terem abolido o tempo de desenho livre. Isso a deixou ainda mais penalizada, uma vez que o menino é um exímio desenhista. Ela observou que nem em casa ele está conseguindo mais desenhar, já que as tarefas escolares não deixam sobrar tempo para tal diletantismo.
Tal cena me remeteu aos meus tempos de colégio. Lembrei-me de que também me sentia assoberbada pelo excesso de deveres. Tinha a impressão de que passava as tardes fazendo as infindáveis tarefas, entre as quais algumas pesquisas que demandavam um tempo enorme, pois naquela época tínhamos que procurar em livros, enciclopédias (não existia o Google) e, às vezes, ir a alguma biblioteca para pesquisar. Mas ainda assim sobrava o precioso tempo de não fazer nada (por "nada" entenda-se "desenhar", "brincar", ou seja, "tudo"), porque afinal não havia tantos estímulos para ocupar os intervalos de ócio (como os atuais e onipresentes celulares, tablets, as centenas de canais infantis na TV) nem se gastavam tantas horas no trânsito para se deslocar.
O lado bom é que quando me tornei adulta não estranhei o fato de levar tarefas para fazer em casa. Sorte minha, porque tal função é algo inerente à minha profissão de docente. Toda semana são muitas funções que temos que fazer em casa: preparar aulas, corrigir trabalhos, redações, provas, lançar notas, preparar textos... Nem por isso posso dizer que acho agradável levar esse monte de “deveres” para casa.
Mas o que dizer das escolas que enchem os pequenos de deveres? E daquelas que não mandam absolutamente nada para casa?
Especialistas afirmam que a lição de casa faz com que o conteúdo aprendido durante a aula seja sistematizado; estimula o aluno a resolver sozinho determinados exercícios e é uma boa maneira de o docente ver onde está a dificuldade do estudante (pois, diferentemente dos exercícios feitos em sala, ele não conta com a ajuda dos colegas nem com a correção do professor feita na lousa). O dever de casa pode garantir certa autonomia ao aluno e pode ser uma forma de os pais se inteirarem sobre o que o filho está aprendendo na escola, levando-os até mesmo a ter participação mais ativa na vida dele ao auxiliá-lo quando solicitado.
Por outro lado, aquelas escolas que optam por não mandar deveres para casa também têm suas vantagens. O estudante pode ter tempo para fazer outras atividades, descansar, voltar renovado para a aula no dia seguinte. Afinal, é de amplo conhecimento a eficácia de um intervalo entre os estudos até para a matéria ser mais bem absorvida.
E você, o que pensa sobre o dever do dever?
Publicado em 07 de abril de 2015
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