Escrever sobre a História da Filosofia não é fácil
Fábio Souza Lima
Graduado em História (UFF) e em Filosofia (UFRJ), mestre e doutorando em Educação (UFRJ)
Em primeiro lugar é necessário realmente se definir entre um campo epistemológico ou outro. Não se trata de dizer que a filosofia engloba a história como pensamento ou que o contrário ocorre por uma sucessão de eventos que trouxeram o homem da época da invenção da escrita até os anos de exploração espacial. Trata-se, por outro lado, de ressaltar que cada um dos dois campos de estudo tem peculiaridades, paradigmas e formações processuais específicas.
Trabalhar com história significa escolher entre uma série de modelos de análise científica, bem como a imposição de ter que lidar com marcos cronológicos estabelecidos. Ou ainda, mais pretensiosamente, como alguns autores da Pós-Modernidade parecem apontar, ignorar tais marcos e escrever como se uma ideia pudesse estar desconexa do tempo, solta dentro da existência humana. O problema passa a ser então a interpretação da história desprendida de significados e eventos decorrentes de seus efeitos, verificados na prática, no dia a dia.
Em contraposição, considerar escrever sobre Filosofia, a meu ver, não significa ensinar Filosofia. Isso porque não acredito na possibilidade de conseguir ensinar um indivíduo a pensar. Cada ser humano nasce com sua capacidade de discernimento e competência para a construção do próprio futuro. Cabe aos educadores apenas mostrar as portas, desvelar os caminhos e torcer para que o outro faça a melhor escolha para si mesmo. Assim, considero que aqueles que melhor fazem ao ensinar filosofia o fazem por meio da História da Filosofia.
Neste caso, o livro A história da filosofia – da Grécia Antiga aos tempos modernos, de Anne Rooney, comete um equívoco ao colocar na capa, em destaque, “História da Filosofia”, mas organizar o livro escolhendo alguns temas como “como formamos uma boa sociedade?” e preterindo outros como “quais são e o que pensam as escolas filosóficas gregas?”. Talvez tal problema se apresente diante da formação da autora, que é doutora em literatura. Todavia, essa parece ser mais uma questão de erro no processo de fechamento do texto, marketing e venda do livro do que no processo de escrita.
Há de se ressaltar, entretanto, que a tradução ficou prazerosa ao público que se inicia no estudo filosófico, ocorrendo, porém, algumas ressalvas. A autora usa termos em subtítulos como, por exemplo, “penso, logo ele existe” em um momento no qual se pergunta sobre a existência de Deus, mas no desenvolvimento do tópico não lemos sobre a teoria de René Descartes, o “cogito, ergo sum” (penso, logo existo). Esse jogo de palavras pode confundir um leitor incauto.
O texto vem acompanhado de ilustrações escalonadas em cinza, e a sua diagramação lembra a de um livro didático de Ensino Médio, porém, sem a organização necessária que estabeleceria o passo a passo da construção de uma filosofia, isto é, de uma correlação de ideias constituídas em uma teoria.
Embora acreditemos na obra de Anne Rooney como um interessante texto de introdução a alguns temas filosóficos, percebemos ser difícil usar o livro como peça didática. Segundo pesquisamos, seus exemplares podem chegar a R$ 79, o que o torna caro para o público neófito no assunto e uma compra impossível para professores brasileiros, uma vez que eles recebem livros com esse conteúdo gratuitamente via diversas editoras. Além disso, esse é o preço de livros assinados por intelectuais da área sobre assuntos específicos dentro da Filosofia, o que parece ser mais o perfil de escolha dos que têm formação superior na área.
Assim, sua compra seria difícil para os docentes, uma vez que o recurso é escasso e estes já têm acesso ao conteúdo didático por outros meios. Dificilmente um professor poderia indicar tal livro a um aluno, pois os dois não poderiam comprá-lo por motivos diferentes, que no fundo principiariam na questão do preço. Talvez o livro se torne um pouco mais aproximado da realidade brasileira se fornecido em outro formato, como o de bolso, com menos ilustrações, tornando-se, dessa forma, mais barato.
Publicado em 12 de maio de 2015
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